quinta-feira, 30 de junho de 2016

Serviço Voluntário: La Vita Com'è

Sem comentários!



"28 de Maio de 2016 - Venezia.

15:13h

Sentado no chão, descalço, morto de calor. E o meu telemóvel avariou. Não liga. Fiquei perdido no meio das ruelas da cidade, sem mapa, sem a morada do camping onde vou dormir, sem nada. Para melhorar, perdi o bus que me leva ao camping e tenho que esperar tipo 2 horas pelo próximo. 

Mas pelo menos tudo isto está a acontecer numa das cidades mais bonitas onde já estive. Veneza é deslumbrante, com todos os canais de água, com os monumentos e portas mesmo a dar para o 'rio'. É tão diferente de tudo o que já vi!

Como tenho que esperar pelo bus, acho que vou andar de barco entretanto. 

Não sei exactamente que horas são agora.

Afinal vim num pequeno treno. Estou sentado algures de frente a uma igreja brutal, com os pés sobre a água do canal. Este momento é impagável. Os barcos passam para cá e para lá, como carros passariam numa estrada. E Veneza é isto! 

17:00h

'Vou ter tantas saudades tuas, Itália!' - disse-o agora. Sim, mesmo em voz alta, para que ela me ouvisse bem. Estou novamente sentado junto à água, sozinho, e acabei de ter um momento que me emocionou. Foi a simples percepção de que estou mesmo aqui, de que já visitei tudo o que queria visitar neste país e que faz um ano que tive este sonho de vir para cá como voluntário. E cá estou, aconteceu. É real. A vida por vezes é tão descomplicada, até simples, quando queremos só aquilo a que temos direito.
Não restam dúvidas de que isso foi um dos maiores ensinamentos deste meu Serviço Voluntário. 
E por esta experiência... amor, só amor."


Ainda custa a acreditar que aqui estive.


quarta-feira, 29 de junho de 2016

Serviço Voluntário - Pizza 4 Estações

Firenze, Milano, Venezia e Napoli. Nota: tirar menos fotos com a merd* dos óculos. :D


Hoje fomos com os miúdos do Centro à praia e isso trouxe-me de novo uma lembrança.

Chegamos ao Verão e isso significa que o meu Serviço Voluntário Europeu em Itália já passou pelas 4 estações, como a pizza.

Infelizmente... isso significa também que chegamos à época das despedidas. Começam. Um a um, cada voluntário que conheci nestes projectos, vai partindo. Uns regressam aos seus países de origem, outros não sabem ao certo, mas todos vão de uma forma ou de outra.

Cheguei no Outono, vivi o Inverno, renasci na Primavera e cheguei enfim ao Verão. 

Passei aqui o Halloween, o Natal, fim de ano, Carnaval... vimos juntos florescer a Primavera (e acreditem que muita mudança aconteceu aí!). E foi com estas pessoas que aqui fui feliz. E tão feliz! Foi com estas pessoas que aprendi tanto, mas tanto mesmo, que nem eles têm noção do quanto, de a que nível influenciaram toda a mudança que aqui senti. 

E cá estamos, na difícil hora de dizer arrivederci e, talvez, até um dia.

Por acaso, da minha vaga de voluntários, eu sou o último a ir embora. O último a fechar literalmente a porta desta casa. E eu nem vou escrever mais sobre isso agora, pois não quero sofrer por antecipação. Mas já deixo uma imagem do terrível momento que me espera. 

É também por isso que este texto está um pouco vago, mas tinha que o digitar hoje e já fica aqui como nota

terça-feira, 28 de junho de 2016

It's not them. It's us.


Everyone is talking about the UK. And I can't stop thinking about the country I live in. I'm kind of an immigrant in Italia. I'm not italiano. But i'm privileged. Let's say why. I'm white. I'm from Portugal and everyone loves Cristiano Ronaldo. No joke. No one is thinking of me as a bad person for living here. I'm cool. I'm the cool white guy that came here to be a volunteer. I didn't arrived here sailing a boat in the Mediterrean sea. I came here with all my classy whiteness packed in a plane and no one is calling me "kebab" or "bangladesh". But it hurts me when I hear them calling these names to other people. And believe me, I've had enough of this moments. I never lived or experienced so much racism and xenophobia in a short time. It's shocking. To say the least.
I work with children everyday, many of them come from other countries (or at least their parents). And I fear for their future. They are growing up in a country that has a party that wants to divide Italia (north and south!). Again, no joke! This kids will be living in a not so united Europe. And they can't do absolutely nothing about it, because it's us (the grown ups) who are deciding the things to come. It's not new. Always was, always will be. And that leads me to my final tought. The last time Europe started to be this divided, we ended up fighting each other. In Italia many people from the North hate people from the south. Many people from the south don't "feel italian". Many of them want independent regions. Independent rules. And how can we expect the UNION of Europe to work if we are not even capable of handle our own countrys?
Now let's take a moment to think again about my white privilege, because when they are out of muslims, negroes, and all the people they so love to hate, they will want to come after us. The ones who think different. The ones who are against them. And don't fool yourself, having a cool football player or not, we are all foreigners to somebody else.

Servizio Volontario: good boy gone wild

Napoli and the volcano. Boom!



My mamma always says that I have this urge to try new things. So I did the Ultimate Napoli Fan Experience. I went dark side and took an illegal taxi.


Not that I really wanted to, but because it happened. My bus arrived at Napoli around 2 am, I was very tired but prepared to walk around 30mins alone to the Hostel. But then a man came when I was going out of the station and told me "For 5€ my taxi will take you anywhere in the city". I was like "Ok va bene, I'm too tired anyway". And I followed him.

As we get closer to the "taxi" I started to feel that something was not normal. The car was a... normal car. Like those old black Fiat that you see everywhere. He had already asked me where I wanted to go. But before we entered the car I had to say it: "Sorry but this is not a taxi".

And he was like "Yeah, it's not. Lets go."

And I was like "Omfg Filipe... what are you doing pazzoooooo..."

The guy was completely that movie stereotype about Mafia. And I've heard the stories about Napoli, about the Camorra (Mafia) and its illegal activities, about how people without a job started inventing ways to make money (like being an unexpected taxi driver).

But I entered. The driver started the car and we went on our amazing trip. Of course that we also had to stop in another street to give a ride to his friend, that entered the car joyful and greeting me cheerful. Believe me, this was so normal being in this city.

This guy was even more that (wrong) stereotype about the danger. We started talking about Italia (in italiano, of course!) and about how much I loved Napoli; that it was my second time in the city, etc.

And then out of nowhere they started speaking napoletano (another language, so different from italiano, that not even most italians can understand it. Imagine me!).
And that was the part where I honestly thought "Ok. They are talking about how I'm going to get kidnapped." But the strangest thing is: I was not even scared, I was excited, I was smiling.

So I just literally asked what was the best way to go to a beach near the city the next morning. And they went so proud, telling me how to get there, what to avoid, etc.
As we ride trought the city and talked a lot, I was seeing places where I had been before and I was so emotionally touched that they fully understood.
So when we arrived at our destination, the driver stoped the car and I payed and was preparing to get out of the car, but they just continued talking about things with me... they even asked If I would like to go with them and other people to the beach the next day. For real! I already knew. People from the south are just so open to everyhing, so strangely kind, so lovely. But I kindly refused.
In the end they were thinking that I was really italian... from Milano (they have kind of a different way of talking, that's why!). Really! They didn't believed when I said I was from Portugal. And that made me really proud, because it means that my italian isn't so bad after all.
I had to go, so I went out of the car. And then la magia napoletana came. They stepped out also to shake my hand, to give me warmful thanks, to wish me good luck with my staying, etc. It was like we were friends for so long... or like I had just saved them from something.
I know I shouldn't pact with this illegal things, I could have taken an Uber (!) or a real taxi, and call the police and report this. But I also know that these things are part of the Napoli soul. This city is a lot about what you LIVE there, not about what you see (and I'll writte another post about that too!). In this city you can really see people striving to survive. That's it!
And I know, I know, I shouldn't act this way. I know, I know good boys don't misbehave, but i'm a bad boy anyway.
And after all I did a good thing. Maybe one day I will be volunteering for... the Mafia? 


And right now I'm putting la mia anima napoletana and honestly not giving a f* about how this sounds. :D


segunda-feira, 20 de junho de 2016

GoT 6x09 - o melhor episódio de sempre?


Destruidora de vidas. 

*** SPOILERS ***


Eu estou morto, caído no chão, enquanto escrevo estas palavras. Bem... nao no sentido literal, mas em termos de Game of Thrones acho que me fiz entender.

Este pode muito bem ter sido o melhor episódio de sempre da série.

E não me refiro apenas a questões do guião e da história, mas falo também dos elementos técnicos.

Mas vamos por partes.

O episódio começa logo com um dos momentos mais esperados por mim nestas 6 temporadas. Finalmente a Khaleesi solta todo o poder dos seus dragões, numa cena arrasadora, que me fez exclamar de alegria! Foi lindo vê-la finalmente com controlo total, a mostrar quem manda! Destruidora de vidas, assim é esta Rainha! Quando ela pronunciou aquele "Dracarys!"... até me arrepiou. Mas eu sou #TeamKhaleesi mesmo. E devo salientar um pormenor que foi AMAZING! Mesmo antes de ela começar o ataque, quando está a falar com os traidores, ela desvia ligeiramente o olhar para a direita, fixando-o ao fundo. E eu tremi logo, percebi que ela estava a olhar para o dragão... e depois a camera muda e mostra SIM o dragão lá ao fundo, a aproximar-se. É por isto, por detalhes assim estupendos, que esta série é o que é!

Depois a sua aliança com os Greyjoy foi outro marco na série, destacando-se o discurso de women empowerment entre as duas mulheres do poder. Brutal!

Só que o melhor estaria ainda por vir, mal eu sabia. E nem estava preparado.

Assim vimos finalmente o Jon Snow reconquistar Winterfell. Mas como se trata de Game of Thrones, essa conquista não podia ser senão épica!

Um dos frames mais lindos que já vi em qualquer série ou filme.


Toda esta cena teve tantos momentos dignos de louvar que nem consigo escrever sobre todos eles, mas destaco a magnífica fotografia, direcção de arte, filmagem e tudo e todos os que compuseram um dos momentos mais bonitos de toda a série. A aflição do Jon quando estava a sufocar é uma daquelas cenas que uma pessoa sofre, que uma pessoa não esquecerá facilmente. A sua entrada em Winterfell e a forma como o Ramsey é de uma vez por todas arrasado, humilhado e derrotado, são apenas mais um dos épicos WOW! que os fãs vão recordar durante muito, muito tempo.   

Ah Mulher!

E por fim destaco a Sansa, que deixou de ser uma Lady e após vários episódios em que já se manifestava bastante crescida (e vingativa!), chegou de vez para terminar com o malvado Ramsey, dando-lhe a morte que todos esperavam: cruel, cruel e cruel. Absolutamente brutal! 

Sansa Stark, Yara GreyjoyDaenerys Targaryen foram o grande trio de mulheres neste número 9 da temporada 6.

Este episódio foi Histórico! Eu nem tenho mais palavras. 

E por isso vamos agora parar e pensar um bocadinho sobre o grande salto que a estória de toda a série acabou de dar, enquanto escutamos esta composição brilhante da sua banda sonora. 


sábado, 18 de junho de 2016

Serviço Voluntário: o lado B

Visita à Fiabilandia - um local fantástico.

Se há coisa que posso dizer é que o meu projecto do Serviço Voluntário Europeu nunca foi aborrecido. Nunca houve um dia igual ao outro. Mas do Centro Educativo já vos falei bastante. 

E mal eu sabia que com o fim da escola e o início do Centro de Verão tudo estaria ainda para mudar... para melhor!

Não posso dizer que não sinto saudades do Centro Educativo, porque afinal algumas das crianças com quem estava todos os dias, ficaram por ali; não frequentam o Centro nas férias de Verão.

Mas aquilo que estou a fazer agora é completamente outro nível do meu SVE. Eu nem tenho palavras certas, a sério! Nunca pensei que fosse assim. 

Para tentar explicar, começo por dizer o que mudou. Bem... mudou tudo, menos o lugar onde faço o meu voluntariado. Sinto que estou a fazer outro projecto diferente, verdadeiramente.

Mudei de horário. Antes fazia das 14:30h às 18:30h e agora faço das 8 às 14. Completamente diferente. Ao início achei que ia ser um drama por ter que acordar sempre cedo... mas não é que tive uma grande surpresa? Prefiro este horário porque fico sempre com as tardes livres para fazer montes de coisas e os dias assim parecem-me mais longos. No fundo aproveito-os melhor.

As actividades mudaram também. Agora já não faço mais os trabalhos de casa. :D Um dia ainda vou sentir falta disso, mas por agora é apenas brutal fazer só jogos, actividades de desporto, etc. Para além disso o tema do Centro é o filme Guardiões da Galáxia  (com alusão também ao filme Home). O que significa que temos vários momentos de teatro com uma história que segue todos os dias durante as actividades. Nota: o Guardiões é só um dos meus filmes favoritos da MARVEL! Mas que mais posso eu pedir? E o tempo voa quando andamos assim a... brincar. :) 

Guardiões da Galáxia e a busca pelo Orb.


Agora sou também responsável pela cozinha na hora de almoço, o que é também outra novidade e algo que me traz ainda mais experiência. 

E para o fim, o melhor! Com o Centro de Verão todas as semanas vamos passear a algum sítio diferente. Na primeira semana fomos ao Planetário de Ravenna e na segunda à Fiabilandia (Rimini), que é um parque de diversões. Nem faço muitos comentários, porque as fotos mostram quase tudo. Depois vamos também sempre um dia por semana à piscina aqui em Forlì. Na Fiabilandia eu fui mais criança que eles. Que amazing andar ali em todas as atracções! 

Tendo em conta que não tenho carro aqui, o facto de ir nestes passeios é completamente brutal. É uma oportunidade única para conhecer outros sítios de Itália, aos quais eu não conseguiria aceder facilmente. E por isso só tenho que agradecer e muito a quem me permite fazê-lo. 

Planetário de Ravenna e actividades no jardim. 


Sei que neste momento já devem estar uns 37 aspirantes a voluntários à procura deste lugar para fazerem o seu SVE no próximo ano.

Acreditem! Parece um sonho. Mas este lugar existe. 

Em resumo:

Eu não tenho palavras para dizer quanto estou amar esta nova fase. E reparem bem que eu até escrevi bastante. 

"Amoresolo amore è quello che sento."

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Serviço Voluntário - Tão perto do fim, hashtag socorro!

Em Perúgia (esquerda) e Imola (direita).



Vamos ao que interessa. Eu estou muito bem em Itália. Mas mesmo muito bem. E é esse o problema, pois em menos de 2 meses terei que voltar a casa.

Se estou ansioso por voltar? Claro que estou. Tenho lá a família, os amigos, os meus livros, os meus jogos, a minha cama... tudo o que é meu.

Mas e aqui, não tenho também? Já tenho, sim. E de que maneira.

Durante estes últimos 8 meses aqui, fiz um imersão brutal na cultura italiana. Abri-me aos seus costumes. Abri-me até ao quão "fechados" eles são. E disso falarei noutro post. Mas continuando... tornei-me mesmo um entendido da vida italiana, provei tantos sabores novos, descobri livros, filmes e músicas brutais. Visitei mais de 23 locais e cidades diferentes até agora. Fui ao Sul, ao Norte, ao Centro, ao Este, Oeste...

Eu sei lá. Eu fiz tudo, tudo para me habituar a este país. E foi tão bom fazê-lo que me apaixonei de verdade. 

Eu queria não gostar de Itália, querer só voltar, deixar este país de vez. Mas isso não é possível. Só que como a Julieta e o Romeu, Itália e eu não estamos destinados a um final feliz.

E foi por isso que ontem, num raro momento de silêncio, já deitado para dormir, sem nenhuma voz, nenhuma música, senti uma ansiedade tremenda, que me trouxe aqueles sentimentos de angústia e tristeza que misturados só dão em saudade. E eu sei que sim, quando regressar ao meu país, sentirei tanta falta deste como se fosse meu. Tanta saudade.

Conclusão: neste momento estou sempre a oscilar entre o muito alegre e o tremendamente triste. Como vou gerir estas duas personalidades não sei. 

Mas de uma coisa tenho a certeza. O meu Serviço Voluntário Europeu não podia ter-me trazido para sítio melhor. Foi só amor, do início ao fim. E o amor  é sim essa tal coisa que nos faz sofrer nas partidas, não é?

E sobre isso escreverei mais entretanto. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

[ opinião ] Quo Vado? - rir para não esquecer

Uma das melhores cenas deste filme. Brilhante!


O cinema italiano é rico em comédias. Mas poucas se destacam como Quo Vado?, um filme que toca nos pontos mais característicos de uma sociedade (a italiana), levando-nos sempre a questionar ideias que estão enraizadas, ao mesmo tempo que nos faz rir mas mesmo rir muito.

É óbvio que o facto de eu viver em Itália há 8 meses teve muito que ver com a forma como este filme me tocou. Estando já imerso na cultura e hábitos italianos, eu consegui vê-lo realmente como a obra que traça uma crítica brutal a um certo conservadorismo deste país. 

Mas antes de aprofundar, uma pequena sinopse da história. Checco é um jovem-adulto (mais adulto que jovem), que ainda vive com os seus pais, que tem um posto fixo no trabalho, uma namorada. Enfim... a vida perfeita e estável. Mas o Estado passa por uma reforma nos postos de trabalho públicos e Checco é obrigado a mudar de região para manter o seu emprego, pois recusa-se a assinar uma carta de despedimento. O "Estado" faz tudo para o levar ao limite, tentando forçá-lo a desistir do trabalho, mas Checco está disposto a tudo... mesmo a emigrar para manter o seu tão amado posto. E é aí que tudo muda. 



É também aí que este filme vai ao profundo da sociedade do "sul da Europa", debruçando-se sobre questões verdadeiramente importantes, como a xenofobia, o preconceito existente entre o Norte e o Sul (primeiro de Itália e depois da Europa em geral). Mas não ficamos por aí. Os direitos das mulheres, da comunidade LGBT, a religião, a política, corrupção, etc, etc. Tudo é retratado de uma forma absolutamente brilhante, mostrando que um filme de comédia pode e deve ser um condutor fantástico de ensinamentos, de levantamento de questões sérias, sem nunca deixar de nos fazer rir. E acreditem, eu não me lembrava de rir tanto com um filme nos últimos tempos. 

Em vários aspectos, revi também muito do nosso Portugal em várias cenas. Afinal as diferenças culturais entre Itália e Portugal não são assim tantas...

E já que falo no nosso país, devo dizer que houve outro pensamento que me veio quando via Quo vado?

Este filme é tudo aquilo que a desgraça O Pátio das Cantigas (2015) não foi. Inteligente, verdadeiramente divertido, um hino à comédia, bem realizado, pertinente.

E fico-me por aqui.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

[ opinião ] Daredevil - Guardian Devil, ele está entre nós



Tenho lido muito ultimamente (o que é bom sinal), mas por isso não tenho tido tempo de falar de todos os livros. Mas este não podia escapar. Falo-vos de um comic, um género subvalorizado, mas que nesta obra volta a mostrar aos grandes títulos da literatura que esta arte não é só para... ver. É para reflectir. E este "Diabo da guarda" traça uma história absolutamente magnífica sobre o catolicismo e os seus ícones, fazendo-nos pensar uma e outra vez sobre questões tão profundas como a existência de um Deus... e de um Diabo.

Este tipo de metáforas que jogam com o próprio nome do herói (DareDEVIL) não são novas para os fãs. Até na recente série do Netflix isto é algo que é bem explorado. Este herói frequenta a igreja, tem a sua fé, confessa-se a um padre, etc, etc.

E esse é o ponto de partida para este livro nos levar a reflectir sobre pontos chave da religião católica (e de outras, porque não?). 

Claro que tudo isso é usado para alimentar uma história repleta de vilões bastante conhecidos deste universo, mas também usando (e bem!) outros super-heróis da MARVEL. Depois há ainda um género de twist final que acaba com tudo...

Não querendo fazer spoilers, devo dizer que todas as aparições (aparições!) foram magníficas, no sentido em que não foram nada forçadas. Tudo tem um sentido aqui. E acrescento só que é feita uma analogia com um dos momentos mais fortes das bds do Spiderman. Arrepiou-me!!

Este livro tem no entanto algumas pequenas falhas no que toca ao grafismo/desenho, com erros de continuação que não sendo graves, prejudicam um pouco a leitura. 

Só por isso não o considero a obra-prima da MARVEL. Mas é sem dúvida nenhuma um dos meus favoritos de sempre desta editora. 


segunda-feira, 6 de junho de 2016

Lorenzo & Pedro e o ódio da semana

A foto da polémica. E outras fotos que não geraram tantos comentários... 


Lorenzo and Pedro explodiram para o conhecimento da sociedade em geral quando gravaram e publicaram um vídeo em que andavam de mãos dadas (e trocavam afectos em público) pelas ruas de Lisboa. O vídeo primeiro tornou-se viral (falando em termos de internet), mas depois saltou para jornais online, canais de televisão, etc, etc. 

Muito aconteceu depois disso, mas o que aconteceu nestes últimos dias é só mais uma prova de que neste mundo virtual do facebook (e afins) é demasiado fácil passar-se de bestial a besta. Só no curto espaço de uma semana, vimos o mesmo acontecer com José Cid e Nuno Markl (este último, perante ameaças violentas online, chegou mesmo a mostrar a vontade de cancelar a sua página oficial no facebook). 

Mas a internet estaria ainda para rebentar (ainda que noutro imenso contexto) contra a dupla de youtubers, que por estes dias decidiu tirar e partilhar uma fotografia com o ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho. Primeiro caíram no erro de tratá-lo como se fosse o actual primeiro-ministro. Depois caíram-lhes em cima os comentários revoltados sobre a figura política que nada fez a favor da comunidade LGBTI. O ódio gerou-se sobre estarem a posar para a foto com alguém que afinal nada teve a favor de leis e conquistas importantes de toda uma comunidade, a mesma para a qual este casal fez o vídeo que já citei (e outro que partilharei em baixo).

Lembro-me que quando se tornaram virais, houve um amigo que discutiu comigo a possibilidade de estes vídeos serem apenas uma jogada de publicidade para estes youtubers. Lembro-me ainda melhor que lhe respondi que por mim podia bem ser, que pouco me importava, pois aquilo que me interessava era tão só e apenas a visibilidade que - de uma forma inesperada - trouxe para a esfera pública novamente EM FORÇA o assunto da homofobia e o facto de casais LGBTI não terem o mesmo direito a manifestações públicas de carinhos (como a restante população), por medo de represálias.

Mas dessa conversa eu tive a conclusão de que até dentro desta comunidade (que devia ser mais unida, como todos bem sabemos) existia portanto já uma bomba contra este casal que estaria só à espera do pequeno primeiro erro para rebentar.

E aconteceu. Aqui está. Não me enganei.

Do nada vi sites, organizações e pessoas a criticarem este passo. Vi essas partilhas serem feitas por quem nunca teve um minuto para partilhar os tais vídeos que só faziam bem e falavam da necessidade de haver a tal igualdade. Podia estar uma semana a escrever sobre este ponto...

Mas vamos aos factos. Eu jamais tiraria uma foto com aquele senhor. Nem que me pagassem. Mas se eles acharam que o deviam fazer, qual é o problema? Ignoraram os factos mais políticos? Sim! Isso é grave? Sim é, se pensarmos que todos devemos estar mais ou menos informados sobre estes assuntos. Mas por acaso a forma como têm chamado a atenção para o mal da homofobia, mudou de alguma forma depois disto? Os seus vídeos virais tornaram-se de repente um ataque contra todos nós?

Isto fez-me logo lembrar a história do Sam Smith, que este ano também foi crucificado em público por desconhecer grande parte da História das lutas LGBT. Mas por acaso lembraram-se de pesar também o facto de que ele assumiu-se abertamente como cantor gay, abrindo as portas (do armário?) para que isso aconteça mais frequentemente? Não foi o primeiro, não. Mas foi mais um exemplo POSITIVO! 

E só tenho que acrescentar o seguinte. Todos estamos sujeitos a errar. Se formos famosos, estamos ainda mais sujeitos a sermos julgados por isso. Mas se alguém fizer o mínimo que seja a favor desta luta comum, a mim pouco me interessa se desconhece os significados de nomes como Harvey Milk, Gisberta ou Stonewall. Se não sabe se aquele ministro fez isto ou aquilo, terei eu direito a escrever comentários carregados de ódio só por isso?

Lembrem-se de que há lutas que vêm por instinto, porque pensamos em fazê-las por bem, como certamente eles pensaram ao realizar o primeiro grande vídeo viral, conseguindo catapultar para os assuntos do dia algo que só veio ajudar o trabalho que montes de associações (e pessoas) têm vindo a fazer há muitos, muitos anos em prol destas lutas por uma sociedade mais aberta e menos preconceituosa. 

Nada substitui o que essas associações fazem, disso não tenham dúvidas. Nem sou eu, nem tu, nem uma dupla de youtubers que irá mudar a sós toda uma sociedade. E talvez seja errado chamar activistas ao Lorenzo e ao Pedro. Mas então não lhes chamem isso, metam os rótulos de parte e deixem-nos ser o que eles quiserem. 

Eu não os conheço. Não sei quais são as suas intenções. Mas estarei eternamente grato pela visibilidade positiva que trouxeram a um tema, de uma forma tão próxima e transparente, tocando corações e mentes de quem talvez nunca tinha parado para pensar muito sobre o assunto. 

E uma foto não desfez todo o belo trabalho que fizeram até então. Aqui está um vídeo recente que é exactamente a prova disso.