quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Oktoberfest #1: psicopata no acampamento

foto: svenmakesphotos


Este ano fui pela primeira vez ao Oktoberfest em Munique. E tenho muitas histórias para vos contar sobre isso. Sendo assim, dividi em 3 partes os posts sobre esses 3 dias naquela bela cidade alemã. 

Começo com o texto mais difícil que alguma vez escrevi sobre uma viagem. Houve muita discussão se deveria publicar isto ou não, com os intervenientes e com pessoas que me são próximas. Acabei por decidir-me a fazê-lo, porque talvez seja necessário afirmar e confessar, desta vez, que nem tudo nas viagens é perfeito e que, pior do que isso, as situações podem muitas vezes chegar a... extremos.

Vou tentar manter a linguagem o mais correcta possível, mas devo avisar que o conteúdo pode ferir algumas pessoas mais sensíveis, por isso a quem não se sentir à vontade, o melhor é parar por aqui.

O sítio escolhido para a nossa estadia em Munique foi o parque de campismo "Lost Souls" (Almas Perdidas, em português, e só isto devia já dizer muito sobre esta história...).

Nós éramos 3 numa tenda para 4, o que significava que o outro lugar da atenda seria alugado a outra pessoa qualquer (as tendas já estavam montadas e faziam já parte do parque).

A primeira noite correu bem e até houve uma situação embaraçosa mas que nos fez rir. A meio da noite um rapaz e uma rapariga ingleses, completamente ao acaso, vieram e abriram a nossa tenda à procura de um sítio para... bem... fazerem o amor (embora eles não tenham usado propriamente estas palavras quando em grande surpresa viram que a tenda já estava ocupada). "Temos que ir f... noutro sítio". Imaginem a minha reacção quando ouvi isso. Fartei-me de rir com a descontracção deles e lá lhes disse "Sim, por favor, se não for pedir muito, vão lá f... noutro sítio". Eles nem se importaram muito e seguiram na sua procura por uma tenda vaga para o efeito. 

A segunda noite foi horrível. Mas terrível mesmo. O nosso colega de tenda era, sem rodeios, completamente psicótico. Desde uma conversa absurda que teve connosco sobre ser um ex-militar que tinha sofrido traumas no exército ... senti logo uma vibe extremamente negativa. Ele falava sempre ao ataque, mesmo quando se tratava de uma conversa aparentemente inofensiva, via-se mesmo que procurava sempre ir pela via da discussão. Para além disso estava bêbado, muito bêbado (e sobe o efeito de drogas também, quase que aposto). Era o tipo de pessoa que ao "boa noite" de uma rapariga respondia com um "entendi isso como um convite para vir mais tarde ter contigo e...". E sim, isto realmente aconteceu e foi... nojento, repugnante e tão revoltante! Só isto daria para tanta conversa sobre esta ideia que alguns homens têm sobre a permissão de fazerem o que bem lhes apetece com as mulheres. Mas bem...

Só por isso, obriguei a minha colega de tenda a ir dormir para a minha divisão (a tenda tinha 3 espaços separados, digamos assim). Simplesmente temi logo o pior quando ouvi uma coisa dessas vinda daquela pessoa. Eu já sabia que ele seria capaz de tudo!

E eu não estava enganado. Infelizmente. Volto a avisar. Este não é um post feliz, e talvez seja melhor parar por aqui a leitura. 

Depois daquela conversa nojenta, ele foi para a rua e andou à deriva pelo acampamento, de vez em quando eu ouvia a voz dele aqui e ali, sempre num tom irritado e assustador, até que já mais perto de nós começou a discutir violentamente com outras pessoas do camping... porque esses campistas o tinham encontrado a dormir nas suas tendas! Imaginem só... ele teve a lata de fazer isso. 

Daí ele teve que voltar para a nossa tenda e foi aí que tudo piorou. Ele falava em inglês, numa voz profunda e completamente perturbada, repetia frases sem parar, sem nexo, completamente louco... parecia saído de uma cena daqueles filmes de terror americanos, enquanto procurava incessantemente algo, algum objecto, pela tenda. 

"Vou cortar-lhes a garganta."

"Vou matá-los a todos pelo que me fizeram."

"Vão morrer todos agora."

"Vai ficar tudo cheio de sangue."

"Filhos da put... vão todos morrer". 

Foram apenas algumas das frases, que escritas aqui assim até me parecem inofensivas, quando as comparo com o que lembro desses momentos.

Nunca mas, absolutamente, nunca tive tanto medo na minha vida. Não conseguia mexer-me, fiquei horas parado na mesma posição, não conseguia falar e foi só por gestos que toquei na minha amiga para lhe fazer sinal de que estava desperto. Ambos, sem nunca falar, tivemos a mesma ideia: seria melhor não fazermos notar a nossa presença e não o encarar. Uma pessoa com um grau de loucura daqueles apenas iria atacar-nos e fazer sabe-se lá o quê no caso de um confronto. As tendas eram todas coladas umas à outras e todas as outras pessoas no acampamento devem ter pensado o mesmo que nós, porque mais ninguém reagiu (e eu entendo exactamente porquê). Tremi como nunca tinha tremido. Fiquei só a desejar que as horas passassem. E não dormi. Só quando ouvi que a besta tinha adormecido, pelo ressonar pesado dele, é que consegui ir fechando os olhos mas mesmo assim estava sempre num estado de alerta brutal. Nisso tudo, algo me disse para nunca me levantar e ficar ali imóvel.

De manhã cedo, quando já tínhamos pelo menos a luz do dia a nosso favor, arrumamos tudo à pressa e saímos da tenda. Fomos à recepção, onde avisei que tínhamos um... pequeno problema.

O psicopata lá ficou a dormir. E eu mais aliviado.

Mas no meio disto tudo seguirá uma reclamação gigantesca contra os responsáveis pela segurança no parque (e não só). É verdade que ninguém pode adivinhar as psicoses de um dos hóspedes. Mas havia segurança 24 horas... e ninguém parece ter dado pela discussão tremenda que ocorreu ali nem, depois, pela voz desvairada de um doido que acusava outros, sabe-se lá exactamente quem, de morte.

Confesso... agora que escrevi sobre isto, parece que foi como uma ida ao psicólogo, que aliviei tudo, mas acreditem que... embora isto dê uma excelente história para risadas futuras, eu preferia muito mais nunca ter passado por esta experiência. Os últimos dias têm sido terríveis com aquelas frases sempre a ressoar na minha cabeça. Por vezes ainda acho que não passou de um sonho mau. Mas agora está tudo bem e é o que interessa. 

Pela primeira vez... e eu já viajei por tantos sítios SOZINHO... corri até becos escuros às tantas da madrugada sozinho numa das cidades mais perigosas da Europa... mas, repito, pela primeira vez senti mesmo que a minha vida estava em perigo. 

Como por acaso isto aconteceu em Outubro, a poucas semanas do Halloween, e se não tivesse sido comigo, dificilmente acreditaria. 

Felizmente, o Okotberfest em si foi uma alegria do início ao fim e um dos melhores eventos em que já participei. Mas sobre isso falarei no próximo post aqui no blog... e ainda tenho outra história inacreditável para vos contar. Digamos que foram 3 dias muito... produtivos. 

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