terça-feira, 25 de abril de 2017

O mundo pode ser um lugar horrível



"13 Reasons Why conta a história de Clay Jensen, um rapaz que encontra na porta da sua casa um misterioso pacote com o seu nome. Dentro, descobre várias cassetes áudio. Ao ouvir dá-se conta de que elas foram gravadas por Hannah Baker, uma amiga que cometeu suicídio. Nas cassetes, Hannah explica que existem 13 motivos que a levaram à decisão de se matar. Clay é um desses motivos. Agora ele terá de ouvir tudo até o fim para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento." (Wikipédia)

SEM SPOILERS


Ironicamente, a questão que tinha sempre era "Porquê?", exactamente o título assim escancarado na minha mente. Por que é que a Hannah tinha decidido morrer? As razões (as 13 cassetes) iam sendo reveladas e eu sabia que tinha que haver algo pior, muito grave, para o justificar. Quando chegas aos episódios finais só dá para ficares destruído, num limbo qualquer entre a realidade e a ficção.

Não é uma série que possa aconselhar vagamente a alguém. Vê, mas só se estiveres emocionalmente e psicologicamente preparado/a para o fazer. Há cenas demasiado fortes, que podem despertar sentimentos terríveis, principalmente a quem já passou ou está a passar por algo semelhante (como uma depressão). Mas por outro lado este é um trabalho excelente sobre a necessidade de chamarmos a atenção para um assunto tão delicado como o suicídio. E não só. Não quero fazer spoilers, mas há aqui tantos assuntos que são explorados de uma forma brutal.

Disseram-me que não devíamos permitir que jovens vissem esta série sozinhos. E há alguma verdade nesse erro de não querermos expô-los a estes temas. Mas talvez o devam então fazer com os pais, professores, amigos, etc. Talvez não seja apropriada para quem esteja a viver momentos em que questiona a sua própria existência. E o suicídio é afinal um tema de que ninguém sabe falar. Ninguém consegue falar-te directamente disso. E quando tu o fazes, é mais fácil camuflar e "get over it". E até isso é literalmente retratado num episódio.

Aconteceu comigo o mês passado. Estava num auditório a apresentar o meu livro "Deixa-me Ser", onde falo abertamente da minha tentativa de suicídio, e quando tirei um momento para falar disso à centena de alunos e professores ali presentes, instaurou-se logo um silêncio congelante. A minha confissão, o meu "sim, eu fiz isso" caiu como uma bomba que alterou subitamente as suas expressões, colocando-me logo naquele papel de não saber se devia insistir para ver se obtinha outra reacção ou se devia simplesmente fazer uma piada ligeira e avançar para outro assunto um pouco mais confortável.

Adivinha o que fiz.

Mas a verdade é que o assunto ficou lá, como algum alerta, não tenho dúvidas disso. 

E 13 Reasons Why deve ser vista exactamente como esse alerta, esse grito de compreensão e que apela a um trabalho conjunto mais eficaz entre filhos, pais, professores, psicólogos e... autoridades. 

Por vezes temos que chocar assim de frente com o realismo para sermos capazes de nos entender a tempo, sim, antes que seja tarde demais.




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