quarta-feira, 18 de abril de 2018

Diário de bordo #2: uma tour grátis por Frankfurt

Grupo que fez parte desta Free Tour (várias nacionalidades numa foto).

A convite de uma colega de trabalho, que também veio de Lisboa comigo para esta nova aventura aqui em Frankfurt, lá decidi ir experimentar a "Frankfurt free alternative walking tour". Esta tour é organizada por estudantes da universidade que quiseram dar a conhecer outros aspectos da cidade, oferecendo um serviço gratuito enquanto nos vão mostrando um pouco da história, hábitos e locais mais importantes de Frankfurt. Claro que no fim recebem sempre algumas gorjetas mas o valor que cada um dá é absolutamente livre, como a própria tour

Às 14h do sábado passado lá nos encontrámos então com o grupo de pessoas que iria participar nesse dia. O ponto de encontro é numa das ruas mais movimentadas, mesmo junto à estação, e por isso foi muito fácil de lá chegar. Não é preciso marcar nada, basta estar lá a essa hora e pronto.

O nosso guia era o Alan e foi com um inglês perfeito que nos recebeu e começou a falar sobre a sua cidade. 

Logo desde o início, o nosso guia foi muito claro: queria mostrar-nos o lado mais brilhante mas também o lado mais negro de Frankfurt. E conseguiu. No nosso passeio pelas contrastantes ruas da metrópole tivemos oportunidade de ver o melhor e o pior de uma cidade que vai do underground da música techno ao topo dos arranha-céus dos maiores bancos e empresas da Europa.

Ponto de encontro.
Assim, começámos pelo lado menos bonito da cidade, o  chamado "Red Light District", que alíás eu já tinha visitado anteriormente tal como relatei aqui: Da podridão ao dinheiro: uma visita ao Red Light District de Frankfurt

A verdade é que apesar de aí vermos o lado mais rotten, não deixa de ser interessante presenciar essa realidade tão crua. Desta vez não o fiz sozinho e com as explicações do guia sobre como aquela zona tinha mudado com o passar dos anos, com a legalização da prostituição na Alemanha, etc, etc, consegui ter uma ideia muito mais profunda do que significa aquele bairro para cidade. Tivemos até direito a ver ao vivo uma situação menos positiva entre um homem e uma das mulheres que trabalham ali, mas não vou alongar-me em comentários sobre isso. Direi apenas que apesar da prostituição ser legal e de os trabalhadores da área terem direito a fazer descontos e segurança social... é necessário haver ali mais presença policial. Nunca me senti inseguro ali, mas o mesmo não se poderá dizer das mulheres que lá trabalham...





E literalmente em dois passos avançámos da zona mais imunda para o esplendor dos gigantescos prédios que ostentam todo o dinheiro que ali foi e é investido. Aqui nesta foto temos a sede original do Banco Central Europeu e logo ao lado mais arranha-céus que competem entre si para ver qual se destaca mais em grandeza.

Novamente aqui os comentários do nosso guia acrescentaram muito mais valor a estas vistas (eu já tinha passado ali muitas vezes, mas agora vejo tudo de forma diferente).

Memorial simbólico das vítimas do Holocausto. 

E houve também tempo para viajarmos até um período negro da História, ainda tão presente na realidade alemã de tão recente que é. Pelas ruas de Frankfurt entre as pedras da calçada podemos encontrar estes marcos no chão em frente às casas de judeus vítimas do Holocausto. Lê-se o nome, o ano de nascimento, o ano em que foram retirados às suas vidas e famílias e depois... a data e local da morte, neste caso Auschwitz. Impressionante como estes pequenos pormenores na pedra podem tocar-nos tanto, como se aquele passado tão triste estivesse sempre presente. Um trabalho brutal, em todos os sentidos, do artista Gunter Demnig.

Centro histórico. Casas medievais que foram construídas após terem sido bombardeadas e completamente destruídas nos confrontos da Segunda Guerra Mundial 

Também pelo centro mais antigo da cidade podemos descobrir mais sobre o Apfelwein (ou apple wine), que não é nada mais do que um tradicional vinho de maçã (traduzindo à letra). Segundo os alemães, e o nosso orgulhoso guia, não é o mesmo que sidra. Na foto de baixo podemos ver uma ilustração medieval na parede, sobre a arte de produzir e beber esta famosa bebida. Por acaso acabei por não provar, mas está na minha lista de coisas a fazer.




A nossa tour acabou aqui, não sem antes termos uma interessantíssima pequena discussão sobre as modernas forças da extrema direita e o seu ressurgimento em força na Europa, sobre a crise dos refugiados, sobre o passado e o presente, enfim, também sobre o futuro. E tivemos essa conversa numa antiga igreja que já serviu também como um improvisado parlamento na criação do Estado fortíssimo que é hoje a Alemanha do século XXI, mas que afinal não tem assim tantos anos de história como país verdadeiramente unificado.

Entrada para o bairro medieval e centro histórico.


Esta tour tem a duração de 2 horas e, ainda por cima sendo gratuita, é imprescindível para quem quer saber mais sobre a cidade e as suas pessoas, dando-nos um ponto de vista muito interessante de um jovem, o nosso guia, que viveu aqui toda a sua vida. Recomendo a quem estiver aqui de passagem ou mesmo a quem chegou para ficar, pois é mais do que certo de que a nossa visão sobre uma das cidades mais ricas e mais caras da Europa vai mudar muito depois disto... para melhor ou para pior, caberá a cada um decidir. 

Mas uma coisa é certa. Com todos os seus contrastes arquitectónicos, históricos, económicos e sociais, Frankfurt é uma cidade que é muito mais do que parece, muito mais complexa e misteriosa do que nos poderá parecer à primeira vista. 


O lindo edifício da Ópera, lado a lado com a modernidade. 


sábado, 7 de abril de 2018

Diário de bordo #1: uma casa na Turkish Town

Vista da janela da cozinha. E tenho um quintal com um jardim, sim! :D


FINALMENTE... consegui alugar uma casa. 

Vocês não tem noção do quão difícil foi isto, com pesquisas diárias em todos os sites, apps e afins que tinham anúncios de apartamentos, casas, quartos... 

É um facto já mais que provado que aqui a oferta é muito pouca para a procura que há. Mas, depois de andar a saltar com as malas de alojamento temporário para alojamento temporário (olá AirBnb!) lá consegui um contacto que me solucionou este problema.

Nem vou alongar-me mais sobre a quase cómica tragédia que foi esse período inicial, pois agora que já posso respirar alguma tranquilidade, hoje quero falar de algo muito curioso.

O engraçado de morar em Frankfurt é que muitas vezes esqueço que estou na Alemanha. Primeiro... não trabalho com um único alemão. Somos todos portugueses, italianos, espanhóis, gregos, etc. Já viram aqui o padrão, certo? Mas isso é assunto para outros posts. 

Hoje falo da minha vida quotidiana depois do trabalho. O bairro onde moro, nos subúrbios de Frankfurt, é chamado pelos locais de "Turkish Town" (Cidade Turca) porque, bem, vivem aqui muitos turcos. Caminhando por estas ruas encontramos só salões de beleza turcos e supermercados turcos (que vendem produtos originais do país). E depois há muitos restaurantes de kebab e bares de shisha...

Aliás, das únicas vezes em que saí à noite foi sempre para bares turcos porque basicamente eram os únicos abertos até mais tarde (depois da meia-noite, entenda-se! E só por aqui já ficou bem claro que não estou em Portugal).

Ontem quando ia às compras até vi um casamento turco (ou árabe) na rua.

Sim.. às vezes tenho quase a certeza de que eles não são todos turcos. Muitas dessas pessoas são provavelmente marroquinas, sírias, tunisinas, etc., mas acho que é mais fácil para os locais colocarem o "rótulo nacional" mais comum por aqui. Não é que eu entenda a língua, mas já ouvi muitas formas de falar diversas e com alguns "Salamalekum" pelo meio (que simplificando é uma saudação árabe que significa algo como "A paz esteja contigo"). 

Depois há episódios assim. Há uns dias na Primark o segurança começou a falar comigo não em alemão, nem em inglês, mas em turco. Ao que eu respondi em inglês, é claro, e ele apenas respondeu: "Pensei que eras turco ... como eu". É assim... eu não consigo nem falar alemão, quanto mais alguma variação de línguas árabes e semíticas. Vamos com calma!

A coisa boa é: como eles chegaram aqui, como eu, sem um bom conhecimento de alemão, a maior parte fala um inglês muito decente... por isso é mais fácil começar uma conversa e ter alguma ajuda quando necessário, também porque acho que nos identificamos facilmente nesta confusão inicial de estar a pisar um território completamente novo. 

Então basicamente é isto... daqui a um ano veremos se falo alemão ou turco. 

Güle güle!