domingo, 5 de fevereiro de 2017

[ opinião - cinema ] Hell or High Water: Custe o que custar





"Toby  e Tanner, dois irmãos, reencontram-se após vários anos sem se verem. Toby está desempregado e Tanner é um ex-presidiário sem qualquer rumo. Juntos começam uma vaga de assaltos a agências do banco que ameaça ficar com as terras da família. Mas o seu esquema desesperado para saldarem a dívida e recuperarem um futuro fica em risco quando atraem a atenção de Marcus, um polícia ranger a poucos dias de passar à reforma, e do seu parceiro Alberto."

Há uma cena genial a meio do filme em que o ranger Marcus (Jeff Bridges) está num quarto de motel com o seu colega de profissão Alberto (Gil Birmingham). A relação dos dois não é muito positiva, com o personagem de Jeff Bridges sempre em constante provocação directa e indirecta, com piadas, sobre as origens indígenas e mexicanas do seu parceiro. Chega a ser odiável vê-lo quase sempre a cuspir comentários xenófobos e preconceituosos, mas há algo muito subtil nesta cena que muda completamente a nossa percepção sobre o velho ranger que se arrasta numa última missão, a de capturar os dois assaltantes. É um breve diálogo, mas que nos mostra que até naquele homem provocador e resmungão há uma certa humanidade e até o medo de alguém que pode afinal apenas sentir-se só, sem saber exactamente como comportar-se... em sociedade?

Jeff Bridges absolutamente brutal!


Foi a partir daí que o filme me deixou completamente rendido, com a certeza de que estava entregue a uma obra que desafiava poderosamente muitas certezas sobre o que está certo ou errado, sobre quem erra ou quem acerta, enfim... sobre os motivos que movem cada ser humano.

Acrescenta-se a isso toda a brilhante crítica às instituições bancárias e de crédito, com cartazes de publicidade muito presentes em várias passagens, a lembrarem-nos sempre a facilidade com que muitas famílias foram atraídas para dívidas e profundos buracos financeiros.

E assim temos um filme que nos ficará na memória. 

Esta aventura dos dois irmãos assaltantes, Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster), não quis ser apenas mais um filme passado no velho Texas (já tão explorado no cinema) mas quis sim levar-nos para outros patamares de reflexão.

E verdade seja dita, esta foi a primeira vez em que genuinamente torci para que os criminosos do filme não fossem apanhados e pudessem safar-se. A primeira vez em que me caiu uma lágrima ao ver nos vilões toda a crueldade e toda a injustiça do mundo, mesmo quando eram estes que as praticavam. 


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