sexta-feira, 31 de julho de 2015

BI – bilhete de identidade



[ nota: isto não é um exercício jornalístico, nem o quer ser ]

Procurei, procurei. E não foi nada fácil encontrar alguém que estivesse disposto a falar comigo sobre sexualidade, muito menos sobre a bissexualidade. Teria que entrevistar alguém que não fosse meu conhecido, que nem fizesse parte do meu círculo. E num meio onde parecem imperar as palavras discrição e sigilo, foi mesmo complicado chegar a alguém que, sem grandes complexos, aceitasse falar desta orientação sexual. Mas lá consegui agendar uma conversa sobre isso, não sem algumas regras, como irão perceber. E foi assim: 

O local escolhido para nos encontrarmos é um dos cafés menos movimentados da cidade. A entrevista não será gravada, não serão registadas imagens, ficando-me pelo papel e caneta como suporte. Por isso sento-me, cheguei mais cedo, e peço apenas um café e uma água, para que me distraiam enquanto aguardo. Na verdade receio que não apareça, que ao último momento tenha desistido de dar esta entrevista. Mas... chega. Tem 21 anos e um ar muito jovem, de facto, de quem poderia ter menos que isso. Mas afinal tem “quase 22”, assegura-me, enquanto, numa espécie de quebra-gelo, começamos a falar de cinema. É o que estuda, na universidade. E tão natural como começou, a conversa flui para a sua primeira declaração: “Quando disse ao meu pai ‘Sou bissexual’ ele só disse ‘Está bem’. E não sei se isso foi bom ou mau, não sei se ele aceitou, porque ele quase nunca fala sobre isso”.
Perante isso, questiono: “Posso então começar a escrever?”.
Diz-me que sim, que posso escrever à vontade e continua com o relato enquanto a minha caneta desliza pelo papel: “Tive uma relação heterossexual. Quando a relação acabou, percebi a minha bissexualidade. Comecei a perceber que tinha algum género de atracção por rapazes, desde a adolescência. E costumo dizer que amo pessoas, independentemente do sexo”.

Perceber isso não terá sido, contudo, muito fácil, pois relembra um episódio grave dos tempos do secundário: “Quando andava na escola gozavam comigo, chamavam-me gay, mesmo antes de eu ter a minha sexualidade definida. Nunca tinha tido uma experiência com rapazes.  Mas as pessoas olhavam para mim e viam algo de diferente na forma de eu ser e de agir. Não tinha hábitos ‘normais’ de rapazes, como jogar futebol ou sair para beber cervejas. E era mais sentimental, o que normalmente é mais associado ao sexo feminino. Por isso gozavam e até criaram um site para falarem da minha sexualidade. Não sei se ainda existe, nunca mais o procurei”.

“E talvez seja melhor não procurar”, penso para mim, sem o verbalizar, enquanto lhe atiro a primeira questão que tinha preparada: “De um ponto de vista muito pessoal, esquecendo todas as definições que existem, o que é para ti ser-se bissexual?”. A resposta é directa. “Ser bissexual é gostar de pessoas. Como diz uma amiga minha: ‘Gosto de pessoas’. Claro que a atracção física é muito importante. Mas há pessoas com quem te envolves psicologicamente, em que por vezes pode até não passar de um ‘flirt’.”
Mas acrescenta, como que afastando-se daquilo a que chama “moda”, sublinhando que não se revê nisto: “Acho que muitas pessoas mais novas dizem que são bis porque acham que é cool, que assim se encaixam nos padrões da sociedade, mesmo sem saberem se são realmente assim. Muitos jovens dizem isso porque celebridades, como o Bill Kaulitz dos Tokio Hotel, também o disseram, e acabam por seguir isso como uma moda, e não como algo que sentem mesmo ser a sua orientação sexual.”
Isso leva-me directamente à questão que tinha em espera: “Pensas que existe mais aceitação sobre a bi do que sobre a homossexualidade?”
“Acho que sim, porque as pessoas acham que é uma fase. Não há uma redução tão grande, como quando és gay. Aí as pessoas acham que é mais redutor, se és gay, és só aquilo, porque só gostas de homens. Na bissexualidade acham que há um escape e que, por gostares de mulheres, vais sempre ter uma vida mais normal, porque podes fugir para isso.”
Então será o estigma social maior na questão homossexual?
“Acho que é mais complicado assumires que és gay/lésbica do que bi. Mas há mais informação sobre a homossexualidade, nos média em geral” – responde prontamente.
Levanta-se uma questão que mutias pessoas querem sempre ver respondida:
“Como é que um bissexual consegue gerir ao mesmo tempo a atracção física pelos dois sexos?”, pergunto, assumindo que é a questão que me levanta mais curiosidade.
“Isso é tão complicado. Há coisas que atraem nos dois sexos. Por exemplo, sinto-me atraído pelos seios de uma mulher e um homem não tem isso”
E há mais promiscuidade ou não? As pessoas bi são mais tentadas a trair? Entende que não. E justifica. “A questão da traição depende muito da pessoa e da sua satisfação na relação, não depende da orientação sexual.” Mas concorda que muitas pessoas não conseguem ver essa realidade da mesma forma: “Muitas vezes as pessoas deixam de falar comigo porque sou bi. Por exemplo, alguns rapazes gay acham que sou indeciso por isso e deixam de me falar. Mas não tem nada a ver com ser indeciso. Isso não me condiciona, mas essas pessoas são retrógadas.”
Talvez isso justifique que muitas vezes se ouça dizer que determinada pessoa “diz que é bissexual para esconder a sua homossexualidade”. Discorda.  “De certeza que existem pessoas a pensar assim, mas não concordo com isso. Podes ter uma relação 50 anos com uma mulher e depois teres com um homem.”
E é, afinal, uma doença como afirma o preconceito... ou não?
“Não é uma doença, mas para algumas pessoas é, porque pensam que as pessoas LGBT não amam, que só querem sexo.”


Relembramos agora o tempo em que decidiu contar às pessoas próximas de si aquilo que sentia: “Revelei primeiro à minha madastra, e decidi contar porque tive medo que alguém contasse primeiro do que eu. Na universidade algumas pessoas já sabiam e não queria que em casa soubessem sem ser por mim. ‘Se calhar é só uma fase’, foi a reacção dela. Disse-lhe que sabia que não era uma fase porque há muitos anos que já sentia pré-disposição para isso, apesar de não ter ainda experienciado. E expliquei que a parte cultural, uma conversa, um interesse, podiam justificar a minha atracção por rapazes.”
Tento aligeirar o tom da conversa e pergunto-lhe: “Se tiveres uma namorada vais contar-lhe que és bi?”
“Para ter uma relação já tinha que haver muito à vontade, empatia. Não teria uma relação sem contar isso primeiro. Não acho que fosse fácil para ela aceitar, porque destruiria algumas esperanças.”
A conversa segue o seu rumo natural e, quase sem darmos conta, o termo “relação aberta” está em cima da mesa.
Não tem grande convicção sobre o tema mas arrisca: “Acho que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Não sei até que ponto concordaria com uma relação aberta, mas acho que faz sentido. Um dos aspectos negativos, a nível sentimental, é que haverá uma ruptura bastante grande. Acabarás sempre por magoar alguém, porque precisas de escapes psicológicos. Numa relação aberta vais sempre procurar outros tipos de amor e carinho, mesmo que não haja um contacto sexual. Pode haver só envolvimente intelectual.”

E o que pode ser feito para que haja mais aceitação na sociedade em geral?
“Haver mais abertura nas escolas, porque as crianças são o futuro e podem ser educadas para isso. Acho que é preciso desconstruir o estereótipo do homossexual feminino e não generalizar essa ideia, como se tem visto em algumas telenovelas brasileiras, por exemplo. Se (as novelas) são um meio de cultura em massa, podem também funcionar dessa forma.”
Antes de terminarmos confessa que sempre teve um parente homossexual na família e que por isso o assunto, apesar de visível, tornava-se tabú. “Os meus pais pediam para não falar na homossexualidade em casa e para não dizer ofensas sobre isso, mas só porque aquela pessoa estaria presente e não gostaria de ouvir.” Em parte isso até pode justificar outra declaração sua: “Recebi mais ofensas antes de me assumir do que depois, porque parecia que as pessoas faziam de propósito para me picar e me levar a assumir aquilo que eu era.”
Lembra ainda alguns “excessos”, que, na verdade,  só podem ser assim chamados pelo preconceito que ainda existe a nível social. Diz-me então sem medo: “Muitas vezes fui sair à noite e andava de mãos dadas na rua, com um rapaz, e as pessoas olhavam de lado. E vão sempre olhar.”
E é por isso que defende, levantando a maior contrariedade de que falamos até então: “Aceitaria sair com alguém mais visível, um homossexual mais excêntrico, sim, apesar de ser discreto e de preferir não chamar à atenção, mas isso tem a ver mesmo com a minha personalidade.”
Quanto ao futuro, como estudante de cinema, está decidido a combater pela visibilidade dos temas LGBTI: “O meu trabalho final de curso será uma curta-metragem sobre a transexualidade, porque é um tema que me interessa bastante”.
Sorri ao dizê-lo, mesmo antes de eu fechar o caderno de notas; enquanto a palavra FIM surge vagamente entre nós, por entre os cafés bebidos, espalhados pela mesa.

E depressa voltamos a falar de filmes, se é que em algum momento deixamos de o fazer.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

"O que acontece se eu falhar o teu teste?"

Ex Machina (2015) - opinião.





Só o diálogo brilhante sobre a identidade de género da Inteligência Artificial foi suficiente para me conquistar. 

Mas este é o filme do ano. E um dos meus preferidos de sempre. Inteligente, levanta questões filosóficas sobre o ser humano, provoca a mentalidade e tem um final que, apesar de ser um pouco previsto, é completamente destruidor. 

Por todas estes aspectos, e também pelos técnicos, este filme é merecedor de um Oscar (ou vários!). Espero que receba nomeações para: Oscar de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Filme. Mas como é sci-fi já sei que vai ser ignorado pelos snobes.


domingo, 26 de julho de 2015

Então deixa-me ir.


                Poucas pessoas terão a coragem de sentar-se contigo e dizer: “Preciso de falar com um psicólogo”. Não, falar contigo já não é suficiente. Falar com os amigos não me chega. Explicar tudo à família também não terá resultado. Tem que ser discutido com um profissional, alguém que me observe do lado de fora.
                Poucas pessoas terão o atrevimento de terminar uma vida no entretanto dessa conversa. Não terminaste uma relação, não, se aquilo que tínhamos era já um viver tão sóbrio, uma agenda tão repleta de sonhos que se partilharam.
                Como é que eu ia explicar a mim próprio que de repente já nada disso faria parte de mim? Como assim poderia explicar aos meus amigos que afinal a situação tinha piorado para além do expectável?
                Que eu andava mal, eles sabiam. Mas que tu tinhas decidido isso, jamais alguém imaginaria. Andei dias calado. Primeiro chorei sozinho, depois acompanhado, mas nunca consegui exteriorizar de outra forma. As palavras faltavam-me, porque, afinal, faltava-me tudo, de uma vez.
                Se antes achava que só um psicólogo iria entender onde eu queria chegar, agora tinha a certeza derradeira de que para não chegar onde eu queria, só esse tipo de ajuda poderia intervir de alguma forma.
                Não terei achado estranho portanto que num desses dias tenha acordado com dores no corpo, se a sensação que tinha era a de que estava a ser esmurrado por todos os lados. Tudo o que ainda era força eram as vozes na minha cabeça, faladas a um volume extremo, entre gritos e palavras que eu não compreendia. E eu via e sentia o olhar de quem se preocupava comigo, sentia-o cair sobre mim e fixar-se húmido na magreza que eu arrastava. Não podia expressar-me, então, se tanto havia para explicar.
                Até que voltei a sentar-me contigo e, frente a frente, não fui capaz de odiar-te. Como não existia ódio? Como? Se me apetecia destruir-te e arrancar-te tudo, nem uma lágrima consegui verter, nem uma frase carregada, nada.
                Tinha então chegado a um estado de apatia tão intenso que foi nesse momento que temi não ser capaz de voltar a ser alguém. Pois “eu” é que não era ali, certamente.
                Perdi as viagens combinadas, os projectos em comum. Perdi tudo o que tinha programado. E já não entendia como seria possível programar-me de outra forma. Se a ausência do teu amor era isso, o que seria a total falta do meu amor próprio quando chegasse ao ponto de assim sucumbir?
                A resposta chegou depressa, no dia em que empacotei todos os pedaços da nossa vida. Fi-lo de forma leve e vagarosa, e no processo nem parecia sofrer demasiado, mas quando voltei atrás e vi o meu quarto vazio, testemunhei na carne o maior sentimento de perda que até aí nunca tinha experienciado. 
                Os olhos arderam-me ao chorar com tanta violência, faltou-me o ar até me doer o peito, até praticamente sufocar entre soluços e lágrimas que corriam descontroladas. Se disser que senti que ia morrer, não é exagero nenhum, pois a minha visão toldou-se, as minhas pernas tremeram e senti que tudo à minha volta estava a esvair-se lentamente enquanto fiquei agachado contra uma parede fria. Estava sozinho, sem alguém que me socorresse, por isso não pude senão deixar-me ficar assim. O meu coração batia tão depressa que sentia o sangue aumentar-me as veias e a dor a dilatar-me todo por dentro. E de certa morri aí.
                Foi assim, no entanto despedaçado, que tive que voltar à vida. Esperavam de mim que eu continuasse. E assim forcei-me a isso.
                Celebraria o meu aniversário daí a umas duas semanas. E no secretismo de não desistir, havia um projecto que esperava que eu avançasse. Foi esse projecto que veio de certa forma salvar-me. Foi ele. O livro.
                Estarias no lançamento. Lembras-te?
                A primeira dedicatória seria assinada com o teu nome.
                Não foi.
                Não estiveste.
                E nunca senti que devias lá estar.
              Se naquele dia morri, num sentido mais ou menos figurado, noutro dia nasci. E a culpa, para o bem do mal, foi tua.
                Sem ti não teria acontecido. Mas contigo, muito menos.
                De início senti raiva por não conseguir odiar-te, mas depois percebi que a maior forma de deixar-te para trás era, metaforicamente, abandonar as amarras que poderiam ainda prender-me à imagem que tinha perpetuado de ti: aquela ideia de que eras o ar que eu respirava.
                Essa imagem continua lá. Numa qualquer linha temporal paralela, nós contínuamos juntos e eu nunca disse que precisava de algum tipo de ajuda externa. Nem eu tive essa audácia, nem tu tiveste aquela cobardia.
                Mas na linha real da vida, eu estou num lugar em que jamais estaria se não tivesse  tido um dia a coragem de testar a tua dedicação a mim, ainda que o tenha feito de forma totalmente inconsciente. Imaginava lá que fugirias na presença da mínima dificuldade. Desmentiria isso, aliás, se alguém com poderes de adivinhar, o futuro, viesse jurá-lo a pés juntos.
                Lembro-me de ter de facto falado contigo sobre isso e de teres dito que seríamos para sempre amigos.
                Mas lembro ainda mais que, há uns anos atrás, quando decidi dar-te um beijo ao descer a rua, sem medo, não foi porque queria ser teu amigo. Mas sim porque quis provar-te que eu tinha entrado na tua vida para a mudar drasticamente. Recordas-te que esse gesto ‘anormal’ foi estranho para ti, certo?
                Eu só não sabia que, egoísta, a única mudança aconteceria afinal comigo.
                Talvez eu tenha apenas projectado um tipo de amor que nunca saiu de mim e que tu nunca recebeste.

                Talvez eu tenha sido o culpado.

                Talvez um dia possa entender e perdoar a ti ou a mim. Ou condenar-nos aos dois.


 Talvez alguém saiba até vir a explicar-me isto de haver tanto início na palavra fim.

sábado, 25 de julho de 2015

Renascer entre grades.




Hoje fui apresentar o livro entre grades, no Estabelecimento Prisional de Torres Novas

Para começar, tive que deixar tudo à entrada (telemóveis, carteira, chaves, etc). Entrei depois só com o livro. E quando dei por mim, estava mesmo dentro da prisão. Sentir aquela porta pesada a fechar atrás de ti, ver que os guardas ficam de um lado e tu de outro, não é nada agradável, devo já confessar. 

Depois reunimo-nos com os reclusos e a Helena Caetano, técnica de acção social, apresentou-me, leu uma passagem da estória e depois eu apresentei o livro.

Surgiram muitas questões da parte deles, principalmente porque o personagem que eu criei, o Tomé, também está preso (de outra forma). Foi muito interessante a troca de ideias e é uma experiência marcante, a que poucos terão acesso. Para além disso discutimos temas tão diversos que até falámos de discriminação múltipla, por exemplo.

Tocou-me ver ali rapazes que têm a minha idade (e até menos). E inspiração para escrever é o que mais abunda entre grades, acreditem. Mas não posso falar muito, senão estrago tudo.

Para além disso, dois dos reclusos vão começar a escrever-me, através de cartas. Por isso imaginem só a informação brutal que vou receber deles. E nem fui eu que pedi que o fizessem, pois partiu deles essa ideia. Eu avisei logo "Olhem que ainda publico um livro sobre isso". 

Ficou então um livro para lerem e a promessa de voltar mais tarde para os visitar novamente e trocarmos ideias sobre a História.

 emotic
grin emotiFicou então um livro para lerem e a promessa de voltar mais tarde para os visitar novamente e trocarmos ideias sobre a História.

Ficou então um livro para lerem e a promessa de voltar mais tarde para os visitar novamente e trocarmos ideias sobre a História.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uma conversa com Gonçalo S. Neves


Gonçalo S. Neves é autor e criador da página de facebook que assina em nome próprio.  Escreve diariamente sobre sentimentos e acredita que o amor não tem género. A sua página atingiu recentemente a marca de mais de 4 mil gostos, e talvez isso vá obrigá-lo a cumprir uma promessa. Falei com o Gonçalo sobre isso, e não só.

1- Num dos textos da tua página escreveste: “Há quem acredite no destino. Eu acredito em escolhas”. Começar a escrever assim, foi destino ou uma escolha?
A escrita sempre foi para mim uma escolha; começou pela necessidade de expressar em papel o que jamais teria coragem de dizer directamente. Nesse texto em si, quis apenas distanciar-me da ideia de que tudo o que não conseguimos explicar é culpa do destino, e sim responsabilizar-me daquilo que sou hoje, como o reflexo de várias opções que tomei na vida.
2-  Há um certo preconceito de que os homens, no geral, não são sensíveis. Podemos dizer que há portanto um certo risco quando se é homem e se decide escrever diariamente sobre sentimentos tão fortes como o amor?
Todo o ser humano é sensível – uns mais outros menos -, e os homens não podem ser excepção. Há no entanto aquela teimosia de que essa coisa do romantismo, de mostrar o que sentimos (especialmente em palavras) é coisa de mulher; não é culpa do homem, mas sim da sociedade. Não se pode com isto dizer que sentimentos tão fortes e genuínos como o amor tenham um género. Um homem que escreve tem tudo para ser um homem interessante, talvez porque com a escrita desenvolva uma facilidade em expressar o que sente, e com isso transmitir maior segurança.
3-  Desde que começaste a escrever e a formar um público (através da página no facebook) existiu algum momento que recordes de forma especial?
Sim, houve, logo de inicio, quando publiquei um texto sobre o meu pai, um dos poucos textos em que me sinto completamente presente e transparente; um texto que, não tenho qualquer dúvida, me levou a começar a escrever. O apoio e os comentários de força e coragem mostraram-me que o mundo não está perdido, que existe compaixão e, ao mesmo tempo, que – infelizmente – não estava sozinho, que o tema do texto ( a separação dos pais e distanciamento do que é uma relação pai-filho) transmitia um sentimento comumente.
4-  Qual é, para ti, a maior dificuldade em ser-se escritor em Portugal?
O maior problema nem é ser escritor em Portugal, o problema alarga-se pelos restantes sítios do mundo. E há tanto talento desconhecido. Esse é o maior problema: ser conhecido. A credibilidade é um dos factores mais importantes para que um livro seja reconhecido; é claro que o tema, o conteúdo, a história -tudo isso - é fulcral, e como eu costumo dizer: «Escrever um livro é fácil, difícil é tocar a alma com as palavras.», mas pior é quando as nossas palavras não chegam sequer à mão de quem as gostaria de ler. E é por isso que uma página de facebook, onde possamos partilhar o que escrevemos e ganhar alguma fidelidade de leitores, é tão importante.
 5-  E qual é o maior desafio na hora de escrever?
A escrita surge-me maioritariamente por uma ideia, uma frase, um pensamento, e o maior desafio é simplesmente esse: dar-lhe continuidade. Gosto de negar o mundo, questionar-me do inquestionável, contrariar tudo e dar-lhe sentido. Às vezes misturo-me no meio dessa explicação, finjo que sinto aquilo - é engraçado. Se a escrita fosse só um relato do que passámos, ou o reflexo do que sentimos, tornar-se-ia aborrecida – falo por mim.


6-  Tens algum truque para estimular a criatividade?
Não sei se lhe chamaria um truque. Talvez algo adquirido. Posso afirmar que tenho vários tipos de escrita: um mais sentimental e real, outro mais directo e enraivecido, e um mais utópico, onde misturo o que a realidade com a ficção. Depois tenho algumas temáticas que são quase inevitáveis – parece que acabo sempre por me explicar daquela forma. As ideias em si surgem-me especialmente em viagens e enquanto ouço musica. Sentir aquilo que nos rodeia em movimento, ver pessoas a entrarem e a saírem e tentar adivinhar o que lhes vai na mente. Depois há aquela coisa de estar acompanhado do livro certo: lê-lo vagarosamente, questionar porque é que as coisas foram expostas desta maneira e não de outra, ou parar para reflectir numa pequena frase. A criatividade também vem muito dai, daquilo que se lê.
7-  Tens algum autor como referência?
Sim, tenho, chama-se Pedro Paixão. É um escritor Português, já perto dos seus 60 anos, e uma grande influência no que escrevo. Gosto de dizer na brincadeira que ele é o culpado de tudo – de eu ler e escrever  -, que o apanhem vivo ou morto, para lhe dar uma surra danada. Não; o homem tem uma escrita soberba, curta e intensa, muita metafisica à mistura, muitas paixões e aventuras, muita melancolia e pensamento, e essencialmente muita experiência de vida.
8-  E um livro favorito, existe? Ou são vários?
É uma pergunta difícil. Não há nenhum livro que possa considerar de predilecto. Tenho uma preferência  clara por literatura lusófona. Gosto de autores recentes, de literatura contemporânea (Gonçalo M. Tavares. Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe, João Tordo, José L. Peixoto,...), e depois daquela literatura mesmo clássica (como Kafka, Herman Melville, Samuel Beckett, Hemingway,...). Agora livro, venha o diabo e escolha.
9-  Olhas para a escrita como um passatempo ou como algo “profissional”?
Viver da escrita, poucos vivem, mas – embora seja um passatempo - tento ser profissional naquilo que faço. Se me imagino a viver das parvoíces que escrevo: Não. Contudo, continuarei a escrever.
 10- E para além de escrever, o que gostas mais de fazer nos tempos livres?
Ler  - parece-me inevitável, não? Gosto de viajar, ouvir música, ver alguns filmes ou séries, conviver com os amigos, dos dias de praia; enfim, mais do mesmo. 
11- Se pudesses trazer de volta um autor para ter uma conversa contigo durante 1 hora, quem escolherias?
Tenho um caso interessante em que queria trazer esse tal de Pedro Paixão  a uma das minhas aulas de Português, quando andava na escola secundária, para apresentar um livro dele, então enviei-lhe um e-mail com tudo explicado e detalhado. Ele chegou a responder-me: “Gonçalo, contacta-me para este número de telefone” – e eu nunca lhe liguei. Mas esse ainda é vivo. Talvez trouxesse de volta Saramago: era um homem eloquente, abordava temas sem medo do que a sociedade pudesse ou não pensar, estava-se nas tintas se aquilo que estava prestes a publicar era o que vendia mais ou não; das pessoas mais influentes da literatura Portuguesa.
12- Existem planos para publicares algum livro?

Na brincadeira eu costumava dizer que pensaria nisso quando chegasse aos cinco mil seguidores na página – bem, é melhor meter-me a pau. Não vivo obcecado com a ideia em escrever um livro, nem há pressa. Não quero um livro só porque sim; se decidir editar algo será talvez uma compilação desses textos que tenho por ai espalhados pela página e pelo computador, de forma organizada, de maneira a que, tudo junto, ganhe sentido. Mas que se falou disso recentemente, falou.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O dia em que o Carter desafiou o feminismo


Provavalmente não sabem quem é esta pessoa. Eu também não sabia. Mas ele chama-se Carter Reynolds e ficou conhecido por ser uma webstar do Vine. Até aí tudo mal. Mas piora.

Nas últmas semanas caiu na internet um sex vídeo dele com a ex-namorada. São uns 30 segundos nojentos. Não por se tratar de sexo mas porque o que ficou explícito foi que ele tenta persuadir a rapariga a fazer algo que não queria (quem quiser que procure). Digamos que é assim: faz-me isto. Ela diz que não faz. E ele diz que ela tem que fazer e pronto (ele deve ter aprendido nas 50 Sombras).

Levantaram-se muitas vozes. Feministas gritaram. E com razão. No entanto, o mais grave foi que milhares de fãs dele saíram em sua defesa, alegando que a culpa era da namorada porque estava alcoolizada. Ou seja, a mesma desculpa de quem diz que uma mulher ao usar mini-saia está a pedir para ser violada. Portanto, uma mulher quando bebe, está também a pedir que o namorado a obrigue a realizar actos sexuais que não quer. No meio desses milhares de fãs dele, 90% eram raparigas. O que acho absolutamente grave, pois elas estão a permitir que futuramente um namorado (ou namorada) lhes faça o mesmo, ou não? 

Até aqui tudo horrível. Mas piora.

Perante a mediatização do caso, o Carter decidiu começar a usar o twitter para dizer mal da namorada e expôr pormenores da sua vida sexual.

E ainda piorou. Ontem o Carter decidiu usar o twitter de forma errada, novamente, deixando uma mensagem de despedida aos fãs, dizendo que ia suicidar-se.

Eu na verdade já desejava coisas horríveis ao rapaz, mas isso ultrapassou tudo. Não se brinca com o suicídio, não dessa forma, não quando se tem uma legião de jovens fãs (como pode?) que seguem tudo o que tu dizes e fazem disso uma lei. Não quando milhares de jovens estão DE FACTO a sofrer e pensam em suicídio como forma de fugir ao sofrimento (por razões variadas).

Não quando dizes que abusaste da tua namorada porque ela estava a pedi-las, não quando o fazes como estratégia de vitimização, não quando não pensas em matar-te verdadeiramente. 

Carter, desactiva a tua conta enquanto tens tempo. Não te odiamos completamente, pois pelo menos serviste para alarmar algumas pessoas para esta visão predominante de o homem ter sempre poder sobre a mulher, mesmo que apenas o tenha recorrendo a estratégias demasiado absurdas e socialmente intoxicantes. 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Years & Years - Communion [ opinião ]



Indo directo ao ponto: Comunnion de Years & Years é sem sombra de dúvida o melhor álbum POP deste ano, até agora. E duvido que algum lhe faça frente até ao final do ano.

Passando ao que não é tão directo. Este trabalho não é fácil de categorizar. Há quem chame synthpop ao seu som, há quem prefire o redutor pop-dance e até quem arrisque algo como pop-indie. Mas penso que o melhor é deixar as categorias de lado e ouvi-lo sem qualquer preconceito ou ideia pré-formada.

As letras falam, na sua maioria, sobre amor, relações e sexo. E ninguém espere encontrar aqui alguma metáfora para o sentido da vida. Este é um álbum que quer encher as pistas de dança e deixar toda a gente seduzida pelos beats poderosos de Take Shelter, I Want to Love e Desire (citando apenas alguns exemplos). No entanto ainda há espaço para faixas mais introspectivas como Without, mas de entre as quais se destaca Eyes Shut, com um refrão arrebatador, sempre pautada por um ritmo envolvente. Espero que seja single (se não for já)

Custa a crer que de facto este seja apenas ainda só o primeiro trabalho do trio, pois já causa um impacto bem forte na POP moderna. Há até algo de experimental no seu som e na forma como a voz brinca por entre os variados ritmos das faixas, ora repleta de efeitos, dando mais destaque ao sintetizador, ora completamente a descoberto.

Não duvido que sirvam de exemplo (e quem sabe de inspiração) para outros artistas maiores já estabelecidos no panorama da música POP actual.

Sem qualquer ordem específica, estas são as minhas faixas favoritas (note-se que por acaso a maior parte delas faz parte das faixas que foram saíndo como divulgação antes do álbum)

- Border
- King
- Take Shelter
- Eyes Shut
- Desire
- I Want to Love
- Worship
- Ties
- Gold
- Shine

Apenas um shout out final para a faixa Ties que é VICIANTE e que arrisca ao abordar um tema mais ou menos polémico na sua letra, sem nunca entrar na sexualização gratuita.  "I wanna be the one you tie...". Perceberam qual é?






terça-feira, 14 de julho de 2015

O que espero do SVE / What I expect from EVS.



PT: Dentro de alguns meses irei viajar para Itália e embarcar na minha primeira experiência de Serviço Voluntário Europeu (SVE). Aqui no blog vão puder acompanhar esta minha nova aventura, que começa, antes de ir, com aquilo que eu espero do SVE. 

EN: In a few months I'll be traveling to Italy to embark on my first experience of European Voluntary Service (EVS). Here on the blog you can follow my new adventure, which begins with what I expect from EVS.


1- Isto é um bocado óbvio. Conhecer outro país, outra cultura, outra língua. E não foi à toa que me candidatei para Itália, pois quis que da minha experiência de dar pudesse também receber logo algo em troca. Para mim isto será uma vantagem. Itália é um país que queria há muito conhecer, por isso é mais uma motivação que tenho como voluntário.

This is a bit obvious. I expect to know another country, another culture, another language. It wasn't for nothing that I applied to Italy, because I wanted to, from my experience, receive something in return. For me this will be an advantage. Italy is a country that I wanted to know for long, so it's an extra motivation that I have as a volunteer.

2- Aprender novas línguas. E não me refiro apenas ao italiano, mas também a línguas de outros países da Europa, pois vou estar em contacto também com outros jovens voluntários. Na prática isto vai enriquecer o meu curriculum.

Learn new languages. And I mean not only italian but also the languages of other European countries, as I will be in contact also with other young volunteers from all over Europe. In practice this will enrich my curriculum.


3- Dar tudo o que sei. Vou trabalhar com crianças que certamente precisam muito do meu apoio e sei que tenho muito para contruibuir através da educação informal. O meu objectivo é regressar de lá com a sensação de que lhes transmiti todos os ensinamentos possíveis, enquanto eu próprio aprendo algo também com eles.

To give everything I know. I will work with children who certainly need a lot of my support and I know I have a lot to contribute through informal education. My goal is to return home with the feeling that I gave them all the possible lessons, while I also learn something back too.

4 - Tenho que ser realista e dizer que já sei que vou sentir muitas saudades de casa, da família, dos amigos. Afinal vão ser 10 meses longe daqui. Mas espero também que isso me dê força para dar o melhor de mim enquanto estiver lá. Obviamente que espero também fazer novos amigos, de forma a não me sentir sozinho. E acho que isso não vai ser nada difícil. 

I have to be realistic and say that I know I'll miss home, my family, my friends. After all it's going to be 10 months away from here. But I also hope that this will give me strength to do my best while there. Obviously I also hope to make new friends, so I don't feel alone. And I think this will not be difficult.

5 - Espero ter novas oportunidades depois deste primeiro SVE, seja a nível de trabalho ou mesmo de outros tipos de voluntariado. Acima de tudo, espero sentir-me mais humano, mais preparado para novos desafios e com um currículo muito mais experiente e versátil depois de toda esta experiência que, mesmo sem ainda a ter vivido, já sei que será um momento completamente diferente e entusiasmante na minha vida.

I hope to have new opportunities after this first EVS, either at work or even at other types of volunteering. Above all, I hope to feel more human, more prepared for new challenges and with a much more experienced and versatile resume after this whole experience that I know will be a completely different and exciting moment in my life.


Forli, a cidade onde vou viver, perto de Bolonha e Florença. /
Forli, the city I'll live in, near Bologna and Firenze.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Justine - ou os infortúnios da virtude [ opinião ]



Pode um livro destruir tudo aquilo em que acreditamos? 

A resposta é sim.

Em "Justine", o irreverente e polémico autor, Marquês de Sade, serve-nos violentamente a história de Justine (ou Teresa), pautada por tantos infortúnios quanto é possível à mente humana imaginar.

A protagonista é raptada, violada, roubada, obrigada a servir em rituais de sadomasoquismo... entre outros momentos que prefiro não revelar. 

É um livro erótico, sim. Mas é muito mais do que isso. É um livro extremamente filosófico, levando-nos a reflectir, mesmo que não o queiramos fazer entre tanta repulsa, sobre o amor, a religião, política, economia, valores morais...

É já, por isso, um dos meus livros do TOP 10 de favoritos de sempre, pois levou-me a pensar e muito sobre temas que tinha como adquiridos, mas que se apresentaram diante de mim com novas formas e com novos pontos de vista muito diferentes daquilo a que estou habituado. 

Note-se que este livro foi escrito e publicado no século XVII mas que continua tão pertinente como na altura em que foi pensado.

É um livro desconcertante, que nos testa. Sim, ele testa o nosso limite à dor, embora não a possamos sentir fisicamente, mas ela está lá, naquela frase que nos provoca, que nos faz questionar a nossa humanidade. 

Prova disso é que até meio do livro eu sentia angústia com tudo o que de mal acontecia à narradora da história, mas mais no final houve uma cena em que ri mesmo alto perante o azar da protagonista. Esse riso não foi mais do que uma porção do meu subconsciente a manifestar-se visivelmente. Parece que depois de assistir a tanta tragédia, de tanto reflectir sobre isso, até eu já tinha abandonado a minha virtude para me rir da desgraçada Teresa.

É esse o poder da literatura. E este é um livro demasiado poderoso, por isso foi tantas vezes censurado por políticos e religiosos.

Obrigatório ler. Mas não é para todos, pois acredito que muitos não consigam passar de certas páginas em que as descrições NOJENTAS de certos actos sexuais são extremamente arrepiantes... 

domingo, 12 de julho de 2015

Inside Out: animação para adultos.



Inside Out (Divetida-mente) é facilmente um dos melhores filmes de animação da Disney/Pixar.

Contando a história de Riley, uma menina de 11 anos que vai viver com os pais para uma cidade diferente, deixando os amigos para trás, o filme explora os seus sentimentos de alegria, tristeza, medo, raiva e repulsa, trazendo-os personificados como personagens vivos dentro da sua cabeça.

Não quero fazer spoilers, mas devo dizer apenas que este filme de animação não é para crianças, ou pelo menos os mais pequenos não vão ter o poder e (ainda) o discernimento de compreender toda a forte mensagem que é passada através das aventuras destes sentimentos e do crescimento da própria Riley.

Não estranho portanto que, ao intervalo, um menino de uns 8 anos na fila mesmo à minha frente tenha dito para o adulto que o acompanhava: "Não estou a gostar deste. O filme é muito esquisito."

E é, percebo perfeitamente. O filme tem uma profundidade brutal sobre as "doenças" da nossa mente, sobre as nossas memórias e sobre aquilo que vamos perdendo conforme nos tornámos adultos e vamos envelhecendo.

Nos momentos finais ouvia-se o fungar de várias pessoas, crescidas, pela sala. Também eu chorei e... muito. Tem cenas absolutamente tocantes, que nos lembram de que já passámos por isso e que nos obrigam a reviver momentos importantes do nosso crescimento como pessoas.

Não chorava assim num filme de animação desde Toy Story 3 ou Rei Leão

Só para terem noção do quanto foi impactante ver este exercício sobre a mente do ser humano.

Viajar pela CP? Não, obrigado! Vou de carro.



O NOS ALIVE foi brutal. A CP foi uma porcaria.

O que vos vou contar parece surreal, mas acreditem caros amigos: é a pura da verdade e passou-se na bilheteira da CP no Entroncamento.

Antes disso, só para que percebam. Comprei o meu bilhete para o NOS Alive pela bilheteira online dos CTT. Daí recebi o ingresso por e-mail e tive que imprimir em casa (ainda sou do tempo em que recebíamos os bilhetes por correio, sem gastar tinteiro...)

Chego então à bilheteira no Entroncamento e presenciei um verdadeiro fenómeno. Digo ao senhor que me atende que quero um bilhete de ida e volta com os 30% de desconto a que tinha direito por ter o ingresso para o festival. Mostro então o bilhete do NOS, como pedido. E diz-me o senhor: "Este bilhete não dá para ter desconto"

COMO ASSIM? QUEREM VER QUE TINHA COMPRADO UM BILHETE PARA O TONY NO MEO ARENA POR ENGANO!!! 

Perguntei porquê. Diz-me ele arrogante "Porque não dá e pronto!".

Juro que fiz muita força para me controlar e não dizer coisas gravíssimas que me passaram pela cabeça, e lá disse mais ou menos calmo: "Desculpe lá mas tem que me dizer porque é que não dá, se este é o único bilhete que tenho para o festival, porque é que não dá desconto?".

Diz-me o senhor, ainda mais arrogante: "Porque não dá. E nem tem que perguntar porquê".

Pronto. Aqui explodi logo, pois se há coisa a que tenho alergia é a estes resquícios da ditadura do tens que aceitar e calas-te. Quem me conhece, deve imaginar como esta atitude me revoltou!

Perante a minha insistência já em voz alta, o senhor lá decide mostrar-me no ecrã do seu computador que os bilhetes que (segundo ele e a CP) davam então o tal desconto eram aqueles bilhetes mais verdes e amarelos (que se vendem em algumas bilheteiras). Ao que eu explico que comprei nos CTT e que tive que imprimir e que era um bilhete como outro qualquer e que tinha de ter o desconto e que já me estava a passar!!

Agora, só para fazermos uma pausa, vejam o que está escrito no site da CP. 

Por acaso isto diz aqui que há um tipo de bilhete específico que dá o desconto?!


Diz-me que não, que não ia ter desconto e que ou comprava assim ou não. Faltavam já 5 minutos para o comboio partir e digo-lhe eu: "Muito bem. Não tenho outra alternativa. Mas depois venho cá escrever no livro de reclamações, porque as informações não eram estas. E só não o faço agora porque já não tenho tempo".

E agora PASMEM-SE, diz-me o homem: 


"Não tem nada que escrever no livro. E muito menos tem de o pedir."



Ou seja, voltámos aos tempos da ditadura e então foi aqui que passei-me de vez. Não vou alongar-me com o discurso, mas acreditem que não deixei nada por dizer (e sem nunca perder um pingo de educação! Acreditem que foi possível.).

O homem, claramente muito mal educado, acrescenta ainda uma pérola: "Escreva no livro escreva. Só vai fazer má figura". Ou seja, este senhor é certamente cliente de algum serviço. Imaginemos: um serviço de Internet, prometem-lhe 30% de desconto na factura, não o fazem, ele paga, não reclama, fica calado porque... só ia fazer má figura. 

E como me parece que estávamos claramente em níveis diferentes de cidadania , aqui dei-me por encerrado e só lhe disse que "Você não tem nada que comentar o que eu devo ou não fazer, porque não tem direito algum de dizer o que faço da minha vida".

E acrescentei aquele olhar e estalido da língua de "THE END!".

Embarquei no comboio, sem desconto, revoltado e vou lá voltar DE PROPÓSITO para escrever no tal livrinho (mas é que nem que tivesse que fazer 50km, a questão aqui já não se prende só com o desconto, mas sim com toda a situação). Vou enviar e-mail a reclamar. Vou ligar para a linha de apoio a reclamar. Vou escrever aqui, partilhar no facebook, no twitter, no instagram, acho que até vou criar uma rede social só para isto. Porque estas plataformas não existem só para nos divertimos, também podem funcionar como um alerta e como forma de nos fazermos ouvir.

Esta situação ultrapassou o limite do ridículo e porque certamente aconteceu a mais pessoas neste dia. Duvido é que tenha calhado a todos um mini-salazar como a mim.

Ao senhor, sem qualquer rancor, e a quem passa por estas situações e não reclama o seu direito, tenho apenas uma música a dizer, em jeito de animar um bocadinho a coisa: "Sou da geração: vou queixar-me para quê?" (para fazer má figura?)

Pois sou, mas eu não sou parvo! E enquanto for direito meu queixar-me, irei usar e abusar dele sempre que tenha razão.

Note-se que já fiz 2 reclamações na CP antes, só para dar uma ideia do excelente serviço que é. Não admira que esteja na situação em que está. Mas isso são outras histórias, que ficam para outro dia. 







quinta-feira, 9 de julho de 2015

Entrevista: Ana Ribeiro



Ana Ribeiro é a autora do livro "Um amor inexplicável", um romance que conta a história de João Pedro, jovem que descobre o amor enquanto trava uma dura batalha contra a leucemia. Falei com a Ana sobre este seu livro e também sobre outras leituras e projectos futuros.

1 - O teu livro fala-nos de uma doença bastante grave: a leucemia. De onde surgiu a ideia de abordares um tema assim tão forte?
Primeiro que tudo pelo facto de ser licenciada num curso ligado à saúde e ser um tema pelo qual sempre tive bastante interesse. Depois pelo facto de ser um tema muito actual - praticamente todos os dias ouvimos ou lemos notícias de pessoas que morrem devido ao cancro - e já bastante abordado em filmes e livros que fui vendo e lendo; foi devido a essas experiências e a casos de crianças portuguesas com leucemia que acompanhei pelo facebook que surgiu a ideia de abordar este tema no meu livro.

2 - Buscaste inspiração em alguém ao teu redor para criares os personagens principais, João Pedro e Laura?
Não! Inspirei-me essencialmente em personagens de filmes e livros que vi e li. Um dos livros que mais me inspirou foi o da Sofia Lisboa: "Nunca desistas de viver". Vale a pena ler.

3 - Como está a ser esta experiência de lançar o teu primeiro livro com a Capital Books? Era um sonho de há muito tempo ou mais recente?
Esta não é a minha primeira experiência no que diz respeito a lançamentos de livros, em 2011 editei um livro de poesia; no entanto, é a primeira vez que lanço um romance (um género literário que gosto muito!) com a Capital Books. Estou a adorar a experiência, a equipa da editora é bestial e está a ser um sonho tornado realidade porque sempre quis muito publicar esta história. Por ter sido a história mais desafiante que escrevi, pelas lições de vida e aprendizagens que retive durante o seu desenvolvimento, por me ter tocado particularmente e ter muito significado para mim.

4 - Como escritora, tens algum outro autor como referência?
Sim! O José Luís Peixoto, adoro a sua forma de escrever, de se expressar. A maneira como cativa facilmente quem o lê, os seus livros e textos são baseados nas coisas simples do dia-a-dia, que podem parecer insignificantes, mas ele dá-lhes um valor enorme. Recordo-me agora de uma das crónicas dele da revista "VIsão" que se centrava num simples boné. 
Gosto da sua simplicidade e humildade.

5 - Tens algum livro preferido? Ou vários?
Tenho vários. É difícil escolher um, porque como disse houve vários que me marcaram. No entanto, dou o exemplo de um "A Saga de um Pensador" do Augusto Cury. Aconselho e recomendo a leitura, é fantástico.

6 - Agora que foi publicado o teu primeiro livro, tens algum projecto futuro também ligado à escrita?
Sim! Já tenho outros romances terminados e o próximo a ser editado já está escolhido. Estou a desenvolver agora um romance ao qual chamei "Mundo a Preto e Branco" que aborda a temática da internet e das amizades virtuais.
Também ando há algum tempo a amadurecer a ideia de me estrear na escrita de uma peça de teatro, é algo que quero muito fazer, por ser algo diferente e exigente. Mas até agora achei sempre que não tinha conhecimentos suficientes para isso, ainda preciso de ler muito sobre teatro.

7 - Como leitores, o que podemos esperar antes de começar a ler o teu livro? 
Um livro onde a amizade e o amor são os ingredientes principais, várias aprendizagens e lições de vida que o João Pedro vai deixando ao longo da sua batalha contra a doença. E uma forma diferente olhar a vida.

Página de facebook e blogue da autora: 
https://www.facebook.com/anafrdiasoficial
https://omeublogdeescrita.wordpress.com/