quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A palavra que não existe



Hoje de manhã fui aos correios para enviar uma encomenda para Portugal. Foi uma conversa em italiano em que não foi logo fácil dizer o que pretendia; na qual que tive que soletrar T - o - r - r - e -s N - o - v - a - s. Mas depois de encaminhado o tema, diz-me a senhora que me atendia no balcão: "Já fui a Portugal. Tens um país muito bonito."

Depois falámos da Praça do Comércio, da água morna do Algarve, dos pastéis de nata. "Mas que faz um português em Itália?" - perguntou-me a senhora. 

A mesma pergunta foi feita ontem pelo casal de indianos que seguia viagem, sentados à minha frente, no comboio procedente de Roma com destino a Venezia. Iniciámos conversa, já nem sei bem porquê. Em inglês. Homem e mulher, de visita por Itália, pensando que eu era apenas mais um italiano e logo estranhando que falasse tão bem a língua inglesa. "Sou português" - expliquei. E diz-me o homem: "Então já ouviste falar de Goa, a minha cidade na Índia. Vasco da Gama..."

Pois claro que ouvi falar. Nós descobrimos esse caminho para um novo mundo. 

"Vocês foram conquistadores, se calhar está na alma portuguesa." - disse-me, quando tentei explicar porque estava integrado num projecto de voluntariado em Itália. "Boa sorte no teu caminho. E que faças muitas novas descobertas" - disse-me a mulher ao despedir-se, quando tive que sair na estação de Bologna. Recordarei os seus sorrisos afáveis para sempre.

Apenas momentos antes, estava em pé no corredor por entre os bancos, quando uma senhora, já idosa e de cabelo grisalho, aproximando-se de mim fez alguma pergunta sobre a estação à qual estávamos a chegar. Mas o seu italiano não era perfeito. O meu também não. Percebi mal. E estivemos algum tempo a tentar debater contra a língua. Aflita, receosa, com o tempo a voar, diz de repente: "Ai meu Santo António de Lisboa".

Levo às mãos à face e exclamo "PORTUGUÊS!!"

Foi a única palavra que me saiu. Pareci parvo. Mas foi o suficiente para mudar a expressão da senhora e colocar nela um sorriso reconfortante. E claro, em bom português, lá a ajudei.

Era o seu ponto de saída, também. E seguimos juntos até à porta, trocando algumas palavras. Tinha, definitivamente, idade para ser minha avó. Tinha, sem dúvida alguma, um dom para o ser.

"Então e não tens saudades de Portugal?" - perguntou, desarmando-me, colocando-me a mão no ombro.

Deixei que os meus olhos brilhassem, inspirei fundo e lá lhe disse: "Agora não. Neste momento não". Agradeci com um sorriso terno, que já não me lembrava de ter.

A porta abriu-se. Saímos. "Adeus. E boa sorte, meu querido!"

Elas estão em toda a parte. As estrelas. As memórias, pequenos fragmentos de vida, pormenores dos dias que passam, das pessoas que me cruzam, como forma de me recordar sempre as minhas origens: de onde vim e porquê.



sábado, 7 de novembro de 2015

1 mês em Itália: as 9 coisas mais estranhas que me disseram desde que cheguei



Vamos ter em conta que todas estas perguntas (ou afirmações) foram feitas por pessoas de outros países, que estão completamente alheias da realidade portuguesa (ou do que é ser português - ou do que é Portugal). 


Mas atenção: entre as coisas mais estranhas que já me disseram desde que cheguei a Itália, não figuram apenas aspectos sobre a minha nacionalidade. 
Tenho recebido comentários mesmo muito engraçados sobre tudo e mais alguma coisa, mas resolvi fazer um TOP dos 9 melhores (só porque não quis fazer o tradicional 10, pow!). O número 1 é o melhor de todos EVER!


9 - "Em Portugal fala-se inglês? Não? Mas tu falas inglês..." [ se calhar porque ninguém me percebeu quando eu tentei falar tuguês ]

8 - Estávamos no meio da praça, este rapaz que não conhecemos, aproxima-se do nada e diz-nos: "Olá, sou muçulmano, mas bebo álcool". [ e é a isto que se chama fazer uma entrada daquelas ]

7 - "O meu melhor amigo tem uns ténis iguais aos teus. O meu melhor amigo é gay. Esses ténis são tipo uma coisa da vossa associação?" [ ahahahah!! sim, fazem parte do dress code! Só entra quem tem. ]

6 - "Em Portugal há castelos?" - [ não. só pedras e mato. nem há casas sequer. ainda não evoluímos até esse ponto, quanto mais castelos... ]

5 - "Tu vais dormir todos os dias à tua casa a Portugal?" - [ vou. no meu jacto privado. ]

4 - "OMG PORTUGAL!!! Conheces pessoalmente o Cristiano Ronaldo?" - [ amigos desde a escola primária. ]

3 - "Tu és 100% gay?" [ tinha acabado de cantar uma música da Britney pela casa. Acho que isso significa que eu sou 200% ou 300 ou 500. ahahahah ]

2 - "Portugal é uma cidade de Espanha, não é?"  [ UMA CIDADE!!! ]


E O GRANDE VENCEDOR É: 

1 - "Porque é que se fala português em Portugal? O português não é do Brasil?" 

[ Português... Portugal... realmente não faz sentido nenhum. Façam já outro acordo ortográfico e passem a chamar esta língua de "brasileiro" ]

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Rimini ou Filipe, o clandestino.



Igreja no centro da cidade.
 Então... no último sábado fui visitar Rimini, a cidade italiana que fica na costa do Mar Adriático e apenas a 30 minutos de Forlì (a cidade onde vivo).

A praia é linda e apetecível para o Verão (a água chegará aos 25 graus e praticamente não tem ondas). E a cidade também tem alguma História para nos mostrar, para além de ser um sítio extremamente turístico (junto ao mar). 


Mas hoje venho contar-vos outra estória, que só por si serve de justificação para isto: ninguém devia deixar-me ir fazer passeios sozinho por aqui. 
Farol. Para me iluminar o caminho, OU NÃO!

Dei uma volta pela cidade e dirigi-me em direcção ao mar. Mas... eis que me meti por um atalho que, pensei eu, seria mais rápido.

Parecia um campo aberto, por isso segui sempre em frente, durante muito tempo. Acontece que fazia parte da estação de comboios (sim, a mesma onde eu tinha chegado mais ou menos 1 hora antes). Quando dei por mim, estava já rodeado de mato e muros altos, num sítio que parecia algures entre o abandonado e o sinistro. E pior: era propriedade privada e com sinais explícitos de "PROIBIDA A PESSOAS ESTRANHAS" em toda a parte. 

Eu estranho? Muito estranho até!

Vejo um portão e penso: "Ok. Vou sair por ali". Não. Pois o portão estava trancado e tinha um aparelho para digitar um código de segurança. À sorte digito 1234, mas não é o pin correcto (ÓBVIO!). Abro o google maps para me situar: vejo que estou a 100 metros do mar e que se for para trás, terei que andar mais uns 3 km.

Mas... andar tudo para trás outra vez? NO WAY! 

Ponho-me então à procura de alguém neste sítio deserto e acabo por encontrar um segurança sentado junto a uma parede, sem fazer nada. Primeiro problema: o meu italiano ainda não é suficiente para explicar uma coisa destas. Segundo problema: ele não falava inglês. Mas pelo menos riu-se comigo da situação, do que pode compreender através dos meus gestos e italiano mal falado, e fez-me sinal que iria abrir o tal portão à distância. Vou outra vez para o portão.

Espero 5 minutos, 10, 15... e a minha hora de voltar ao comboio começa a aproximar-se. Mas eu queria mesmo ver o Mar Adriático de perto. E o portão... nada de abrir. 

E é então que a loucura toma conta de mim e penso "Ok, Filipe... anos e anos a jogar Assassin's Creed devem ter servido para alguma coisa. Ainda por cima estás em Itália. Vá lá... salta o muro". Olho para o muro, com cerca de 3 metros de altura. Olho para o relógio. Olho para mim. Olho para a câmara de segurança a filmar-me. Rezo para não cair dali abaixo. E escalo o muro, com relativa facilidade. Mas vamos juntar a isto o seguinte: tinha uma mala a tiracolo com 2 livros, telemóvel, carteira e etc lá dentro. Sim! Quando dou o salto final e caio no chão, são e salvo, está um homem com uma criança ao colo a olhar para mim escandalizado. 

Ponho-me a correr, feito clandestino. E só me dá para rir e falar sozinho, dando o toque final para que todos pensem que eu sou maluco.

Pelo menos consegui chegar à praia e aproveitar alguns momentos de relaxamento junto a esta vista fantástica.
Junto à Marina de Rimini.
Já regressado ao comboio, respiro de alívio. Mas por pouco tempo. Tinha comprado o bilhete, mas com isto tudo esqueci-me de o validar na máquina!! E quando vem o senhor revisor pedir-me o bilhete... repara logo nisso, obviamente. Teria que pagar uma multa de 60€ (o bilhete custou 4€). IMAGINEM! Mas fiz uma cara tão pobre e triste, expliquei que estava há pouco tempo em Itália e o senhor lá me deixou seguir viagem sem pagar mais. Que sorte! 

"Attenzione!" - diz-me o senhor despedindo-se de mim.

Attenzione, attenzione MESMO! Mal ele sabia o que eu tinha feito antes...

Centro da cidade.

Pois é, num só dia consegui ser clandestino sei lá quantas vezes. E eu realmente tenho uma queda para andar ilegal nos tranportes públicos italianos, como podem ler aqui


Porta romana, resquícios de um grande Império.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Timbuktu: a raiz do mal



Imagina uma cidade onde foi proibida a música, onde já não se pode jogar futebol, nem fumar, nem vestir uma cor que não seja neutra, onde não se pode rir. Esta é a realidade em Timbutku, lugar ocupado por radicais jihadistas e que dá nome ao filme mais poderoso que poderás ver este ano. E nos anos que se seguirão. 

Contar muito sobre o filme, é estragá-lo para quem não o viu, por isso vou limitar-me a alertar que é uma película extremamente perturbadora, para quem se ache digno de ter uma consciência moral.

Mas não é só isso. Timbuktu tem uma realização e produção impecáveis, a roçar o perfeccionismo. E a cena da morte que dá início ao injusto julgamento que conduz a segunda metade da história, é absolutamente linda, de tão original e bem filmada que está.

Não será um filme para todos, pois quem o procurar em busca de, apenas, cenas de acção terrorista, ficará desapontado. O brilhantismo está pois também nos diálogos demorados, nas cenas pausadas, rotineiras, que o realizador tão bem nos apresenta.

O melhor elogio que lhe posso fazer é que, enquanto o via, tive sempre a impressão de que aquilo estava mesmo a acontecer naquele exacto momento. E de certo estava, com outros personagens e outro cenário, num lugar real, mas estava de facto a acontecer esta tirania.

E é por isso que Timbuktu irá ressoar dentro de quem o vir, durante muito tempo, chamando clandestinamente à atenção para um problema que está a assolar não só toda a uma região, mas todo o mundo.



terça-feira, 20 de outubro de 2015

DOPE: um dos melhores filmes deste ano



Malcolm é um jovem negro, que vive num bairro problemático. Malcom é um geek e não se enquadra no estilo de vida dos rapazes do seu bairro. Sendo directo: ele não é um traficante de droga. Até que passa a ser. DOPE é um filme tão bem escrito que só assim nos obriga, ainda que através de uma comédia leve, a desconstruir conceitos sociais de status (e estéticos) que todos nós temos enraizados nas nossas mentes.  E é por isso que temos personagens como, por exemplo, a rapariga transgeder que toda a gente pensa que é um rapaz. Tudo faz sentido no filme, nada aqui foi incluído ao acaso e - ironicamente - tudo acaba por se enquadrar. 



Não quero contar muito sobre o enredo do filme, pois o mais engraçado é mesmo descobri-lo e ser surpreendido pelo final brilhante. 

Sim, o final é um daqueles momentos inesquecíveis... como uma grande bofetada na nossa consciência, como um alerta para a discriminação múltipla que na maior parte das vezes é invisível para a maior parte das pessoas.

E é por isso que DOPE é um dos melhores filmes do ano.

Obrigatório ver.




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O que tenho feito como voluntário

Já vos falei da cidade de Forlì, já vos mostrei o passeio que fiz a San Marino, mas faltava-me contar-vos aquilo que faço realmente como voluntário aqui.

Equipa do Centro Educativo.

Estou incluído no projecto da Villa Gesuita, um Centro Educativo para onde as crianças vão no fim da escola. Temos crianças dos 6 aos 14/15 anos e a função principal dos educadores é ajudar com os trabalhos de casa, mas não só. Todos os dias, no fim de feitos os trabalhos de casa, há várias actividades, como dança, jogos, receitas fáceis na cozinha, etc. 

Laboratório de cozinha, onde fizemos bolos de Halloween com os mais pequenos.

Por agora tenho apoiado os educadores com os mais novos, estando a ajudar sobretudo no inglês e matemática básica (porque são as disciplinas que não exigem tanto que eu domine o italiano)

Mas estas crianças são especiais, pois vêm sobretudo de contextos sociais e familiares... difíceis. E alguns dos meninos têm necessidades especiais a nível do ensino também. Em breve o Centro irá receber também crianças que têm deficiências médias. E esse será outro grande desafio.

Matemática em italiano. Fácil.
English? Italiano? Va bene! 

E o que posso dizer para já é que estou a adorar. Aprende-se muito com estas crianças, mas muito mesmo. E sinto que são eles que estão a ensinar-me. No meu primeiro dia ali, um dos rapazes mais novos percebeu que eu não percebia nada de italiano e fez um esforço: enquanto ele escrevia os seus deveres, lia sempre em voz alta e explicava-me o significado de cada palavra. E ninguém lhe pediu para o fazer.

Não há dinheiro no mundo que possa pagar um momento assim. Simplesmente não há. E é por isso que trabalhar com crianças é tão recompensador. 

Vou quase sempre nesta bicicleta para o trabalho, excepto quando está a chover, nesse caso apanho um autocarro. Este é um parque mesmo ao lado do Centro (a bicicleta foi-me oferecida pelo Centro, para as minhas deslocações pela cidade. Sim, vão ser 10 meses sem conduzir. Já imaginaram?).

O Centro. Uma mansão do século XVII, que tem um jardim encantador. A sério... é LINDO!

Para além de ajudar directamente nos deveres, há depois outros trabalhos pequenos, como preparar o lanche, arrumar e limpar a cozinha no fim, etc.

Não posso colocar aqui fotografias dos meninos, por razões óbvias. Mas ficam algumas fotos para terem uma ideia do local e das actividades. 

E irei escrevendo mais sobre esta experiência.

Uma menina pintou este desenho e veio a correr mostrar-me. Não é brutal? :D

domingo, 18 de outubro de 2015

San Marino: crónicas de gelo e fogo

San Marino é uma pequena República, um micro país envolto pela Itália. E fazia parte das "10 coisas que quero fazer em Itália durante o meu SVE", conforme escrevi aqui. Bem... agora já só me faltam 9, pois visitei San Marino ontem. Os textos seguintes são apontamentos que fui escrevendo ontem, no bloco de notas, durante esta fantástica visita a um país muito pequeno em tamanho mas muito grande em beleza.


Sem palavras. 

"17/10/2015 - 9:55h 
Estou a escrever no comboio, a caminho de Rimini. Vou realizar um dos meus desejos do TOP 10. Conto mais tarde.

11:04h
Já estou no autocarro (BUS) para San Marino, que apanhei em Rimini. O BUS está sobrelotado, não há lugares e vou em pé agora, pois estava sentado nas escadas mas cedi o meu lugar a uma senhora que vinha do mercado da cidade carregada de sacos. Estão mais umas 10 pessoas em pé. Isto não é ilegal?Seguro é que não é de certeza.


Sentados no chão do BUS.
Um museu assustador.


14:09h
San Marino é tão bonito. De verdade. Começando na paisagem que se vê daqui de cima, passando pelos monumentos Históricos e terminando no que se sente quando se caminha e sobe pelas pequenas ruas que nos levam pela cidade. Valeu a pena vir. E espero regressar. Agora vou continuar a visita.



As ruas da cidade estavam apinhadas de gente. E percebe-se porquê. É um destino turístico de excelência.

Tirámos muitas fotos, pois todos os locais pareciam exigir uma fotografia digna! 

Lindo, apenas LINDO!

14:18h

Subindo ao topo da montanha, numa das torres, é possível ver ao longe o mar Adriático. Não tenho mais palavras. Só estando lá se consegue entender a sensação!


Westeros na vida real seria algo assim. 

16:13h
Espanta-me que a produção de Game of Thrones não tenha decidido gravar para a série aqui, pois tudo exalta e respira o ambiente do fantástico, de algum conto de rainhas e dragões. San Marino é inesquecível desde o primeiro momento em que os nossos olhos encontram as suas torres e muralhas. 



Uma das ruas principais da cidade.
Um passeio pelo bosque...


16:50h
Percorrer o caminho que se traça pelo bosque do monte Titano é uma experiência única, que só os cinco sentidos poderão descrever ao máximo. Aqui sente-se a beleza do Outono no seu expoente máximo. Encontrar uma torre, um miradouro com vista para o mar, uma árvore centenária... são apenas alguns dos pormenores que acrescentam muito a este passeio. Lugar de serenidade, natureza e inspiração vibrantes.



Fim de tarde em San Marino. Esta foto foi captada com o telemóvel. Imaginem se tivesse uma máquina das boas...



Isto é "apenas" a Igreja local... mais palavras para quê?

 Nem as fotografias nem as palavras fazem justiça à beleza desta pequena fantástica República. É preciso ir lá para viver o local. É preciso entrar num restaurante e comer uma pizza tradicional, entrar num bar e beber um café local bem forte, sentir os sabores, os cheiros, as pessoas. E foi exactamente o que fiz. Como se vê pelas imagens que publiquei, San Marino tem muitos contrastes. Caminhámos muito a pé, alguns km, e dá para perceber que passámos por sítios completamente diferentes uns dos outros. E é por isso que esta é uma viagem obrigatória para qualquer pessoa que se digne a gostar de um local histórico repleto de pormenores e detalhes que surpreendem todos os sentidos. Espero voltar, pois sei que ainda tenho muito para descobrir ali.


Grupo que foi nesta viagem. Somos todos voluntários em Forlì (em diferentes projectos). Só nestas fotos temos pessoas de Portugal, Rússia, Espanha, Polónia e Argentina/Itália... imaginem a mistura cultural que aqui vai. :) 




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Sê italiano!




Primeiro vamos focar-nos no seguinte: nós portugueses temos a fama - em alguns países - de andarmos muitas vezes à borla nos transportes públicos. Ok, não sei quem foi a pessoa estúpida que inventou isso. Mas é um facto. E eu nunca tinha andado à borla num transporte público. NUNCA. Até ontem.

Agora é o seguinte. Eu acho que acabei de confirmar essa teoria, porque talvez seja algo que me está no sangue. A corrupção socrática corre-me nas veias. Mas foi SEM QUERER.

Juro juradinho. Eu comprei os bilhetes numa tabacaria, não é? Esperei pelo autocarro (BUS). Entrei. E passei pelo senhor motorista que me disse apenas "Ciao!" e fez sinal para eu avançar quando lhe mostrei o bilhete. Sentei-me. Já noutro BUS aconteceu exactamente o mesmo. Nada diferente. 

Já regressado a casa, explicam-me que eu tinha que "picar" o bilhete numa máquina dentro do BUS. Ou seja: 2 viagens à borla, porque não piquei bilhete algum (pusessem lá uma pessoa a "picar" os bilhetes!!).

Noutro dia, volto ao BUS, agora já com um passe de 10 viagens (e + 2 que ainda sobravam devido a eu ser ladrão). Entro no BUS, vou à máquina para picar o cartão e aquela merd* não dá. Só apita, apita, apita, acende uma luz a vermelho. E eu já nervoso com os nervos, sento-me e pronto. Mais uma viagem à borla, porque não era assim que se "picava" o cartão. 

"SOCORRO!!" - pensei eu para mim mesmo quando vi um ragazzo a entrar e a passar lá o cartão de forma correcta. Ok... eu estava a enfiar o cartão no sítio errado. Daí a máquina ter ficado nervosa, NÉ? Ok... tudo o que não seja como no Metro de Lisboa, não funciona nas minhas mãos à primeira.

Mas vá, hoje já fui LEGAL no BUS, sem risco de apanhar alguma multa. E consegui passar o cartão, em todos os sentidos. 

Mas porque é que os senhores motoristas nunca me disseram nada? Porque é que ninguém me falou quando a máquina apitou? 

Acho que tenho a resposta. Nesta mesma semana alguém me disse isto: "You look like from the Mafia!" (Tu pareces da Máfia!)

Aposto que eles tiveram medo. :D

Assinado, 

Il Padrino

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Forlì: algumas curiosidades sobre a cidade


A cidade tem muitos parques e áreas verdes, o que é muito bom para relaxar e fugir um pouco à confusão (ok, quando estiver Sol e calor...). O que achei mais engraçado foi que no parque maior podemos andar lado a lado com coelhos, que andam por ali a comer e a passear como se nada fosse. Se eles estivessem na minha terra (em Portugal) aposto que iriam fugir! Porque lá os coelhos são caçados... mas aqui andam em perfeita paz connosco enquanto passeamos pelo enorme jardim (podem ver nas fotos). Para além de coelhos também vi outros animais como toupeiras... 


Não são tão giros? :)

Sempre que pedes um café, servem-te de imediato assim um copo pequeno (tipo shot) com água. É tão estranho, porque em Portugal se queres água com o café, tens que pedir. Acho que isto deve ser um hábito em toda a Itália, não sei ao certo.



Os italianos durante o Renascimento tinham realmente uma grande queda por torres ENORMES, que pareciam tocar o céu. E isso nota-se bem na cidade de Forlì. E sim, foi exactamente por isso que os jogos Assassin's Creed, que se passaram em Itália durante essa época, tiveram tanto sucesso. Curiosidade: Forlì aparece no 2º jogo dessa série e posso garantir-vos, agora que vi tudo ao vivo, que a cidade está muito bem retratada no jogo. Torna-se até mágico andar perto de edifícios onde já "estive" como jogador. 

Ok... isto parece o campo, mas não é. Na verdade é mesmo um parque que existe no meio da cidade. Lindo, não? :)

domingo, 11 de outubro de 2015

SVE: primeiros dias em Itália



Este é o meu primeiro post aqui em Itália e vou aproveitar para dar as minhas primeiras impressões desde que cheguei e também para responder a algumas questões que algumas pessoas têm colocado.

Forlì - a cidade que me acolheu é aquilo a que os italianos (e a maioria dos europeus) chamam uma cidade pequena. Mas comparando à realidade portuguesa das cidades pequenas, esta é uma cidade com muita vida, com muitas atracções turísticas, lojas, teatros, cinemas, bares, cafés, etc. Vivem aqui cerca de 110 mil pessoas. Dá para entender melhor? Forlì tem um centro histórico mesmo muito bonito. A sério. Só indo lá para ver!


Piazza Aurelio Saffi - centro da cidade.

Pessoas - Ok, eu não conhecia ninguém aqui. Ninguém. Mas fui recebido de uma forma muito calorosa e colocaram-me logo à vontade. Vivo num apartamento com uma rapariga espanhola, outra da Roménia e um rapaz espanhol (da Galiza, que nós dizemos sempre como piada que não é Espanha! E não é, certo?).
Aqui toda a gente anda de bicicleta. E o Centro deu-me esta para eu andar pela cidade. 

Língua - percebi que se os italianos falarem mesmo devagar consigo perceber quase tudo. Mas a minha língua oficial tem sido o inglês (e ainda estou a aprender o italiano). Tivemos uma welcoming party aqui em casa e tive que falar tantas línguas ao mesmo tempo que o meu cérebro ficou confuso (tínhamos pessoas de França, Rússia, Polónia, Itália, Espanha...). Já quase nem sei pensar em português. Mas isto é muito bom, porque vou aprender muito assim. Ah! Também já provei vinho italiano (do barato, mas não interessa). É bom e dolce, não muito forte. 



Isto é o que acontece quando bebes demasiado lambrusco na welcoming party. Não, a sério. Nós estávamos bem. :) 

Muitas pessoas têm perguntado se acho que o nível de vida é muito caro. E surpreendentemente não é muito caro em comparação com Portugal. Claro que há produtos mais caros no supermercado, mas também há outros mais baratos. E como estamos no país da pasta, comprar meio quilo de esparguete é mesmo MUITO barato (por exemplo). Algo que achei brutal foi que indo comprar fruta ao mercado a diferença de preços é absurda, com preços muito mais baixos do que nos supermercados. Vou dar um exemplo prático que aconteceu comigo: comprei 5 bananas, 4 pêssegos e 2 maçãs só por 1,50€ TUDO! Sim, é verdade. Agora, enquanto esperam pelo outro post onde irei falar do que já fiz como voluntário, vou deixar-vos a pensar que o ordenado mínimo italiano é o dobro do nosso, e é só fazer as contas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"Preciso de escrever para me sentir viva."

Ana Cristina Pinto



Ana Cristina Pinto escreveu e publicou "A Guardiã - O livro de Jade do Céu" (editado este ano pela Capital Books). Depois de ler o seu livro, falei com a autora numa entrevista informal, onde até conversámos sobre cinema. 


- "A Guardiã" fala-nos de História, religião e ciência. Foi fácil conjugar estes três temas?

Antes de mais obrigada pelo convite para falar da Guardiã no teu blog.  Tenho a noção de que és um jovem escritor muito talentoso e promissor e por isso, para mim é uma honra aceitar.
Respondendo à tua primeira pergunta posso dizer-te que de facto não foi difícil juntar história, religião e ciência. Pelo contrário. Juntar estes três “ingredientes” foi muito fácil, porque se reparares bem a história também é religião e a religião também é ciência. O que foi difícil foi ligá-los entre si, como se de um puzzle se tratasse. Isso sim foi difícil. Exigiu muita pesquisa e abertura de espírito. Penso que essa abertura de espírito também é necessária para quem lê “A Guardiã”.

- A minha passagem preferida do livro acontece quando o demónio Kasbel revela o que sucede aos humanos quando chegam ao seu inferno. A Ana Cristina tem também alguma parte favorita?
Tenho. Adoro o capítulo da noite da festa em casa do Baltazar, porque aí o Michel (Miguel) revela o seu lado encantador e profundamente conhecedor das pessoas e do mundo. Ele é de facto um sedutor e eu ter-me-ia apaixonado por ele se estivesse no lugar da Luana. E adoro também toda a aventura na Jordânia. Senti-me lá, literalmente.

- Neste livro leva-nos a viajar por Portugal, Jordânia e Avalon. Para onde poderá levar-nos a seguir?
Bom, a seguir a história parou em New Orleans. Uma cidade também muito especial, cheia de mistério e sedução. É exactamente nessa cidade que a aventura de Luana é retomada, mas mais uma vez a Guardiã será levada a outras partes do mundo, como Londres por exemplo.

- Para quem já leu este seu primeiro livro, penso que há uma questão que se levanta no final: continuaremos a acompanhar estórias do Michel... ou da própria Guardiã?
Sim. Eu continuo nesta relação muito íntima com eles e sei que a Luana, o Miguel e o Gabriel têm ainda muito o que contar.



- Falando agora de outros livros. O que tem lido ultimamente? O que nos sugere?
Tenho tentado ler sobretudo autores portugueses. Tive o privilégio de conhecer nos últimos meses bons autores portugueses, que estão no início das suas carreiras. Filipe Vieira Branco , MBarreto Condado, Luís Ferreira, Pedro Santos Vaz, Paulo Caiado e Rui Calisto e li outros já mais conhecidos e aclamados como José Luís Peixoto e Luís Miguel Rocha, por exemplo. Todos eles, mais ou menos conhecidos, são autores ao nível da excelência e que eu recomendo com muita convicção. Sugiro 1 livro em particular: Yggdrasil, Profecia do Sangue de MBarreto Condado. É uma autora que vale a pena descobrir, sobretudo para os amantes do Fantástico que são cada vez mais. E correndo o risco de parecer que estou a dar graxa sugiro também o teu. “O Dia em que Nasci” de Filipe Vieira Branco. Acho que é absolutamente imperioso apoiar os novos autores. Temos muitos que são muito bons. Tal como tu e o Luís Ferreira que escreveu também uma história belíssima à volta do caminho de Santiago. “Entre o Silêncio das Pedras” é pois, mais um livro que eu recomendo.

- E dentro do género fantástico, onde podemos inserir o seu livro, tem algum autor favorito?
Tenho. Em português, um autor já com provas dadas, Filipe Faria e a autora que já referi, MBarreto condado. Ela tem uma história fabulosa no livro “Yggdrasil, Profecia do Sangue”. Lá por fora, claro que me rendo ao Tolkien e a George R.R.Martin mas não posso deixar de fora a maravilhosa Marion Zimmer Bradley. Quem leu “ As Brumas de Avalon” sabe exactamente de quem estou a falar.

Keira Knightley / Filipe Duarte


- Se o livro "A Guardiã" fosse adaptado ao cinema, que actriz gostaria de ver no papel de Luana?
Essa é a pergunta verdadeiramente fantástica.  Seria necessário muito mais do que escrever a melhor história de sempre para que algo assim pudesse acontecer. Seria preciso antes de mais que este livro tivesse uma visibilidade que como sabemos, dadas as condicionantes do mercado, não tem. Mas se porventura isso acontecesse eu gostaria de ver a Keira Knightley no papel de Luana e se falarmos em actrizes portuguesas, então a minha escolha recairia sobre a Sofia Ribeiro.  E vivam os sonhos. 

- E já agora, que actores poderiam dar vida aos arcanjos Gabriel e Miguel?
Atendendo às características físicas dos dois arcanjos, Ben Stiller ou Keanu Reeves no papel de Miguel e Jude Law no de Gabriel. Em português Paulo Pires a dar vida ao Gabriel e o charmosíssimo Filipe Duarte a encarnar o Arcanjo Miguel, seria perfeito. Mais uma vez: Vivam os sonhos! 

- O futuro passa pela publicação de outro livro? Que projectos pode revelar?
Não faço a mínima ideia por onde passa o futuro. Eu gostaria muito de voltar a publicar. Sei que vou continuar a escrever, isso sem qualquer dúvida, até porque preciso de o fazer para me sentir viva. Quanto a futuras publicações, há muitos factores a equacionar. Hoje tenho comigo a Capital Books que fez um trabalho excelente na edição e que me proporcionou entrar nesta aventura de levar o que eu escrevo a mais leitores. Tem sido uma experiência muito boa, muito interessante e nem por um segundo me arrependo. Mas quando se fala do futuro, não se pode falar com certezas. O futuro a Deus pertence, não é assim? 
E já agora só para terminar quero dizer-te, Filipe, que te desejo toda a sorte e sucesso do mundo. A ti e a todas as pessoas que trabalham e acreditam no seu trabalho. Obrigada.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A Guardiã - O Livro de Jade do Céu [ OPINIÃO ]



Desengane-se quem pensa que "A Guardiã", o primeiro livro de Ana Cristina Pinto,  é um livro difícil de entender.

Tratando de temas tão complexos como a teoria das cordas, os multiversos ou a existência de anjos e arcanjos, a escrita da autora é bastante elucidativa, explicando ao mesmo tempo em que ensina e entretém, sem nunca nos forçar a acreditar. Cabe a cada um tirar as suas próprias conclusões.

Mas não sem antes ver levantadas várias questões pertinentes. De onde vem a Humanidade? Como começou? Quem somos? O que nos rege, afinal?

E é seguindo a estória de Luanauma arqueóloga que se apaixona por um arcanjo celestial, que vamos procurar respostas a essas questões, numa aventura que nos leva a Óbidos, Lisboa, à Jordânia... e não só. 

Inserindo-se de imediato no género fantástico, com um toque de romance, este é um livro fenomenal e obrigatório para os amantes do género.

Termino dizendo o seguinte: 

Se o mundo literário em Portugal fosse justo, este livro estaria no TOP de vendas ao lado dos best sellers de José Rodrigues dos Santos e Luís Miguel Rocha.

Mas ainda é apenas o primeiro livro de Ana Cristina Pinto e, espero eu, ainda havemos de a ver lá chegar. Continuando a escrever assim, será um trunfo mais do que merecido.