domingo, 6 de setembro de 2015

Como é possível?



Espera. Pára tudo.

Como é possível que ainda haja tanto sem-abrigo em Portugal se afinal havia tanta gente disposta a levar um para casa?

É que de repente só vejo pessoas a defenderem que se apoie os sem-abrigo, em detrimento de se apoiar os refugiados. Se sempre foram tão preocupados com os sem-abrigo, porque é que não agiram para o seu bem? Porquê só agora? Se é que estão realmente a fazer algo por isso... para além de escreverem comentários inúteis a toda a hora nas redes sociais. E até tenho uma novidade para vos dar: Esses comentários de ódio tiraram até agora zero pessoas da rua. Zero.

É que isto da solidariedade (ou lá o que lhe quiserem chamar) tem que ser assim: ou apoias um ou apoias outro (pelo menos pela forma como se expressam…)

Não podes apoiar os dois.

Deve ser como o futebol, ou és do Benfica ou és do Sporting. E calou.

Falando nos sem-abrigo, posso dizer que já dei roupa, já dei comida… já dei até alguns momentos de conversa a um senhor que vivia na rua e que costumava sentar-se no mesmo banco de jardim que eu, numa cidade onde vivi. Mas, por muito que desse, senti sempre que não dava tudo, pois não conseguia. Ninguém, instituição ou pessoa, ninguém consegue.

Quando me passa pela cabeça ajudar os refugiados, de qualquer forma, não me passa pela cabeça que todas as outras pessoas, a precisar de ajuda, se lixem todas.
Não misturem as coisas. Não sejam hipócritas. E não me chamem hipócrita. Não tenho que me justificar a ninguém, mas se há coisa que já fiz e muito na vida foi isto: ser voluntário.

Também já fui desempregado, também já chorei por isso e até já vi o drama da fome entrar pela casa adentro de pessoas que me são muito mas mesmo muito próximas. Também eu vou sair do meu país em breve, porque assim o decidi, porque assim achei que devia agir face às condições que aqui me dão. Vou para outro país, outra cultura, outros hábitos. E espero ser bem recebido. Não sou adivinho, não sei o futuro. Sei lá se um dia também terei que fugir… se um dia não terei outra alternativa.

Se esse dia vier, espero que façam por mim o mesmo que eu quero fazer pelos outros agora. E se esse dia não chegar, ainda bem. O sentimento de ter lutado por um bem maior ficará cá, sempre.

3 comentários:

  1. Boa malha, Fi!
    É verdade que haverá sempre quem sinta que outros estão a ter/ vão ter o reconhecimento que, afinal, já seria devido a outros, que ressentem, nesta altura, com maior acuidade o sentimento desagradável da injustiça - um antigo aluno meu, bombeiro, ajudou os colegas de turma a entenderem isso muito bem.
    Mas há também, na verdade, agora muitos que são como aquelas crianças que tiveram sempre um brinquedo ali à disposição, nunca quiseram brincar com ele, e agora que chega outra criança e que quer brincar com esse tal brinquedo, reclamam porque era precisamente com esse brinquedo que queriam brincar!

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  2. Com este texto, acabas de ser um ídolo, para mim.
    Parabéns!

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    1. Wow... Obrigado pelas palavras!! Ainda bem que gostaste, Cátia. :)

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