segunda-feira, 17 de abril de 2017

Podia ficar




"Tu podias ficar".

É a frase que mais ouvi e mais vi nos olhos de quem se preocupa comigo e me queria ao seu lado. Nestas vésperas de ir embora e seguir outros sonhos é isso que mais escuto.

E é claro que sim, eu podia ficar. 

Podia evitar as despedidas e deixar-me estar no lugar de (quase) sempre. Podia perfeitamente não ter que passar por aquele imenso trabalho de fazer as malas e escolher todas as t-shirts de que mais gosto, mesmo sabendo que no fim nem vai caber tudo nos limites restritos da companhia aérea. 

Também fugiria ao peso das datas em que já não estarei por cá. No outro dia, ao caminhar pela rua, vi o cartaz de um evento onde queria mesmo ir e depois... a data. "Esquece. Já não estás cá", disse a mim mesmo enquanto revirava os olhos naquele recordar de que estou constantemente a passar por isto.

Mas porque quero. A minha mãe costuma dizer que desde que saí de casa, quando fui para a universidade, nunca mais me deixei ficar por muito tempo no mesmo sítio. 

Hoje já perco as contas sobre quantas vezes fui e voltei, de quantas malas desfiz, de quantos lugares quis conhecer pela primeiríssima vez sempre naquele misto de esperança e confusão sobre todas as novidades, os novos hábitos, novas pessoas... e até novas línguas. 

É óbvio que é incomparável o que foi ir viver para a Covilhã e o que foi voar até Forlì na Itália, só para pegar em dois exemplos.

E mais incomparável será este novo passo, que é voltar a Itália mas abraçando um projecto totalmente diferente de tudo o que já fiz.

Às vezes surge um leve sentimento de culpa, o de saberes que vais deixar outra vez tudo o que é teu, para procurares, sabe-se lá onde, algo mais que te venha a pertencer.

Mas depois lembro-me que a vida é tão curta para não correr atrás da aventura enquanto tenho condições para o fazer. E compreendo quem quer ficar, tal como tento compreender as mil e umas razões para eu não o fazer. Uma delas é bastante espiritual ou metafísica, tão forte quanto haver um ser que quer procurar novas energias que lhe tragam outro equilíbrio. 

E nesse equilibrar pesarão todas as saudades que irei ter. Aquela falta da família, dos amigos e da minha irmã vai voltar, mas com ela deverei (uma vez mais) aprender a conviver. Aprende-se tanto, mas tanto com isso. Digo-o com bastantes anos de experiência, posso até fazer um CV sobre isso se quiserem.

Mas como não tenciono escrever aqui um livro sobre o assunto, correndo o risco de justificar ainda mais esta leve loucura, rendo-me então a uma música italiana que diz muito sobre isto. Arrisco aqui uma pequena tradução que diz assim:

"Leva-me daqui
de cada ângulo de tempo onde não encontro mais energia.
Amore mio, leva-me daqui
se houver um muro demasiado alto para ver o meu amanhã
e me encontrares aos seus pés com a cabeça entre as mãos.
Leva-me, se entre tantas vias de saída eu me pergunto qual será a certa.
Quem sabe qual é?
É imprevisível". 

É... Imprevisível devia ser o meu nome do meio. :P









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