Decidi
que precisava de uns dias, sozinho. Decido isso muitas vezes. Não é que não
goste de estar acompanhado, mas isto de andar sozinho tem algo especial que
poucas pessoas compreendem.
E eu
dou-me muito bem comigo próprio, se é que se pode assim dizer. Decidido assim,
marquei de um dia para o outro aquilo a que chamei “Alentejo Road Trip”.
O
Alentejo é a região que mais me seduz no nosso país, e havia uma parte dele que
ainda não conhecia. Já tinha ido até Portalegre, Beja, Évora, Ponte de Sor,
Marvão e a outros tantos sítios alentejanos, mas nunca tinha avançado até
Estremoz ou Elvas, por isso procurei uma estadia barata e boa (e acreditem que
mais barato era impossível). Fiz-me à estrada.
Tive
que parar três vezes pelo caminho. Não por cansaço ou outro problema, mas
porque a paisagem da planície me obrigou a isso. Fiquei alguns minutos num
local à beira da estrada só a inspirar o ar quente e abafado que a terra para
além do Tejo sempre nos traz. Mas lá cheguei a Elvas. Aqui estamos bem longe do
mar e isso nota-se só ao respirar.
Ao
chegar à minha estadia, deram-me um mapa turístico, mas deixei-o no quarto. Vim
sem ele, sem qualquer guia, sozinho à descoberta. Encontrei logo sítios
fantásticos (podem conferir pelas fotos que tirei). Não é difícil, já que
Elvas, a cidade fortaleza, tem História em cada esquina.
Vim ao
centro Histórico e ao estacionar o carro fiz logo uma amiga. Diz-me então a
senhora velhota da janela da sua casa caiada de branco: “Ó filho na estacione
aí, que se paga. Ponha aqui à ‘nha porta que na faz mal nenhum.”
Ficámos
logo a conversar os dois e até fiquei a saber de um caso de polícia aqui da
cidade, que “veio no jornal e tudo”. Mas que “na tenha medo”, que ninguém me
faz mal. Faz de conta que sou daqui. Lá me despedi da senhora.
Mais
tarde, dados alguns passos por ruas estreitas abaixo, entrei numa igreja
magistral, assisti a umas obras de reconstrução e ao ensaio do coro (ao mesmo
tempo). Porque quando se vem sem mapa, tudo parece acontecer mais naturalmente.
Agora
estou numa esplanada aqui do centro a escrever. E a observar as vidas que aqui
passam, a ouvir o sotaque que aqui se pronuncia. Porque é assim que se vivem os
sítios.
Amanhã
talvez traga o mapa. Ou talvez vá a Badajoz, já que está ali mesmo à vista e
bem que que preciso de treinar o meu español.
Acabo de ler este teu texto sobre " Além Tejo " a incursão e visita detalhada a Elvas. Impressionante a tua descrição o teu sentir nessa visita !
ResponderEliminarParabéns por este magnífico texto