sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] La La Land: Melodia de Amor




Em Los Angeles o pianista Sebastian (Ryan Gosling) e a actriz Mia (Emma Stone) vivem em busca de oportunidades para as suas carreiras na competitiva Hollywood. Quando os seus caminhos se cruzam,  os jovens apaixonam-se e tentam fazer a sua relação dar certo enquanto perseguem os seus sonhos de fama e sucesso.

"Foi exactamente por isto que me apaixonei pelo cinema" - dei por mim a pensar enquanto via este La La Land numa estreia (em Portugal) muito esperada por mim.

Sou fã de musicais, admito. Mas também acrescento já que este filme vai muito para além desse género, trazendo em si um drama e carácter muito profundos e até (talvez) fora do comum no estilo em que quer inserir-se. 

A verdade é que foi em muitos aspectos uma surpresa. E o "isto" a que me refiro, naquele pensamento tão curto sobre o meu apreço pela sétima arte, engloba tudo o que construiu esta obra magistral, desde a realização (de Damien Chazelle), passando pela sonoridade, edição e, claro, actores. 

Ryan Gosling e Emma Stone estão fenomenais na representação do casal sonhador que, aparentemente, está disposto a tudo na perseguição dos seus sonhos individuais. E são eles quem arranca os suspiros, os arrepios... e as lágrimas.

É óbvio que cheguei já à sala de cinema com consciência de todos os prémios que o filme já ganhou e também das 14 nomeações que conseguiu para os Oscar, por isso o selo de qualidade parecia já garantido (embora eu pudesse obviamente discordar... como já aconteceu antes). Mas falei em surpresa e volto a falar, porque de facto este filme foi muito mais emocionante, original e soberbo do que eu próprio imaginava.

Visualmente é uma obra-prima, sem mais nem menos, uma obra que se vê ter sido feita com a paixão de quem só pode amar esta arte. E as referências ao clássico cinema de Hollywood são por isso tão bem inseridas. 

E se os aspectos visuais e sonoros são tão impressionantes é porque assentam num argumento muito bem escrito, sobre o qual prefiro não falar muito, com receio de estragar a experiência a quem ainda não viu. Mas na sua base este é um filme tão romântico quanto realista. É isso.

Resumindo. La La Land não correspondeu às minhas expectativas. Superou-as. 


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] Moonlight





"Moonlight narra a vida de um jovem negro desde a infância até à idade adulta, na luta para encontrar o seu lugar no mundo enquanto cresce num bairro problemático de Miami."

Primeiro devo admitir o seguinte. Não fazia a mínima ideia sobre o que tratava este filme. Não tinha visto o trailer, nem sequer lido a sinopse. Vi que tinha ganho o Globo de Ouro de Melhor Filme e foi o suficiente para me despertar a curiosidade. Acontece muitas vezes com outras obras, pois considero que quanto menos se souber do argumento, melhor. Quem já viu, poderá agora imaginar a surpresa que foi este para mim! 

O filme é dividido em 3 actos. O da infância, o da adolescência e o da idade adulta do personagem principal, Chiron. E é através da passagem do tempo entre esses 3 actos que vamos perceber a profunda reflexão que aqui se apresenta sobre os efeitos que certas acções têm no crescimento de uma criança, de um adolescente e finalmente de um jovem adulto. Não quero desvendar demais, para quem não viu, mas trata-se aqui de um brilhante exercício sobre o bullying.

Tal como o seu protagonista, que fala pouco, Moonlight perde pouco tempo com explicações demasiado óbvias, recorrendo mais aos artifícios da imagem e da banda-sonora para nos contar a arrebatadora história de Chiron.

E que banda-sonora! Esta não serve apenas para encher as cenas, mas está sim carregada de significado, que traz mais peso à já pesada história que nos é mostrada de forma magistral através de imagens que respiram fortemente aquela magia rara da sétima arte. 

Prémios à parte, e mesmo com a possibilidade de ganhar um Oscar, penso que o grande trunfo deste filme é mesmo o de deixar-nos a reflectir fortemente enquanto os créditos finais correm. Poderoso, provocador e impactante, Moonlight dificilmente deixará alguém indiferente. 


Estamos perante uma obra-prima do cinema actual?





segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

HOSTEL: 4 histórias inacreditáveis





Dormir num quarto partilhado com 8 ou mais desconhecidos? Nunca foi um problema para mim. 

E afinal isso faz parte do espírito de dormir num Hostel, sabendo que vais partilhar o teu espaço e as tuas dicas, mapas e experiências com pessoas provenientes de todo o mundo sempre com base num inglês muito improvisado.  

Mas todos sabemos que há um certo medo em relação aos Hostels, principalmente por parte de quem nunca se aventurou numa estadia dessas. "Mas é seguro?", "Não encontras pessoas estranhas?", "E se te roubam os teus pertences?".

Bem, com este post, vou só contribuir para aumentar esse receio nas pessoas. Brincadeira!

Não, a sério, vou só contar-vos 4 episódios muito engraçados (ainda que possivelmente enervantes) que vivi em vários albergues do género durante a minha longa estadia de 10 meses em Itália. E a verdade é que, tirando estas situações, nunca tive problemas graves em qualquer estadia num Hostel. Optei por não indicar o nome dos sítios, deixando só a indicação da cidade onde aconteceram. É óbvio que na altura as devidas queixas foram escritas no tripadvisor, booking, hostelworld e afins, mas é impossível não sorrir hoje quando recordo estes acontecimentos quase... surreais. 






4 - Roma



Começo com o caso em que o problema não foi o Hostel em si, mas sim um hóspede demasiado estranho que estava lá no mesmo quarto. O espaço tinha 8 camas e duas delas seriam ocupadas por mim e pela minha colega espanhola que estava a viajar comigo. Mal entrámos no quarto notámos um cheiro estranho no ar. Cheirava muito a comida, mas não era um cheiro agradável. Só depois de estarmos ali há uns minutos é que reparámos que estava um rapaz deitado numa cama (as outras estavam livres). Para começar, ele estava a dormir completamente vestido com roupa casual (jeans e camisola de andar na rua... sem um pijama vá!). Depois nós saímos, regressamos umas horas depois e ele continuava na mesma posição, com a mesma roupa, e rodeado daquela comida instantânea, tipo noodles japoneses, que estava a dar ao quarto aquele cheiro... estranho. Voltámos a sair, a entrar, a sair, passeámos pela cidade toda... e naqueles 2 dias, sempre que regressávamos, ele continuava na mesma posição, não dizia uma palavra, não se mexia, com a mesma roupa, e só acumulava mais pacotes de noodles e garrafas de coca-cola à volta da cama (o que indicava que pelo menos não estava morto, pois entretanto já se tinha levantado por momentos para ir buscar essas coisas). O que nos levou a rir muito quando dissemos um para o outro: "Ciao?!? Para estares morto, estavas em casa. Estás em Roma, sai daqui e vai conhecer a cidade, non?".






3 - Florença

Segunda vez na cidade do Renascimento. Cheguei ao Hostel por volta das 18h (o check in era a partir das 14h), mas por acaso na reserva tinha indicado que chegaria mais ou menos por volta das 19h, porque pensava apanhar um comboio mais tarde. Bem, depois de procurar infinitamente pelas ruelas da cidade, lá encontrei o local onde ia dormir (não tinha uma placa, um sinal, nada). E a porta estava trancada. Toquei à campainha. Ninguém respondia. Mas ainda eram só seis da tarde, devia estar alguém para me receber. Lá resolvi ligar ao número que tinha para contacto. Atende-me um rapaz e diz-me que em 20 minutos estará ali para me abrir a porta. Fiquei tipo "Ok..." e a revirar os olhos com aquele ar de quem já não estava crente no que estava a ouvir. Mas o mais estranho estava por vir. Ele chega, reclama que eu cheguei mais cedo do que previsto (Ok!) e entramos para um hall de entrada onde não havia uma recepção, uma caixa registadora, nada. Ele fez-me o check in num papel meio improvisado, paguei e lá fiquei no quarto. O espaço era completamente um apartamento, ao qual alguém tinha decidido chamar Hostel, mas onde não havia uma cozinha (que provavelmente fazia de quarto agora). De facto a estadia tinha sido tão barata que nem me admirei com nada disso. Mas o "recepcionista" tinha prometido que eu podia deixar as malas no dia seguinte mesmo depois de fazer o check out às 11h. E tendo em conta que o meu comboio partiria só por volta das 19h, era perfeito, porque queria passear pela cidade sem carregar pesos atrás. Até que no momento de deixar as malas, ele diz-me para deixar ali no corredor da "recepção" e pronto. "COMO ASSIM?" - perguntei admirado. Diz-me ele: "Sim, aqui", apontando para o chão estreito. Mas não haveria uma sala mais... privada e segura pelo menos? Não, que pergunta estúpida. Era ali, onde toda a gente passava. E adivinhem o que fiz? Tive que aceitar, não tinha outra solução, mas optei por levar a mochila com os objectos mais valiosos. Socorro,







2 - Pisa

Verdade seja dita, este era lindo demais, com uma decoração rústica que mais fazia lembrar uma casa acolhedora do que propriamente um Hostel. Na entrada um papel afixado na porta dizia que um determinado contacto estaria disponível 24h para qualquer problema que surgisse. Logo aí percebi que não estaria sempre alguém na recepção, mas tudo bem. Já tinha pago a estadia, mas faltava pagar a taxa turística de 2€ que em Itália se paga em qualquer cidade (o preço varia entre lugares). Acontece que a senhora da recepção não tinha troco e disse-me para eu ir entrando para o quarto que depois lá me iria dar os 4 euros que me faltavam, pois teria que ir buscar trocos não sei onde. Assim fiz. Entretanto tomei banho, preparei-me para ir jantar e da senhora nem sinal. Como não era um valor assim tão grande, optei por ir comer a tradicional pizza num restaurante no centro da cidade e voltei então mais tarde. A essa hora, por volta da meia-noite, a senhora já não estava ali, por isso esperei pela manhã seguinte para reaver o meu troco. Ok... não era uma fortuna, mas já dava para um lanche pelo menos. Quanto ao pequeno-almoço, no próprio Hostel teria acesso a uma pequena cozinha onde podia preparar chá ou café que eram fornecidos gratuitamente, mas... o gás estava desligado! Não funcionava. Lembrei-me então de ligar para o tal contacto, visto que a senhora continuava desaparecida, mas ninguém atendia. Liguei, liguei, liguei. Sem resultado. Um casal de ingleses veio queixar-se do mesmo, que ninguém atendia naquele número. E entretanto desisti e tive mesmo que ir tomar o meu café fora, pois não consegui encontrar o sítio onde se ligava o gás (e sim, eu procurei em todo o Hostel, mesmo à grande). Afinal todo o espaço estava assim deixado à mercê de qualquer hóspede. O check out estava feito, só tinha que deixar a chave, e aí tive então a conclusão de que já não teria o meu troco de volta. Assim aproveitei para ir visitar a torre inclinada, almoçar e depois, como por acaso, reparei que tinha esquecido umas sapatilhas no Hostel! Não tendo outra opção senão voltar ao local, acabei por ter sorte, pois lá estava a tal senhora, reaparecida... mas completamente esquecida de que me devia 4€ e absolutamente tranquila quando me queixei de que tinha ligado 729 vezes para o número de contacto que supostamente estaria disponível... 24 horas. Encolheu os ombros e riu-se. E eu ri-me também, meio incrédulo, meio sarcástico, já a digitar mentalmente a minha arrasadora avaliação no tripadvisor.







1 - Nápoles

Nada ultrapassa esta situação. Mas nada mesmo. E quem sabe a fama que Napoli tem, com as histórias da máfia e da sua gente super relaxada, irá entender perfeitamente o porquê de isto acontecer nesta cidade. Era a minha segunda vez lá e a segunda vez naquele Hostel. Boa localização, preços baixos, e uma primeira agradável estadia tinham-me levado de volta ali. Era também a segunda noite desta estadia e depois de jantar tinha ido dar um passeio pelas ruas de Nápoles com o ar quente e convidativo do sul de Itália em pleno Junho. Quando regressei ao quarto, para 10 pessoas, todas as luzes estavam já apagadas e quase todos estavam já a dormir. Dirigi-me à minha cama. Ao aproximar-me, só a luz do telemóvel a guiar-me, deu-me a impressão de que estava alguém a dormir no meu lugar. Aproximo-me mais. Vejo um rapaz a tapar os olhos com as mãos para os esconder da luz que eu usava para encontrar a cama onde já tinha dormido na noite interior. Digo-lhe em inglês "Olha, desculpa, mas esta é a minha cama!". Ele mal fala inglês, falava japonês ou chinês (sei lá). Só sei que não conseguimos ter um diálogo. Entretanto entra o senhor da recepção, que tinha vindo ao quarto porque alguém tinha reclamado do ar condicionado que não funcionava. Aproveitei a sua presença e falámos os dois em italiano. Sem grandes preocupações diz-me ele literalmente assim "Este chinês de merd* deve ter percebido mal o número do quarto e da cama, não percebe nada. Olha, muda-te para a cama ao lado e pronto". E eu "Mas nessa cama está outro rapaz, não agora, mas chegou esta tarde... e provavelmente vai dormir aqui, não?!". Diz-me o homem que não, que ele tinha ido embora. E eu achei muito estranho mas... ok! Então lá mudei as minhas coisas, conforme possível, para essa cama e saí para ir um pouco à sala comum e rir-me sozinho da situação. Quando regresso ao quarto estava, CLARO, o tal outro rapaz na cama para onde o homem me tinha mandado dormir. Este também era italiano e já estava tão chateado com o homem da recepção que pediu-me para ir lá eu tentar resolver a situação. Acredita que estou a escrever isto e a parar constantemente para me rir, porque quanto mais o tempo passa, mais surreal isto me parece. Bem, chego à recepção e o senhor está a falar ao telemóvel com alguém. Muito calmo pergunta "Há algum problema?". E eu só digo "Bem, se calhar vou ter que dormir no chão, mas tirando isso... va tutto bene!". Então ele aproveita para reclamar mais sobre o "chinês" que tinha ocupado a minha cama por engano, mas sem nunca largar a sua chamada no telemóvel (porque Nápoles!). E na mesma descontracção diz-me "Olha vai a todos os quartos do Hostel e escolhe uma cama que esteja livre. Podes escolher qualquer uma e não te preocupes.". Depois regressa à sua chamada telefónica deveras importante e eu ponho-me a escolher a melhor cama das que estavam disponíveis. Cheguei ao meu novo quarto por volta das 2 da madrugada e a minha sorte foi que os hóspedes ali ainda estavam todos acordados. Nem expliquei a situação, subi para o meu beliche e só conseguia rir-me sozinho, dando de certeza uma impressão muito boa a quem já estava ali antes de mim. Depois lá me acalmei, mas mesmo antes de adormecer lembro-me "Oh dio mio! O rapaz que ocupou a minha cama está a dormir nos mesmo lençóis que usei na noite anterior!!". E então ri, ri sozinho, feliz por saber que na manhã seguinte partiria, com o rótulo de maluco, certamente, mas com uma grande história para recordar mais tarde sobre uma das cidades que mais amei em terras italianas. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] Assassin's Creed



Callum Lynch (Michael Fassbender) descobre que é descendente de um membro da Ordem dos Assassinos. Através de uma tecnologia revolucionária que é capaz de o fazer experienciar a sua memória genética, é obrigado pela fundação Abstergo a reviver as aventuras de Aguilar, o seu antepassado, em busca de um poderoso artefacto que ficou perdido nos tempos da Inquisição Espanhola e que dará aos Templários o poder de controlar a população do mundo.

Indo já directo ao ponto. Assassin's Creed não é um mau filme, nem sequer horrível, mas está longe de ser muito bom. Estará algures perdido em algo mediano.

Os maiores problemas do filme assentam desde logo o argumento meio apressado que não quer perder tempo a explicar mais em pormenor alguns dos aspectos da trama. Convenhamos que, para quem não é fã dos videojogos, seria importante explicar melhor alguns pontos... de forma a que, por exemplo, a fundação Abstergo pudesse ter mais algum peso na história e não parecesse apenas mais uma corporação do mal sem um objectivo muito definido. 

Depois há o abuso claro do CGI, que é recorrente em todos os filmes actuais, mas que por vezes é melhor mascarado do que foi aqui. As cenas das memórias estão sempre cheias de nevoeiro, aquela neblina demasiado presente para ocultar exactamente algumas falhas (ou falta de tempo para aperfeiçoar alguns efeitos digitais). Ainda assim é curioso que nota-se em algumas cenas de perseguição que foi feito um esforço para usar stunts reais e há algum brilho nesses segmentos. Mas todos concordaremos que deviam existir mais cenas dentro das memórias durante a Inquisição Espanhola e menos cenas nos tempos modernos.

Nos pontos positivos destaco todas as referências e homenagens que foram feitos aos videojogos que inspiraram o filme. A banda-sonora é fenomenal, atribuindo sempre um peso mais dramático às várias cenas que nos conduzem ao final, e ganhando destaque principalmente nesses derradeiros momentos. E os actores Jeremy IronsMichael FassbenderMarion Cotillard esforçam-se para atribuir densidade aos seus personagens, mesmo quando o argumento ou os diálogos pobres não os ajudam.

Como fã, esperava muito mais, é claro, mas por outro lado esperava desiludir-me mais também. Todos sabemos a fama que têm os filmes baseados em videojogos (e vice-versa), e isso tem um motivo. A linguagem dos jogos e do cinema pode parecer muito semelhante, mas acreditem que não, esta é até muito diferente e por isso não é fácil adaptar algo em que somos o sujeito activo (onde controlamos as acções e movimentos do personagem) para algo em que somos apenas um espectador passivo (onde apenas vemos desenrolar a acção diante de nós).

Sendo assim, considero que este Assassin's Creed não foi tão mau quanto poderia ser e que deixa muito em aberto para ser melhorado na sequela (que obviamente vai existir).

Pequeno spoiler:
Alguém consegue explicar-me porque é que nunca mas mesmo nunca é mostrado (ou sequer mencionado) o verdadeiro poder da Apple of Eden? Quem foi ver o filme comigo, não conhecendo muito bem os jogos, ficou sem perceber que raio fazia aquela coisa... 



quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] Don't Breathe: Nem respires



"Três jovens ladrões decidem fazer um último trabalho juntos, num assalto à casa de um homem cego. Julgam ser o golpe mais simples que já fizeram. Mas estão enganados. O dono da casa esconde vários segredos e vai-se revelar um grande obstáculo para eles."

Don't Breathe é um filme tenso, do início ao fim, capaz de reverter e dar novas perspectivas ao género de terror em que se propõe inserir. 

A maior reviravolta está logo no personagem do homem que seria a vítima dos 3 ladrões e invasores, pois em vez de este ser a vítima que todos esperariam (por ser cego), apresenta-se logo como um personagem brutal e até maquiavélico (caberá a cada um decidir sobre isto).

A sua história e o motivo que leva os 3 jovens à sua casa são muito bem explorados e até aí há uma grande surpresa mais a meio do filme, que obviamente não vou revelar.

Este é sem dúvida um dos grandes filmes do ano passado, falando mesmo de qualquer género, o que só prova que a fórmula escolhida para nos contar esta história foi mais do que acertada. Esta baseia-se ao mesmo tempo em em hábitos clássicos do cinema de terror, sem mesmo assim deixar de tentar inovar na forma como nos causa estranheza, ansiedade e nervos com os seus planos e sonoplastia absolutamente bem pensados. 

Equipa técnica, realizador, produção e actores estão de parabéns pelo resultado final que atingiram, pois é evidente que houve aqui um esforço conjunto que nos conseguiu assim trazer um personagem arrepiante e assustador, quando todos esperávamos dele um ser frágil, alvo da nossa condescendência. 

Don't Breathe é um filme obrigatório para qualquer amante de cinema. 


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] The Witch: A Bruxa



1630. Um casal leva uma vida cristã com os seus filhos numa comunidade muito religiosa, até serem expulsos do local por terem uma fé diferente daquela que é permitida pelas autoridades. A família passa a morar num local isolado, à beira de um bosque, sofrendo com a escassez de comida. Um dia o bebé recém-nascido desaparece. Terá sido devorado por um lobo? Sequestrado por uma bruxa? 


Tenho a certeza de que A Bruxa estará longe de ser um filme de terror que agradará a todos.

Até eu não consegui ainda chegar a um verdadeiro consenso depois daquilo que vi, embora claramente tenha gostado muito do ambiente criado.

Se por um lado há uma mestria soberba na construção desse ambiente do filme, com os sons, planos e edição extremamente bem pensados e colocados, por outro ficou o desejo de que se tivesse ido mais longe já perto do fim.

Para não dar spoilers, acrescento só que de facto este é um filme que assenta bastante mais naquilo que não vemos (e que nos pode assustar por isso) do que propriamente em algo muito directo ou explícito.

Certas cenas são arrepiantes, não porque mostram algo que meta medo, mas porque nos deixam constantemente na ansiedade de saber o que lá vem...

É um terror muito mais psicológico, disso não há dúvida, e o realizador conseguiu aqui criar algo desconfortante que envolve a floresta do filme, praticamente apresentada como uma personagem com vida própria. 

Os seus sons, pelo menos, assim indicam.

Para ver de volume no máximo (ou com uns bons fones), pois a mixagem de 
áudio do filme é o ponto mais forte na construção do seu mundo arrepiante. 

"Bah, bah, bah..."




segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

[ opinião - cinema ] Hush



Ela não consegue ouvir. Ela não consegue falar. A escritora Maddie Toung vive isolada da sociedade desde que perdeu a sua audição quando era adolescente, remetendo-se para um mundo de total silêncio na sua casa no meio de uma floresta. Mas quando o rosto mascarado de um assassino psicopata aparece na sua janela, Maddie precisa ir além dos seus limites físicos e mentais para conseguir sobreviver.


Hush é um filme que nos apresenta logo uma ideia original, com a colocação de uma personagem surda-muda em confronto com um psicopata que detém sobre ela muitas vantagens. Sendo assim, o enredo simples de uma típica invasão de propriedade depressa se torna em algo que nos deixa ansiosos, ao serem utilizadas várias técnicas que evidenciam as dificuldades de Maddie. Nisso, a realização e produção acertaram em cheio. Chega a ser arrepiante vermos o sofrimento dela ao não conseguir ouvir sequer os passos do assassino que a persegue (para não revelar demais...).

Para além disso, esse homem psicótico não quer só invadir-lhe a casa e matá-la, o que seria até muito fácil, mas quer sim fazer um jogo de terror psicológico que deixaria qualquer um em desespero total. 

Como antagonista, ele é um dos meus favoritos de qualquer filme de terror que já vi e até bastante original na sua concepção.

O suspense e a construção das cenas de perseguição, que mostram bem o sofrimento da protagonista, mas também a sua extrema vontade de sobreviver, são assim alguns dos pontos fortes do filme.

Infelizmente, a caminho do fim nota-se alguma repetição de ideias (e atenção que o filme é curto, com uma duração de 1:20h). Por isso mesmo, o final em si cai um pouco no cliché do género e não é tão satisfatório.

Mas nem assim Hush deixa de ser um dos filmes de terror mais bem construídos dos últimos anos.