quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Óscares da Depressão: ranking dos filmes mais tristes



Acho que estes são oficialmente os Óscares da Depressão

Acontece que de todos os nomeados a Melhor Filme não houve um único que não me deixasse extremamente triste ou mesmo em lágrimas.

Sei que normalmente os filmes mais dramáticos dominam sempre as nomeações todos os anos... mas os desta edição exageram nos sentimentos. E vamos ter em conta que há vários géneros entre os nomeados, passando pelo sci-fi, western, biopic...


Para criar algo diferente, decidi fazer o TOP da Tristeza, mostrando quais foram os filmes que mais me tocaram entre todos os nomeados ao prémio principal desta cerimónia. 

A ordem escolhida não reflecte em nada o grau de qualidade de cada um, pois o meu TOP de preferências será muito diferente (publico depois).




9 - Hidden Figures / Elementos Secretos
Este é de facto o menos triste na forma como se apresenta. Já o assunto que aborda, a segregação racial nos Estados Unidos, é bastante comovente e há uma cena em que a personagem de Taraji P. Henson explode e que deixa qualquer um numa mistura de tristeza e revolta.





8 - O herói de Hacksaw Ridge
As convicções do herói chegam a ter um peso tão forte, sustentado na perfeição pelo actor Andrew Garfield, que é impossível não nos sentirmos devastados nos momentos finais da batalha que encerra o filme. Mas não convém descrever muito essas cenas, para evitar spoilers





7 - Arrival
Podia ser só mais um filme de ficção científica, mas Arrival começa logo de uma forma muito tocante e mais para o fim só intensifica aquele sentimento de desconforto quando é apresentada a grande revelação que transforma toda a nossa percepção sobre o que vimos. Arrepiante... e infinitamente triste, para dizer o mínimo.





6 - Hell or High Water / Custe o que custar
A história dos dois irmãos criminosos que lutam a todo o custo por uma vida melhor, recorrendo a esquemas moralmente inaceitáveis, transporta-nos exactamente para esse limbo em que não sabemos se os devemos acusar ou defender, em que damos por nós a torcer para que se safem... e no clímax do filme é difícil não nos deixarmos levar pela emoção que todas essas dúvidas nos provocam.




5 - Fences / Vedações
A história arranca de uma forma completamente banal, digamos, mas a partir da primeira hora começamos a perceber os reais contornos que marcam a vida infeliz deste núcleo familiar. Viola Davis muito ajuda depois a intensificar o sofrimento que a sua personagem carrega e, a partir do momento em que ela toma o controlo de todas as cenas, chegamos um arrastar de tristeza e mais tristeza. 





4 - Moonlight
Este deixou-me emocionalmente destruído. Só me lembro de começar a ver os créditos finais e de não estar a conseguir lidar comigo próprio. Sendo um filme que aborda tão cruelmente o tema da homofobia já seria expectável que o grau de impacto fosse grande, mas é a maneira sublime de nos contar a vida do pequeno (e adulto) Little que vai fazer com que este guião fique para sempre marcado como um dos mais bem escritos e brilhantemente interpretados em todas as categorias do cinema. 




3 - La La Land 

Fui vê-lo duas vezes. E da segunda vez ainda chorei mais, principalmente na cena que esta imagem ilustra. La La Land é o filme dos sonhos que não se cumprem, dos amores que não podem sê-lo, e é de uma realidade brutal que só não toca quem não se predispôs a isso. Se o Moonlight me destruiu emocionalmente, este veio acabar de vez com toda a minha forma de sentir. Depois da cena final nem conseguia levantar-me para sair da sala de cinema...





2 - Lion

Soluços, lágrimas e mais soluços. Suspiros. Mais lágrimas. Foi assim praticamente do início ao fim. Lion é um filme extremamente poderoso, que vai crescendo de intensidade de cena para cena, que se revela como uma das histórias de vida mais inspiradoras a que podemos assistir. Mas para isso traz-nos muita tristeza e revolta à mistura. Junte-se a isso o peso do "baseado numa história verídica" e... é ver para crer!







1 - Manchester by the Sea / Manchester à beira-mar
Estou a pensar seriamente em processar os produtores deste. Fora de brincadeiras, penso que este é o filme mais triste que já vi em toda a minha vida. Explicá-lo é difícil para quem ainda não o viu e para evitar spoilers vou só dizer que o brilhantismo está todo na edição (que mostra pouco a pouco pedaços das cenas fulcrais), no papelão do Casey Affleck e na surpresa guardada no guião para nos justificar o porquê de toda a imensa (mas mesmo IMENSA) agonia, depressão e desolação do personagem principal. Quando finalmente nos é mostrada a razão... bem... eu não me aguentei! Tive que parar o filme para me recompor, sinceramente! E só agradeci por não ter ido ver isto ao cinema, pois não quero imaginar o que as pessoas pensariam de mim quando me ouvissem a sofrer por algo que é... fictício?!


Mas é assim, há malucos para tudo, não é? E ou eu estou demasiado sensível ou de facto estes Óscares combinaram tudo para nos atirar para uma espiral de comoção sem fim. 

sábado, 11 de fevereiro de 2017

[ opinião - cinema ] Rings



Para dizer a verdade já entrei na sala de cinema com expectativas muito baixas para este Rings, o terceiro filme das versões americanas da saga de terror The Ring

Passaram muitos anos desde que vi pela primeira vez o The Ring (2002) e ainda hoje me lembro de que foi um dos filmes de terror que mais impacto teve em mim. Sem exagero nenhum, penso que o podemos já incluir na secção dos clássicos do terror moderno. Não era propriamente original, ainda por cima sendo um remake de um filme japonês, mas trouxe-nos uma tensão psicológica e visuais que marcaram uma nova vaga de filmes do género que depois tentaram seguir esta fórmula.

The Ring 2 chegou depois em 2005 correndo atrás do mesmo sucesso mas falhou em termos de qualidade, ainda que não tenha sido tão mau quanto a nova aposta para o franchise.




A verdade é que Rings tenta afastar-se desses dois, trazendo novos actores e uma nova história para contar, mesmo que obviamente tenha sempre como fundo a aterradora Samara Morgan.

E louvo o facto de terem optado por contar mais do passado daquela que é de facto a protagonista de todos os filmes. O argumento é interessante e traz algumas surpresas. Mas infelizmente a realização falhou redondamente ao entregar-nos um filme demasiado explicativo, com diálogos muito vazios e cliché e personagens que se mostram pouco interessantes. 

Chega a ser ridículo termos que estar sempre a ouvir um personagem a explicar literalmente tudo o que vai encontrando nas peças que ajudam a revelar o mistério em torno de Samara. Por vezes senti que alguém na produção pensou que o espectador não seria suficientemente inteligente para acompanhar os avanços do argumento e então decidiu colocar tudo muito comentado, como que a certificar-se de que a mensagem chegava ao destinatário. 

Visualmente há cenas que estão muito bem conseguidas, assim como há outras que parecem pouco inspiradas, com uma edição por vezes demasiado rápida e com muitos cortes. A tal tensão psicológica ficou assim ausente.

Rings não é horrível, mas é demasiado medíocre.

O cinema de terror teve nos últimos anos melhorias significativas, com filmes como The Cabin in the Woods (2012), It Follows (2014) e Don't Breathe (2016). Estes mostraram-nos que ainda é possível haver uma arte muito inspirada e novas formas de imergir o espectador dentro deste género. 

É pena que este Rings, com a vantagem de trazer de volta uma vilã de culto, não tenha conseguido alcançar nem metade da qualidade destes três exemplos. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

[ opinião - cinema ] Elle



"Michèle é a implacável chefe de uma empresa de videojogos. Um dia a sua rotina é quebrada quando é atacada e violada por um desconhecido dentro da sua própria casa. Fria e decidida, Michèle decide não deixar que isso a transtorne. Mas o seu agressor parece continuar a vigiá-la de perto..."




Sinceramente nem sei por onde começar.

Este filme passa por tantas camadas ténues dos nossos hábitos sociais, da família, do trabalho, das relações com os amigos... e com o amor. E é em todas essas passagens, sempre críticas e subtilmente metafóricas, que somos confrontados com duras realidades do ser humano.

A personagem Michèle retratada pela actriz Isabelle Huppert, à volta da qual gravitam todos os elementos do filme, é extremamente perturbadora, para dizer o mínimo.

Logo de início, parece-nos impossível que uma mulher decida assim nem sequer reportar uma violação à polícia, optando por seguir a sua vida normalmente sem um aparente trauma ou algo que a abale. Até a vemos a pedir à equipa criativa para colocar mais sangue, gore e violência no videojogo que está a produzir! E com a evolução da história só vamos percebendo que isso é apenas uma ponta de um grande mistério que vai sendo desvendado...

Este é mesmo daqueles sobre os quais não podemos falar muito, para evitar o risco de estragarmos surpresas do argumento.

Mas é sinceramente um dos meus filmes favoritos de 2016. É preciso estar atento para perceber todos os detalhes que fazem desta obra algo verdadeiramente grandioso. E é preciso aceitar um certo nível de sadismo que me parece ter sido atingido por estarmos a lidar com o cinema francês na sua mais perfeita... inocência?

Tenho a certeza de que algo assim não seria atingido num clássico filme de suspense do cinema americano, por exemplo.

Há aqui uma linguagem (europeia?) muito crua e muito desconcertante. E há também uma forma brutal de ir contando aos poucos mais detalhes que acrescentam muito à revelação da psicose (e do psicopata) que move esta história. 

A partir da primeira hora do filme já só dizia a mim próprio: "Eu não acredito no que estou a ver..."

E realmente... é de deixar qualquer um incrédulo.

5 estrelas. Nem mais nem menos. 


domingo, 5 de fevereiro de 2017

[ opinião - cinema ] Hell or High Water: Custe o que custar





"Toby  e Tanner, dois irmãos, reencontram-se após vários anos sem se verem. Toby está desempregado e Tanner é um ex-presidiário sem qualquer rumo. Juntos começam uma vaga de assaltos a agências do banco que ameaça ficar com as terras da família. Mas o seu esquema desesperado para saldarem a dívida e recuperarem um futuro fica em risco quando atraem a atenção de Marcus, um polícia ranger a poucos dias de passar à reforma, e do seu parceiro Alberto."

Há uma cena genial a meio do filme em que o ranger Marcus (Jeff Bridges) está num quarto de motel com o seu colega de profissão Alberto (Gil Birmingham). A relação dos dois não é muito positiva, com o personagem de Jeff Bridges sempre em constante provocação directa e indirecta, com piadas, sobre as origens indígenas e mexicanas do seu parceiro. Chega a ser odiável vê-lo quase sempre a cuspir comentários xenófobos e preconceituosos, mas há algo muito subtil nesta cena que muda completamente a nossa percepção sobre o velho ranger que se arrasta numa última missão, a de capturar os dois assaltantes. É um breve diálogo, mas que nos mostra que até naquele homem provocador e resmungão há uma certa humanidade e até o medo de alguém que pode afinal apenas sentir-se só, sem saber exactamente como comportar-se... em sociedade?

Jeff Bridges absolutamente brutal!


Foi a partir daí que o filme me deixou completamente rendido, com a certeza de que estava entregue a uma obra que desafiava poderosamente muitas certezas sobre o que está certo ou errado, sobre quem erra ou quem acerta, enfim... sobre os motivos que movem cada ser humano.

Acrescenta-se a isso toda a brilhante crítica às instituições bancárias e de crédito, com cartazes de publicidade muito presentes em várias passagens, a lembrarem-nos sempre a facilidade com que muitas famílias foram atraídas para dívidas e profundos buracos financeiros.

E assim temos um filme que nos ficará na memória. 

Esta aventura dos dois irmãos assaltantes, Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster), não quis ser apenas mais um filme passado no velho Texas (já tão explorado no cinema) mas quis sim levar-nos para outros patamares de reflexão.

E verdade seja dita, esta foi a primeira vez em que genuinamente torci para que os criminosos do filme não fossem apanhados e pudessem safar-se. A primeira vez em que me caiu uma lágrima ao ver nos vilões toda a crueldade e toda a injustiça do mundo, mesmo quando eram estes que as praticavam. 


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PARIS: uma paixão inesperada


Primeiro uma confissão. Paris nunca foi das cidades que mais queria conhecer. Tinha curiosidade em ir, claro, mas nunca esteve no meu top de prioridades. 

Mas em Setembro do ano passado... uma surpresa mudou tudo. Venci um dos prémios do concurso EVS Film Festival que distinguiu o vídeo que fiz sobre os 10 meses do meu Serviço Voluntário Europeu em Itália (vídeo aqui). 

E o prémio foi uma viagem de 3 dias, com estadia e alimentação incluídas, à capital francesa para participar num evento com outros voluntários.

Inesperadamente lá fui eu. No primeiro dia cheguei ao aeroporto de Orly de manhã. Carregava comigo só uma pequena mochila, na qual tinha colocado só mesmo o indispensável para a curta estadia. O objectivo era carregar comigo o mínimo de peso possível. E porquê? Como só tinha que dirigir-me ao Hotel à noite, aproveitei logo para ficar no centro da cidade e visitar locais icónicos como a Torre Eiffel, a Notre Dame e o Museu do Louvre.


Oh... o Louvre!


Como podem ver pelas fotos, o tempo estava agradável e por isso fiz tudo a pé. Caminhei, caminhei... muito. Fiz a margem do Sena, num dos passeios mais bonitos de que tenho memória e rendi-me completamente à zona da Notre Dame (a minha favorita, sem dúvida nenhuma). 

Ao final do dia, depois de um merecido descanso num dos bancos dos Champs-Élysées, dirigi-me ao Hotel, que ficava num dos bairros da cidade e funcionava mais como uma Pousada da Juventude, com um ambiente jovem muito agradável. O ideal para mim.

Diferentes perspectivas da Notre-Dame! Como não amar este local?

O dia seguinte foi passado todo no evento que me tinha levado ali, por isso, para além do bairro onde estava, não pude ver muito da cidade. 

Partiria no terceiro dia ao final da tarde e, ficando livre logo depois das cerimónias com os oficiais da Comissão Europeia e Governo francês, assim que o almoço terminou dirigi-me novamente ao centro da cidade (apanhando o metro, que por acaso tem imensas linhas e ligações, mas que achei muito intuitivo!).

Grandioso Panteão e uma igreja lindíssima ao fundo.

Tinha mais ou menos 5 horas livres e como não sou de desperdiçar oportunidades, optei por ir a outra zona que ainda não tinha visitado, mesmo sabendo que não poderia desta vez ver a cidade toda em pleno. Assim dirigi-me, depois do conselho de alguns locais, ao Jardim do Luxemburgo e ainda consegui caminhar até ao deslumbrante Panthéon. Esta área surpreendeu-me bastante, pois sinceramente achei que o Panteão fosse algo mais simples... mas ao chegar ali fiquei completamente estupefacto com tudo o que o rodeia (as fotos nem conseguem demonstrar a dimensão dos edifícios envolventes e etc!).

Pelo caminho deliciei-me com um fantástico croissant da doçaria francesa e bebi um café (que por acaso era terrível, sem grande surpresa).


Jardins e Palácio do Luxemburgo.

Passei pouco tempo na cidade do amor... é verdade. Mas sinceramente devo admitir que fiquei completamente rendido e com muita vontade de voltar. E sinto que ainda visitei muito do que havia para ver, afinal fartei-me de caminhar e mesmo com os pés já a queixarem-se, cada metro valeu a pena. Paris é uma cidade épica e magnífica, com edifícios (para além dos marcos turísticos) que arrasam a nossa vista com tanta beleza. Um simples passeio nas margens do rio Sena com a torre Eiffel a espreitar ao fundo, por vezes por entre os prédios, é de apaixonar qualquer um.

Quero com isto mostrar que muitas vezes o inesperado acontece e que mesmo com pouco tempo é possível termos diante de nós uma das mais belas experiências da nossa vida. Basta abrirmos os olhos e aceitarmos o desafio. O resto faz-se com amor.

Oh l'amour...!


Uma casa numa qualquer rua da capital francesa.