"Michèle é a implacável chefe de uma empresa de videojogos. Um dia a sua rotina é quebrada quando é atacada e violada por um desconhecido dentro da sua própria casa. Fria e decidida, Michèle decide não deixar que isso a transtorne. Mas o seu agressor parece continuar a vigiá-la de perto..."
Sinceramente nem sei por onde começar.
Este filme passa por tantas camadas ténues dos nossos hábitos sociais, da família, do trabalho, das relações com os amigos... e com o amor. E é em todas essas passagens, sempre críticas e subtilmente metafóricas, que somos confrontados com duras realidades do ser humano.
A personagem Michèle retratada pela actriz Isabelle Huppert, à volta da qual gravitam todos os elementos do filme, é extremamente perturbadora, para dizer o mínimo.
Logo de início, parece-nos impossível que uma mulher decida assim nem sequer reportar uma violação à polícia, optando por seguir a sua vida normalmente sem um aparente trauma ou algo que a abale. Até a vemos a pedir à equipa criativa para colocar mais sangue, gore e violência no videojogo que está a produzir! E com a evolução da história só vamos percebendo que isso é apenas uma ponta de um grande mistério que vai sendo desvendado...
Este é mesmo daqueles sobre os quais não podemos falar muito, para evitar o risco de estragarmos surpresas do argumento.
Mas é sinceramente um dos meus filmes favoritos de 2016. É preciso estar atento para perceber todos os detalhes que fazem desta obra algo verdadeiramente grandioso. E é preciso aceitar um certo nível de sadismo que me parece ter sido atingido por estarmos a lidar com o cinema francês na sua mais perfeita... inocência?
Tenho a certeza de que algo assim não seria atingido num clássico filme de suspense do cinema americano, por exemplo.
Há aqui uma linguagem (europeia?) muito crua e muito desconcertante. E há também uma forma brutal de ir contando aos poucos mais detalhes que acrescentam muito à revelação da psicose (e do psicopata) que move esta história.
A partir da primeira hora do filme já só dizia a mim próprio: "Eu não acredito no que estou a ver..."
E realmente... é de deixar qualquer um incrédulo.
5 estrelas. Nem mais nem menos.
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