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"Ano novo, vida nova" - dizem por aí.
Talvez eu tenha levado isso demasiado a peito. Ainda Janeiro começou e já estou com os pés na mudança. Deixo a cidade que me recebeu e acolheu nos últimos 10 meses. Deixo o meu local de trabalho, por minha decisão, exactamente um ano depois de ter começado o curso que fez de mim um comissário de bordo.
E deixo tanto mais para trás.
Há uma canção italiana que ouço frequentemente e que, traduzida, diz assim: "Leva-me daqui, se houver um muro demasiado alto para ver o meu amanhã".
E é isso. Mais do que um "ano novo, vida nova", é isso. Não acredito que o calendário nos imponha alguma obrigação de mudar, mesmo que subtilmente, acredito sim que quando sentimos que um lugar ou uma ocupação já nos deram tudo o que podiam dar, quando o tal muro é demasiado alto para nos deixar ver um futuro, aí sim, tenho a certeza de que uma Força dentro de nós faz com que se procure recomeçar.
Há quem diga que só estou bem assim. A mudar. E é verdade que nos últimos 4 anos tenho experimentado muito. E com muito orgulho. Tenho aprendido mais do que às vezes queria, é verdade, pois às vezes até sabe bem aquela confiança de já conhecer tudo e todos no lugar onde se está, mas no meio disso tudo tenho sido exposto a situações completamente novas e desafiantes.
Lembram-se de 2017? Passei o Verão a trabalhar na Sardenha em Itália. E a expressão "parece que foi ontem" tem muito peso de cada vez que ainda hoje dou por mim a reviver intensamente momentos fortes desse Verão exaustivo. Só que daqui a pouco já lá vão 2 anos e parece que ainda nem tive tempo de me sentar para resolver esses conflitos de uma vez por todas.
É como se, com o que acontece agora, estivesse sempre num certo modo de comparação em que pensamentos por vezes inofensivos se transformam em verdadeiras lições diárias.
E é claro que sinto saudades disso. Matava-me a trabalhar, sim, mas sinto falta de ser feliz assim. Tal como sinto falta de ajudar as crianças que fizeram parte do meu Projecto de Voluntariado Europeu em 2015/2016. E tal como provavelmente daqui a uns meses sentirei falta do que estou a deixar agora.
Talvez sentir falta de alguma coisa que me fez feliz por momentos, ainda que por breve momentos, seja exactamente o que procuro.
Como diz outra canção italiana que aqui deixo, é mais ou menos isto:
"La città è piena di fontane
Ma non sparisce mai la sete
Sarà la distrazione
Sarà, sarà, sarà
Che ho sempre il Sahara in bocca"