quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"É por não sermos iguais que o mundo e a vida têm interesse."



Cristina das Neves Aleixo é a autora do livro infantil Joaninha e o Jardim Encantado, publicado este ano pela Capital Books. Numa conversa muito interessante, falei com a Cristina, entre outros assuntos, sobre  a mensagem que quer passar com esta sua primeira aventura na ficção para crianças (e adultos)


1 - Como é que foi o processo de escrita do livro "Joaninha e o Jardim Encantado"? E de onde surgiu a ideia de escrever um livro infantil?O processo foi muito simples. Pensei como adulta e como criança, ou seja,  o que eu queria transmitir em termos de valores e o quepensaria e sentiria estando a recebê-los. Escrever para crianças é muito complicado, na medida em que os pequenos leitores são muito atentos aos pormenores e também porque temos que criar formas suavizadas, digamos assim, de colocar o que queremos passar; por outro lado é extremamente simples, pois quanto mais simplificarmos melhor será o resultado. No mundo infantil não existem complicações. Se seguirmos essa lógica o trabalho fica facilitado.A ideia de escrever um livro infantil surgiu da vontade de escrever uma estória para o meu filho. Privei muito de perto com crianças em situações de saúde extremamente complicadas e quis mostrar a todas, às que, de alguma forma, por esta ou aquela razão, não se sentem bem na sua pele e a todas as outras a quem isso não acontece, como viver isso. Claro que só abordei um ou outro aspecto da questão, que é muito mais vasta do que possamos pensar, mas num conto infantil temos que simplificar. Estou muito satisfeita com o resultado. Creio ter alcançado o meu objectivo.

2 - Podemos dizer que a literatura infantil, mais do que os restantes estilos, tem sempre um carácter pedagógico?

Na minha opinião deveria ser sempre assim pois as crianças "absorvem" tudo o que vêem, mas verifico que muitas vezes isso não acontece. Não nos podemos esquecer que estamos a dirigir-nos a alguém que está em formação e que é, ainda, extremamente influenciável pelo que vê e lê. Se nós, adultos, nos deixamos "marcar" por determinado livro imagine-se as crianças e nesta linha, creio que qualquer autor de estórias infantis deve ter um sentido de responsabilidade acrescido. Basta lembrar-mo-nos de como éramos na nossa infância, que é coisa que quase todos os adultos, infelizmente, tendem a esquecer. 



3 - E nesse sentido, qual é a mensagem que quer passar com este livro?

A mensagem principal é a de que há pessoas fisicamente diferentes mas isso não importa para nada, pois na realidade e apesar de parecermos todos semelhantes, mesmo que perfeitinhos, somos diferentes na medida em que cada um de nós tem diferentes aptidões. É precisamente pelo facto de não sermos iguais que o mundo e a vida têm interesse. Isso faz com que existam desafios e complementaridade. Basicamente tento demonstrar que a beleza da vida reside na diversidade e que o contrário é um grande aborrecimento.

4 - Falando agora de outros livros, o que tem lido ultimamente?

O último livro que li foi o "Entre o silêncio das pedras" do Luís Ferreira, meu colega de editora, e gostei bastante. Estou neste momento a ler o mais recente do meu antigo professor de Escrita Criativa, Pedro Chagas Freitas, "Queres casar comigo todos os dias, Bárbara?"  

5 - E um livro favorito, tem?

Tenho vários. Os meus gostos literários são muito eclécticos - leio desde uma boa banda desenhada a um livro técnico -, mas destaco o "Crónica dos Bons Malandros", do Mário Zambujal, "Aventuras de João Sem Medo, do José Gomes Ferreira, "Memórias de uma Gueixa", do Arthur Golden, "Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, "Memorial do Convento", do José Saramago e o legado da Agatha Christie. Fico-me por aqui pois a lista é extensa.

6 - Se pudesse passar uma hora com um grande autor, quem escolheria para uma interessante conversa?

Escolhia a Agatha Christie. Creio ter sido uma mulher extremamente inteligente e com uma invulgar capacidade criativa, o que me fascina. Além disso o género de mistério e policial agrada-me bastante e ela foi, ainda é, a Dama do mistério - não sei se algum dia haverá alguém como ela. Penso que seria uma conversa deveras interessante com a comunhão das nossas "células cinzentas".

7 - Visto que já publicou o primeiro livro, qual é agora o maior sonho que deseja realizar no futuro?

É continuar a escrever livros, que os leitores gostem do que lhes ofereço e peçam mais. Passei a minha vida profissional fazer coisas que não me eram muito apelativas, agora que estou, finalmente, a fazer o que me completa não pretendo parar. Sempre escrevi, por necessidade física e mental, apenas não publicava o que escrevia mas era, sem dúvida, o meu grande sonho: escrever e pôr à disposição de todos o que escrevia. O sonho concretizou-se e pede encore.


Página de Facebook 
da autora: https://www.facebook.com/CristinaDasNevesAleixo

1 comentário: