sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Diário de Bordo #6: um amor próprio

@ pixabay


Estaria longe de imaginar que à noite numa floresta alemã correria o vento quente. Mesmo que pensasse em Agosto. Não, isso não faria parte do meu pensamento. Mas ali estava aquele lugar escuro e quente, contraditório, desafiador. A claridade da lua dava às árvores um aspecto sombrio, meio assustador, meio sedutor. 


"Tu dizes que sou selvagem... bem, isso é porque para mim o amor é liberdade. Se alguém me diz 'Amo-te'... eu vejo isso como um elogio à minha liberdade. Eu posso amar-te esta noite... sem compromissos. Só não quero acordar com a sensação de que te devo algo. Não quero passar os meus dias a fazer coisas que não me satisfazem só por fazer coisas com alguém. Eu preciso de tempo. Preciso de espaço. Preciso das minhas coisas e do meu silêncio. 
Alguns chamam a isso egoísmo, alguns chamam-lhe amor próprio... mas eu sou apenas um sonhador, caberia perfeitamente num daqueles filmes dos finais dos anos 60; a minha liberdade grita por mais, a minha identidade é baseada em revoluções. 
Não consigo fingir um sentimento, não consigo fingir ser feliz só pela necessidade de ter alguém a quem chamar namorado. 
Tenho o amor próprio. E vou dar-te uma amostra desse amor infinito de cada vez que te tocar. Vais sentir como isso pode ser poderoso. Vais entender que esse é um tipo de amor que também se partilha."

A lua ainda brilhava. Os olhos, já acostumados à escuridão, viam agora melhor a densa extensão de árvores contra o céu estrelado. O vento corria abafado como antes. O chão frio. As mãos quentes.