quarta-feira, 5 de abril de 2017

7 coisas de que NÃO GOSTEI em Itália



Já toda a gente sabe que amei Itália de uma forma muito especial, tal como já mostrei muitas vezes noutros post. Mas não há amores perfeitos e chegou a altura de falar de algumas coisas que me fizeram arrabbiare (ou ficar de nervos em franja)  durante os 10 meses que lá vivi no meu projecto do Serviço Voluntário Europeu. 

Uma vez que estou tão perto de regressar àquele que considero já ser o meu segundo país, nada melhor do que olhar para estes pontos e preparar-me para (pacificamente) viver diariamente com eles... outra vez! :D



1 - O trânsito. Há preconceitos e estereótipos que por muito que se queiram negar estão sempre lá para nos lembrarem que, sim, há uma razão para a sua existência. Em cidades grandes, como Roma, é o caos! Mas caótico mesmo, ao ponto de não seres religioso e ainda assim rezares pela vida de cada vez que vais atravessar a estrada... na passadeira! Os carros muitas vezes não param no vermelho, muitos infringem outros sinais de proibido, as tradicionais vespas conduzem por todo o lado a grande velocidade (e se aplicares isto à cidade de Nápoles prepara-te para rir muito enquanto tentas sobreviver, desviando-te dos velocistas que passam a fundo!). Cristo Santo! Madonna!!

2 - Ritardo (o atraso). Outro estereótipo que se confirma, o de que os transportes públicos estão sempre em atraso. Foram raros os comboios que apanhei que não estivessem em atraso! Por vezes eram 10 minutos di ritardo, por vezes 30, por vezes horas! De início achei que era só má sorte minha mas depois com o tempo fui percebendo que era absolutamente normal, ao ponto de num dia estar atrasado para o comboio e ir super tranquilo a caminho da estação porque já sabia que mesmo assim ainda chegaria a tempo. Cheguei 10 minutos depois da hora de partida e ainda tive que esperar mais 15. Mamma mia!!




3 - Cinema. Não o cinema italiano em si. Amo os filmes italianos, sempre gostei, mas depois de lá estar aprendi a apreciá-los ainda de outra forma. Refiro-me neste caso ao cinema estrangeiro em que todos os filmes - TODOS OS FILMES - são dobrados para a língua italiana. Todos sabemos como é linda esta língua, mas ver Os Guardiões da Galáxia falarem em italiano é pedir-me demais. E vi vários filmes assim, desde clássicos do Scorcese aos blockbusters mais recentes. Mas não, não conseguia sequer levar os filmes a sério. Coloquei ali como exemplo o trailer do La La Land dobrado em italiano. Carrega lá no play! Nada se aproxima da versão original, seja em que filme for. Para alguém que ama ir ao cinema, como eu, isto foi uma tortura porque não conseguia sequer pagar para ver isso! E a verdade é que as únicas vezes em que fui mesmo a uma sala de cinema foi para ver os belos filmes italianos, não filmes estrangeiros com uma dobragem bastante duvidosa. Porca miseria!




4 - Vendedores de turistas. Não, não andava ninguém pela rua a vender turistas a peso. Refiro-me àqueles comerciantes extremamente chatos que nas cidades mais turísticas como Roma, Florença e Veneza, andam pela rua a impingir-te selfie sticks, pulseiras, flores e toda uma gama de produtos que tu não vais comprar. Cheguei ao ponto de ter um vendedor a colocar-me, sem permissão, uma pulseira de couro no pulso com uma mestria assustadora. É óbvio que não a comprei! Eles são tão chatos que muitas vezes fazem-te perder as estribeiras. No Vaticano, lugar de suposta tranquilidade ou altar sagrado, juro que tive vontade de agredir um homem que não nos largava com a pergunta "Queres um selfie stick por 20€? Queres um selfie stick por 20€?" enquanto me enfiava o tal stick pelos olhos adentro (salvo seja!). BASTA!

5 - Racismo, xenofobia e afins. Uma das coisas que mais gostei em Itália foi a sua diversidade, primeiro entre italianos digamos, e depois com todas as pessoas de outras nacionalidades que escolheram este país para recomeçarem a sua vida. Mas... a grande maioria dos italianos odeia estes estrangeiros e faz mesmo questão de o mostrar com orgulho. Itália tem muitos romenos, por exemplo, e estes trabalham e descontam para o Estado como todas as outras pessoas, mas a verdade é que são sempre alvo de uma xenofobia perigosa. Isto daria para um texto enorme sobre o assunto, mas como quero referir outros aspectos sociais tenho que resumir. A verdade é que a nível social e até legal, ainda há muito por evoluir lá. Os direitos LGBTI são muitas vezes uma miragem. A homofobia, o preconceito e o machismo são evidentes demais. Simplesmente esperei que de uma terra com tanta diversidade houvesse mais aceitação geral em relação ao que é diferente, mas parece que funcionou ao contrário. E nem vou entrar na guerra italiana de Nord VS Sud (Norte VS Sul) porque então teria que escrever un libro...


6 - Inglês. Mas é suposto existir outra língua para além do italiano? Como assim? Foi assustador perceber logo nas primeiras semanas que quase ninguém fala inglês decentemente, nem que seja só ao ponto de manter uma conversa de 6 ou 7 frases. Nem mesmo os mais novos estão à vontade para isso. Aqui pego novamente na questão do cinema (e da TV), pois tenho a certeza de que o facto de não ouvirem os filmes e séries de TV em inglês não os ajuda a estarem habituados à língua. É que eles estudam-na nas escolas, tal como nós em Portugal, mas depois parece que há ali uma barreira - talvez a tal falta de hábito de a escutarem - que faz com que as palavras fiquem presas e enroladas na garganta. Para quem chega e não consegue logo falar italiano, isto pode ser um sério problema. Dai ragazzi!

7 - Horários. Ir a um festival de música e arte que termina à meia-noite? Sair para festejar o teu aniversário num club que fecha à uma da manhã? EI! Um concerto de rock num bar que começa às 21h? Perfeitamente normal! Jantar às 19h? Completamente aceitável, se queres ir ao concerto no horário que já te disse antes. Não é que isto fossem coisas essenciais para a minha sobrevivência, mas digamos que em Portugal o normal seria estar a sair de casa à meia-noite para ainda encontrar os amigos e ir para um bar, nem que fosse só conversar vá, e ainda assim jamais seria aceitável estarmos a voltar de lá tão cedo. Mas a verdade é que ao fim isto já era tão banal para mim que só me restava rir de cada vez que via anunciar uma grande festa na praia que às 2h já estaria acabada. È vero!


Uma foto que tirei em Bolonha, só porque é linda esta cidade.


Italianos, por favor não me matem, e vão por favor ler aqui os textos em que explico por que é que afinal me apaixonei por este belo país.

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