domingo, 31 de janeiro de 2016

O Elevador - ler para ajudar



O Elevador relata a atribulada subida de 5 estranhos num funicular de uma cidade. Ali cruzam-se com um ser misterioso, que os leva a um desfecho inesperado. O Elevador é uma estória que quer despertar a sua atenção para a assustadora falta de olhar que está a propagar-se pela sociedade, tornando-a apática até aos assuntos mais sensíveis.

E foi também por isso que decidi fazer deste conto algo que contribuísse para uma causa. Desde que foi escrito, em 2014, este conto teve muitos destinos, mas nenhum me pareceu mais apropriado do que este de apoiar uma causa maior.

Como explica a imagem, ao adquirir este conto está a contribuir com a totalidade do valor para o Lar de Infância e Juventude de Torres Novas (que muitas pessoas conhecem como Lar dos Rapazes). Esse valor será usado para adquirir material necessário para o Lar (o que será decidido com a direcção e com os rapazes, que terão uma voz activa nessa escolha). 

O conto está disponível apenas em formato digital (ebook), porque só esse formato permitia comercializá-lo com um valor tão simbólico. Por agora pode fazer a compra neste link, usando a sua conta paypal, mas para quem não tiver uma conta paypal ou para quem não estiver muito à vontade com estas tecnologias, existem outras soluções. A primeira é falar com a Helena Caetano, técnica de acção social e minha amiga que está ajudar-me e muito neste projecto. É simples: basta entregar 1€ à Helena e deixar o seu e-mail. O conto será depois enviado para o e-mail e pode disfrutar da leitura no seu computador, tablet, smartphone... 

Outra solução passa pela colaboração das escolas e outros espaços de Torres Novas. Em breve serão colocadas fichas onde pode inscrever o seu e-mail, deixando 1€ num "mealheiro". Ao fazermos a recolha, o conto será também enviado da mesma forma descrita atrás. Mais novidades sobre isso surgirão entretanto.

Se por algum motivo tiver alguma ideia que possa ajudar, saiba que pode contactar-me à vontade aqui no blog. Tudo o que seja para ajudar a levar o projecto mais longe, será sempre bem-vindo.

Resta-me deixar alguma informaçao sobre o "Lar dos rapazes", e agradecer a todos aqueles que estão a tornar este sonho possível.



"O Lar de Infância e Juventude acolhe 12 jovens, com idades entre os 12 e 18 anos, que se encontravam em situação de risco ou perigo, proporcionando-lhes acolhimento 24 horas por dia, 365 dias por ano, visando não só a satisfação das suas necessidades básicas, mas também a educação, cultura, conforto e o envolvimento afetivo necessários para o seu saudável desenvolvimento.




O grande objetivo do Lar é tornar cada criança e jovem FELIZ, definindo com ele um projeto de vida sustentável e promovendo a sua integração social.
Para isso todo o trabalho desenvolvido com os jovens é pensado e organizado de forma terapêutica, contando com uma equipa especializada integrada por 1 Assistente Social, 2 Psicólogos, 1 Professor e 6 Educadores, que garantem a intervenção individualizada a todos os jovens.


A intervenção terapêutica, individual e em grupo, é um eixo central da nossa intervenção e um meio importante para a estabilidade emocional e sucesso dos jovens, sendo por isso assegurada diariamente pelos psicólogos. Todos os jovens têm também um educador que garante a atenção às mais pequenas necessidades do seu educando, ajudando-os a superar as dificuldades do dia-a-dia e a celebrar os sucessos."

Pode visitar a página do Centro aqui.


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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A origem da subida

A história "O Elevador" foi escrita em 2014, inspirada em algo que realmente aconteceu comigo num dos elevadores da Covilhã nesse mesmo ano. Inspirei-me em algo em que reparei numa subida que ali fiz com os meus pais. Claro que isso foi apenas um rastilho para a vaga de criatividade que depois acendi no que escrevi. Muito mudou, até o nome do elevador, mas a base está lá. Até neste excerto ela está presente.
Essa história foi lida pela primeira vez, em voz alta, a uma amiga, num dia muito quente desse Verão, numa das piscinas vizinhas à cidade. E agora, dois anos depois, esse texto vai ser publicado pela primeira vez. Com uma missão. Uma grande missão, sobre a qual falarei no próximo dia 31.
Por agora tinha que explicar a sua origem, pois devo muito a essa cidade. Inspiração nunca me faltou por lá.
E não há maior orgulho do que agradecer-lhe assim, com algo que escrevi, tornando-a eterna nas minhas palavras.


[ opinião ] Brooklyn: não subestimem esta obra



"Ellis Lacey emigra para os Estados Unidos, deixando a Irlanda, terra natal, indo à procura dos seus sonhos no outro lado do oceano. No ínicio da sua nova vida nos EUA, sente falta do que deixou para trás, mas aos poucos vai ajustando-se, até que começa um romance com Tony, filho de imigrantes italianos. Quando o seu passado regressa, terá que escolher entre dois países e as vidas que existem entre estes."

Esta crítica é tudo menos isenta de sentimento. É impossível afastá-lo daqui. 

Talvez seja porque neste momento estou a viver num país estrangeiro (Itália!). Talvez seja porque estou longe de Casa. Mas há muito tempo que não chorava tanto com o final de um filme. E o que senti foi que estavam a entrar dentro de mim e a expor tudo aquilo que eu nem consigo escrever. E não nego que tudo isso tenha pesado na hora de o ver. Mas há algo incontornável. Brooklyn aproxima-se de nós como um simples filme de romance, de uma emigrante irlandesa que vai à procura de um futuro melhor noutro país. Mas depois revela-se uma obra poderosa sobre a saudade e as dificuldades que uma pessoa estranha num mundo novo sente ao tentar adaptar-se. E como é que uma história ambientada nos anos 50 do século XX consegue ser tão actual?

Uma actuação excelente de Saoirse Ronan (Ellis), que convence, ajuda a envolver-nos ainda mais na história. Ela transmite a insegurança inicial de uma forma arrebatadora (como o facto de não conseguir sorrir)... mas também transmite e bem a transformação que ocorre com a sua nova experiência. O argumento, num guião muito bem escrito, também ajuda e muito, com cenas que são simplesmente acutilantes, no sentido que nos tocam directamente em pontos sensíveis. 

E pelo meio há uma cena que grita muitos dos medos que só quem vive distante daqueles que ama, consegue entender a 100%. Sem spoilers, mas digamos que é aquele medo de não chegar a tempo... e é aí que o filme se transforma de todo e se assegura como uma obra-prima do cinema.

De todos os nomeados que já vi, Mad Max e The Revenant eram os únicos aos quais eu entregava o Oscar. Mas este Brooklyn apanhou-me completamente de surpresa. Obrigatório ver!




"Sentirás tantas saudades de casa e não há nada que possas fazes, além de esperar. Mas vais esperar. E isso não te vai matar. E um dia, o sol aparecerá. Talvez não notes de imediato, mas vais senti-lo." 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

[ opinião ] The Revenant: O Renascido



Directo ao ponto. É um filme brutal. Em todos os sentidos. Mas não quero estragar surpresas e vou só falar de pontos gerais.

Excelente produção. Sonoridade exemplar. Planos que ajudam a criar uma tensão que nos toca, tornando a acção por vezes tão real que arrepia. E uma fotografia que nos traz imagens que à primeira vista se tornam de imediato inesquecíveis. Estes são os ingredientes base que fazem deste um magnifico trabalho do cinema actual.

Depois temos uma performance de topo por parte do actor Tom Hardy, que é para mim a grande estrela deste filme. Brilhante, irreconhecível, perturbador. E o Leonardo que me perdoe, mas se há 2 Oscar que este filme devia ter como garantidos, seriam o de melhor actor secundário (Tom Hardy) e o de Melhor Realizador (Alejandro G. Iñárritu). 

E só não digo já o de Melhor Filme, porque ainda não vi todos os outros nomeados.

E porque o Mad Max até ver continua à frente na minha preferência. 

Mas The Revenant é daqueles que leva algum tempo a processar-se. E nem eu sei se a minha opinião não o favorece mais entretanto. 

Seja como for, é sem dúvida nenhuma, tal como o Mad Max, um dos grandes filmes de 2015 e um dos meus favoritos desde que me lembro de apreciar cinema. 


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Como é viver como voluntário em Itália - em 5 pontos

Voluntários europeus em visita a Ferrara, cidade património mundial da Humanidade.

Já vos falei do que tenho feito como voluntário no Centro educativo onde trabalho. Já vos mostrei muitas fotos dos sítios que visitei, mas faltava-me contar-vos como é realmente viver como integrante de um projecto de voluntariado europeu aqui em Itália.

1 - Primeiro que tudo, é diferente. A vida que eu tinha em Portugal, ficou lá. Com todos os detalhes. Imaginem por exemplo que teriam que ficar 10 meses sem conduzir o vosso carro. Sim, sou eu. 10 meses em que só ando de bicicleta, ou a pé, ou de comboio. Parecendo que não, isso é algo que muda e muito a tua forma de viver. Torna-a até mais saudável. Ontem dizia - e bem - que desde que cheguei a Itália já andei mais a pé do que na minha vida toda. :D

Na feira de comics em Forlí, com os meus dois super-heróis favoritos. :D



2 - Ser voluntário num país que te é estranho é aproveitar para o conhecer ao máximo. Ou pelo menos, devia ser. E no meu caso é. E de que maneira. Tenho aproveitado para frequentar diversos acontecimentos culturais e alguns que não são exclusivos de Itália, mas que posso conhecer com outra perspectiva. Já fui ao Teatro (ver uma verdadeira Ópera italiana), fui a museus, exposições de arte (gratuitas, eheh!!), fui a um festival de cinema, tenho comprados livros de origem italiana e até fui a uma feira de jogos e comics aqui em Forlì, onde encontrei vários livros da Marvel a 1€!! Resumindo: cultura, cultura, cultura... 

Numa aula de italiano, rodeado de voluntários de vários países.

3 - Viver como voluntário é viver com todo o mundo. Ou pelo menos com toda a Europa. Já cruzei caminho com voluntários da Roménia, Espanha, França, Polónia, Rússia, Turquia, Alemanha e não só. De cada um recebi sempre novas perspectivas, novos ensinamentos. E por vezes não é fácil lidar com tanta diversidade. Tens que te habituar e até ceder a novos hábitos, de forma a viveres num ambiente propício a todos. O melhor? Todos demos uns aos outros novas formas de resolvermos e encararmos os problemas que nos aparecem ou não diariamente. 


Em frente à Catedral em Orvieto. Ser voluntário também é viajar. Muito.

4- Economizar é uma palavra que ganhou um significado tremendo. Nós recebemos dinheiro para a comida e outro dinheiro extra (depende dos projectos), mas quando vamos às compras estamos constantemente a procurar os preços mais baixos. Nós não temos um salário. Para todo os efeitos, não temos. Agora pensem o que é viver sem isso. É muito positivo. Estranho? Acreditem que é. Quando vou a um museu ou teatro estou sempre à procura de descontos (para estudantes, voluntários, por exemplo). E acreditem, nós passamos a dar muito mais valor ao dinheiro. Isso é extremamente... enriquecedor.

Subi ao topo da Catedral (Duomo) em Firenze e tirei esta foto. Que vista!!



5 - Como último ponto. Viver aqui, nesta bolha, neste contexto à parte de tudo, pode parecer muito bonito e encantador. E é. A verdade é que o é. E estaria a mentir se vos dissesse o contrário. Claro que as saudades custam e não é pouco. Mas a grande sombra que paira sobre nós é que sabemos que os nossos projectos têm um fim marcado e que, mais cedo ou mais tarde, teremos que voltar à realidade. Depois há outro peso. Falei com muitos voluntários e até com uma amiga que está também num projecto do SVE (em Espanha) e há algo que em menos de 4 meses já se torna evidente e assustador. Nós já não nos revemos na realidade que deixámos para trás. Os nossos amigos e a nossa família serão sempre isso, mas é impossível dizer que ainda nos revemos em todas as conversas. Não é fácil escrever uma coisa destas. Mas alguém tinha que o dizer. A única diferença é que nós aqui começamos a dar mais importância a outras coisas e que por muito que falemos nunca conseguiremos transmitir, nem por palavras, nem por imagens, nem por vídeos, aquilo que cresce e muda dentro de nós todos os dias. Mas a culpa não é deles. É nossa, pois fomos nós quem decidiu cometer esta saudável loucura. 

O meu desejo é conseguir recuperar isso tudo quando um dia voltar. E claro, levar-vos a todos um bocadinho do que estou a APRENDER. :)
Ravenna. Uma cidade absolutamente linda. Um daqueles casos que não vem nos guias turísticos mais populares, sem que se entenda porquê.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

[ opinião ] Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força


SPOILERS

Primeiro que tudo, convém dizer isto: eu sou o ultimate fã de Star Wars. Sou... naquele nível em que quando as letrinhas amarelas deste episódio VII começaram a deslizar pelo ecrã, não consegui conter os arrepios e as lágrimas de emoção, quase não conseguindo ler o que lá estava escrito. Também não faço parte daquele grupo de fãs que odeia as prequelas. 


Fui ver The Force Awakens num cine-teatro centenário em Firenze (aqui em Itália). Neste país há um grave problema. TODOS os filmes são dobrados em italiano. Agora imaginem o que sofri para encontrar um cinema que passasse o filme na sua língua original. 

No fim da minha busca, dei por mim sentado nesse épico cinema (um edifico BRUTAL!), rodeado maioritariamente de turistas americanos e ingleses (foram ali ter pela mesma busca que eu, estou certo). 

Mal apareceu no ecrã "A long, long time ago..." todos começaram a bater palmas. E eu também. Quando aparecia alguém da velha trilogia o efeito era o mesmo. Palmas, gritos, euforia (juro... nunca tinha estado numa sala assim).

Posso dizer que vivi uma experiência a - ma - zing. E claro que tudo isto tornou o assistir do filme em algo ainda melhor do que aquilo que só pelo filme em si já podia ser.

Posto isto, vamos ao que interessa. 

The Force Awakens não é inovador. É justo que o vejam sobretudo quase como um remake do Episode IV (os pontos fulcrais do plot são quase os mesmos). Até eu a meio do filme dei por mim a pensar que esperava algo mais do que aquilo que estava a ver. E acreditem, eu estava a AMAR tudo até aí. Mas conhecendo e bem a obra do génio J.J. Abrams, faltava-me ali qualquer coisa de seu. Um toque de génio, digamos.

Mas... se até esse ponto a minha excitação pelo filme eram sobretudo os hints à saga, e não propriamente pelos personagens novos, devo dizer que na parte final tudo mudou e dei por mim a rejubilar por terem entregue a minha saga favorita de sempre a este realizador.

Ao fim, este Star Wars equilibra de forma espectacular tudo o que os anteriores filmes tinham de bom com aquilo que traz de novo e que poderemos esperar nos próximos da saga. 

Exemplo disso é a última cena, a derradeira imagem do filme. Quando a Rey vai a subir rumo ao topo daquela montanha onde está o Luke. Foi aí que este filme ganhou para mim todo um novo valor. Ainda por cima com aquela música épica a tocar (e com o sample de Binary Sunset!!) É uma cena  final completamente diferente de tudo o que já foi visto num Star Wars. Como se durante todo o filme o J.J. Abrams nos estivesse constantemente a dizer "Ok ok... fãs.... agora estou só a fazer aqui umas homenagens aos filmes de que vocês gostaram..." para depois nos exclamar nessa cena "OK! Esta saga agora é minha e isto a partir de agora vai ser à minha maneira".

Foi o que senti, que nos estava a passar uma grandiosa mensagem de esperança para os próximos filmes. Foi aí que este se tornou de imediato num dos meus Star Wars favoritos.

Já vi o filme há quase 3 semanas e só agora consegui escrever sobre ele, pois nao é fácil digerir tanto sentimento, tanto pensamento sobre o que vi. 

Mas quando saí daquele cinema, de olhos a brilhar, de sorriso rasgado, a agradecer ao George Lucas por ter vendido os direitos à Disney, a minha ordem de preferências do meu TOP 3 ficou assim:

- Ep V
- Ep III
- Ep VII

Por enquanto, mantém-se (como por acaso, tem um filme de cada trilogia). 

A Força despertou. E de que maneira!


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

[ OPINIÃO ] The Gift: O Presente



"Simon e Robyn casaram há pouco tempo e estão muito felizes até ao dia em que ele reencontra Gordo, um antigo colega de escola. Um segredo do passado dos dois vem à tona e Robyn sente-se cada vez mais insegura perto do seu companheiro."

The Gift é um thriller psicológico dos pesados. É um filme sobre bullies, vítimas e agressores. Não tem gore nem violência, por isso não é bom para quem o vai ver à espera disso. É um daqueles filmes que vive só dos personagens (e do enredo, claro). Eu vi-o sem saber muito... e agradeço-me por isso. Explicar por que é tão forte é impossível sem fazer spoilers. Mas vou tentar desta forma. Desde o início que sabemos quem é o sociopata da estória. A meio do filme eu comecei a sentir EMPATIA por ele. Senti-me mal. Afinal porque haveria eu de estar do lado de um sociopata? Quando perto do fim se descobre mais sobre ele, percebi de imediato porque tinha sentido isso. E foi a - ma -zing! O filme jogou com os meus sentimentos de uma forma brutal. E depois deixa no ar a dúvida, o desconforto, sobre quem são realmente os sociopatas desta sociedade em que... vivemos? Preciso urgentemente de discutir isto tudo com alguém que já o tenha visto. Por isso, se ainda não viste, faz-me esse favor. 

No fundo é um filme brilhante que levanta muitas questões sobre os nossos papéis na sociedade, sobre como as nossas decisões afectam e muito as vidas de outros e sobre a manipulação das ideias, informações e boatos que se espalham (que espalhamos?) ao nosso redor.

Vai directo para a minha lista de melhores filmes de 2015.






quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

3 meses em Itália. 3 meses como voluntário.


Na praia em Cesenatico, um local que me emocionou de tão mágico...
vejam só este mar tão calmo, tão sereno...

Já há algum tempo que não escrevo sobre o meu projecto de voluntariado aqui em Itália. Ou pelo menos não tenho escrito aqui no blog, pois tenho feito alguns apontamentos num bloco de notas que anda (quase) sempre comigo.

Mas passaram-se 3 meses desde que aqui cheguei e parece-me uma boa altura para vos actualizar.

Agora sinto que cheguei mesmo àquela fase em que sei que estou verdadeiramente aqui. No início era muita 'confusão'... com uma língua completamente nova, pessoas e lugares novos, enfim... era tudo novo. Agora sinto que já domino a língua facilmente. E já não sinto aquele cansaço inicial de quando queria dizer algo e não sabia como. 

Mesmo assim há sempre coisas que nunca se conseguem dizer sem ser na tua língua mãe, nem em inglês, nem em italiano te sai algo semelhante. Parecendo que não, isso ao início tornava-se muito desgastante. Mas quando estás à vontade para ter uma conversa decente, sentes que o mundo é teu.

E é o que sinto neste momento. Sinto também que estou aqui por uma razão muito especial. Acrescento que não podia ter tido mais sorte com o meu projecto. Como já contei antes aqui , sou voluntário num Centro Educativo com crianças. E acreditem que tem sido um desafio brutal, mas que estou a amar verdadeiramente. Em 3 meses, somando o ter que lidar com a saudade, eu já aprendi muito e cresci tanto, mas tanto. Os meus pais vieram visitar-me a Roma nesta passagem de ano e até eles perceberam que eu estava... diferente, mais forte e... feliz. :)

Jardim do Centro Educativo. Lindo, não? É um lugar fantástico, verdadeiramente. 

Hoje penso no Filipe que apanhou aquele avião no aeroporto em Lisboa e já não o reconheço. A verdade é que esse Filipe evoluiu mais em 3 meses do que em muitos outros anos na vida. As condições assim obrigam, e ainda bem. Claro que viver tantas coisas novas em tão pouco tempo pode tornar-se cansativo, mas eu sou de ir à luta, e tenho tirado tudo muito, muito positivo desta experiência. Tenho conhecido pessoas de todas as partes do mundo, indo de encontro a muitas culturas e costumes.

E o mais importante de tudo: nunca me senti tão bem ao ir para um trabalho. Há muito tempo que não sentia esta vontade assim. E é daí que tiro a Força para aguentar a falta que sinto da família, amigos, das minhas coisas...

Mas são aquelas crianças, tão especiais e únicas, que despertam isto em mim. 

Dois dias por semana estou a auxiliar com os trabalhos de casa especificamente dois rapazes que fazem parte do grupo de crianças que têm deficiências, desde "simples" atrasos na aprendizagem ao autismo, passando por muitas outras patologias. E é aí que está o grande desafio dos meus dias. Com eles todos os dias existem novas conquistas, todos os dias procurámos novas formas de os ajudar. Mas eles também me ajudam e muito. Recebo muito carinho, e muita felicidade quando juntos conseguimos concluir bem alguma tarefa. É uma luta constante, que me completa como ser humano. É aquilo que me trouxe aqui.

Tenho já muitos momentos que guardarei sempre na memória com muito carinho. Por exemplo, num dia cheguei ao trabalho e um dos meninos do Centro veio procurar-me e perguntou-me "Podes ajudar-me com o inglês?". Pode parecer uma questão simples, mas para fim foi algo que me deu mais uma razão para aqui estar. O simples facto de saber que precisam de mim, que sou útil, que sou valorizado... é algo que está noutro nível da vida, onde eu nunca tinha estado antes. Acho que o ser voluntário será isso mesmo.

Bonecos de neve que fizemos numa actividade com os bambini. São feitos de queijo... tão bom!! :D

É difícil explicar assim por palavras, sem que vocês estejam lá para ver e viver comigo. E mesmo antes de eu fazer isto, falei com algumas pessoas que já tinham feito antes, e que também tentaram explicar-me a sensação... mas de facto só estando lá é que se consegue perceber em pequenos gestos, em simples palavras, como estamos a tocar aquelas vidas. Às vezes basta um olhar, um sorriso terno, e tudo faz mais sentido.

E principalmente para mim, que sou muito sensível a certas questões, tem sido uma experiência mesmo emocionante. Sei que ainda falta muito para acabar, mas já tenho a certeza de que um dia sentirei muitas saudades disto.

Para além do trabalho como voluntário, tenho passeado muito (se têm acompanhado a página no FB ou instagram, já sabem como). Mas fui a Roma (já 2 vezes), Ravenna, Firenze, Cesenatico... e tenho conhecido lugares absolutamente lindos e inspiradores. Apaixonei-me completamente por Firenze! Completamente!

No topo do Duomo em Firenze (Florença). A cidade do Renascimento é simplesmente de se apaixonar. Devia ser proibido vir a Itália e não ir lá.  


Isso de passear muito também faz parte da minha vida aqui e estou a explorar Itália ao máximo, pois é um país que tem muita História. 

É um país onde eu estou agora a escrever a minha nova estória. 


"E gli anni passano e non ci cambiano,
davvero trovi che sia diverso?
Guardami in faccia i miei occhi parlano
e tu dovresti ascoltarli un po' più spesso"