domingo, 19 de março de 2017

[ opinião - cinema ] A Bela e o Monstro



O filme cumpre com o seu maior propósito, o de trazer uma vaga de nostalgia aos adultos e jovens adultos que cresceram a rever repetidas vezes aquela velhinha cassete VHS do clássico original de 1991. 

Foi por isso mesmo que assim que a primeira cena começou dei por mim a fazer força para não deixar correr aquela lágrima no canto do olho... 

E nem preciso de descrever em detalhe todas as emoções e arrepios que passaram por mim ao ver a Emma Watson descer aquela escada naquele vestido amarelo que durante anos e anos fez parte da minha infância. 

Mas antes disso, já no intervalo, dei por mim a não gostar muito de certos aspectos do filme. E refiro-me mesmo a aspectos visuais. Os efeitos especiais digitais (e o CGI) aparecem em exagero a nível dos cenários. Atenção que não me refiro aos personagens "objectos", que obviamente tinham de ser assim animados. Falo mesmo de certas cenas em que é demasiado evidente que os actores "reais" estão a representar diante de um ecrã verde. O problema é que aos cenários falta alguma profundidade e mais detalhes, mais... beleza? No mesmo campo, não gostei do aspecto geral do Monstro, porque faltava-lhe ser assustador e ter mais expressão. Estamos em 2017, já evoluímos tanto nesta arte, mas essa evolução parece não ter passado por aqui.

E nas questões técnicas, fico-me por aí.

O filme brilha nas partes em que é literalmente um remake quase frame por frame do original, mas fiquei também muito satisfeito com as adições que foram feitas à história, com novas músicas, novos locais e pequenos detalhes que aprofundam a relação dos personagens principais. Há até alguma modernização, em que a Disney (finalmente!) nos trouxe abertamente um personagem gay (e outro trans?), sem esquecer ainda alguns ideais sobre a liberdade feminina muito bem colocados na personagem Belle (e tendo em conta que a feminista Emma Watson é quem lhe dá vida, isto deixa-nos ainda mais espaço para reflectir).



Como disse ao início, o seu maior objectivo foi alcançado. Deixou-nos envoltos na melancolia e nas memórias de outros tempos.

Só que nessa envolvência faltou ir mais longe, arriscar mais, ter mais gosto pela decoração das cenas-chave e até ter mais trabalho com o guarda-roupa do elenco. Por vezes este filme pareceu-me mais uma produção para televisão do que um dos maiores hits do cinema de 2017.

Sendo assim, A Bela e o Monstro alterna entre momentos excelentes e outros em que nos custa a crer que quem está por detrás disto é a toda-poderosa Disney, tal é a falta de investimento (prático) visível. Pense-se na cena final, quando todos os "objectos" voltam a ser humanos e analise-se o pobre cenário em que isto acontece... pois parece que foi algo feito demasiado à pressa. 

Mas este sentimento não é novo para mim nos live action da companhia, pois já em 2014 senti o mesmo com o filme Maléfica. Adorei a nova perspectiva sobre a história de A Bela Adormecida (da qual nunca fui grande fã) mas detestei o aspecto desinspirado de certos momentos. 

Apesar de ter melhorado bastante neste revisitar de A Bela e o Monstro, fica a esperança de que futuramente se invista realmente a sério em trazer um filme épico em todos os sentidos e não apenas uma avalanche de altos e baixos mascarada perfeitamente no reviver saudosista de uma geração.

De 0 a 10, dou-lhe 7 estrelas

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