O nosso meio de regresso de Munique a Frankfurt era uma viagem de 7h num dos autocarros da Flixbus.
Era o nosso terceiro dia da nossa aventura no Oktoberfest. Estava meio ressacado, cansado e ainda chocado com os eventos anteriores no acampamento (que contei aqui). Só queria chegar a casa em paz.
Tudo começou ainda em Munique, onde o autocarro já chegou com 1h de atraso. O motorista sai e começa a dar indicações sobre a bagagem e os lugares aos passageiros... em italiano! Estávamos na Alemanha, 70% dos passageiros eram alemães, outros portugueses, holandeses, etc... mas por acaso não havia um único italiano. Havia eu que percebo e falo italiano... mas... porque falava só nessa língua o motorista? Mesmo perante as caras confusas de todos os que estavam para embarcar, o homem não se importou muito que não percebessem uma única palavra do que dizia. Mas tudo bem. Eu lá traduzi o que consegui e ajudei umas pessoas. Seguimos viagem.
Ao fim de 1 hora, já em alta velocidade na auto-estrada, começo a ouvir gritos vindos da parte da frente do autocarro. Gritos em italiano, claro está. Completamente descontrolado o motorista gritava a duas pessoas sentadas no banco da frente que tinham de se calçar porque cheiravam mal dos pés. Sim, isto. E eu podia acabar este post por aqui e já teria contado uma belíssima história mas calma que isto ainda não descambou por completo.
Obviamente, essas pessoas não percebiam uma palavra da língua (eram alemães e falavam um pouco de inglês, mas zero de italiano, percebi mais tarde em conversa).
No entanto o homem, nosso querido motorista, não falava mais nada além da sua madrelingua. E na sua mente, vá lá alguém entender porquê, gritar com as pessoas faria com que estas o entendessem. Ele lá lhes gritava que se calçassem e que cheirava a chulé (gente isto aconteceu!) e repetia que os punha na rua e que isto e aquilo, mas CRISTO SANTO... eles estavam completamente perdidos sem entenderem uma palavra. Eu estava atónito lá atrás. Mais ninguém percebia o homem e eu ia traduzindo para quem estava à minha volta. Faces confusas. Olhares de: "que raio se está a passar...".
De repente uma travagem super perigosa, o autocarro desvia-se para a berma da auto-estrada em grande velocidade, pára, faz agitar toda a gente, acorda os que ainda não se tinham apercebido do filme. Absolutamente ninguém está a entender o que se passa (mesmo daqueles a quem eu já traduzi os acontecimentos parecem perdidos).
Buscando algum apoio, o motorista levanta-se e vem pelo autocarro fora a procurar alguém que fale italiano. Respondo-lhe eu a pedir que siga viagem, por favor, porque já estamos com atraso de 1h. Responde-lhe outro senhor, que fala mais ou menos um italiano estranho e que lhe grita na cara: "STRONZO!!!".
Pronto. Foi o fim. "Stronzo" em italiano significa algo como estúpido, imbecil... mas num nível muito mais ofensivo, é como chamar "as*hole" a alguém em inglês.
O motorista passa-se, começa a pedir o nome ao outro homem para apresentar uma queixa, que lhe responde só que se chama "signore"... e eu já só me ria com isto.
Entretanto os da frente lá percebem que têm de se calçar e seguimos viagem. Ainda não tinha passado outra hora quando todos ouvimos um anúncio feito através do microfone do autocarro: "O rapaz que fala italiano pode por favor vir aqui à frente?". Era para mim. As minhas amigas olham-me e uma delas diz-me "por favor vai lá mas tem calma com o homem".
E lá vou. Super calmo, entendo que o motorista quer o meu apoio porque sou o único que na verdade pode falar com ele. E agora fazemos uma pausa só para explicar isto. Estávamos na Alemanha. O Flixbus tem sempre 2 motoristas porque como são viagens longas eles têm que ir trocando de posição. Seria de esperar que pelo menos o outro motorista falasse alemão. Mas não. E pior, não falava nem italiano, nem inglês. Sinceramente já não lembro qual era a sua origem, mas era uma língua que não nos servia naqueles momentos difíceis. Inacreditável... mas nem os dois motoristas conseguiam comunicar entre si!!!
Bem... o italiano lá me diz que planeia chamar a polícia na próxima paragem (em Nuremberga) para expulsar os dois passageiros dos pés mal lavados... e o terceiro que lhe chamou "stronzo". Eu apelo a que não o faça porque isso só nos vai atrasar mais e irritar as pessoas contra ele e originar mais reclamações e revolta e etc etc etc. Digo-lhe na cara que nos pôs a todos em risco com aquela travagem súbita e que vou ter que escrever à empresa de transportes sobre isso. E por momentos acho que o homem está a ouvir a minha voz tranquila e razoável, percebo que ele fica mais calmo depois de conseguir finalmente comunicar com alguém na sua língua. Vejamos esta imagem. Eu sentado nos degraus lá à frente a ter uma conversa com o motorista que guia por uma auto-estrada alemã (onde nem há limite de velocidade). A certo ponto até lhe explico que o meu trabalho, embora diferente, também é o de lidar todos os dias com passageiros... e até brinco dizendo que se expulsasse todos os que se descalçam nos meus voos, os aviões iriam meio vazios.
Depois de mais conversa, volto para o meu lugar. Explico tudo às pessoas que estão sentadas à minha volta. Ninguém quer acreditar no que está a acontecer. Mas talvez o homem não chame a polícia.
ERRADO!
Na paragem em Nuremberga chama a polícia e os passageiros são impedidos de seguir viagem a bordo. Isso causa-nos mais atraso e um sem fim de contratempos a todos.
Isto foi tão injusto por motivos que nem consigo enumerar totalmente. E assim, por ser teimoso, mal-educado e completamente fora de controlo, este motorista deu origem à minha maior reclamação de sempre ao serviço do Flixbus.
Ainda estou à espera de uma resposta.
Mas... minchia! Sobrevivi!
Sem comentários:
Enviar um comentário