segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiador



Quando eu era ainda criança e andava a aprender a andar de bicicleta, quiseram mudar-me para as bicicletas maiores, mas eu tinha receio de cair. Por isso, um amigo, que já tinha mais idade, disse que ia ensinar-me e empurrar enquanto eu pedalasse. Disse-me que ia sempre segurar-me pelo banco para que eu não tivesse medo. Certo dia, estávamos numa estrada extensa, que era uma grande recta assustadora, parecia não ter fim. Montei-me na bicicleta maior, comecei a pedalar e ele sempre a agarrar-me o banco a correr mesmo atrás de mim, para que eu não caísse. Continuei, sempre em frente, mais rápido, mais estável, sem medo de cair. E ele sempre a segurar-me. Não. Afinal não. Já não estava a segurar-me.
Quando olhei para trás e percebi isso, perdi o controlo e quase caí, porque voltei a ter medo.
A verdade é que eu já sabia andar assim sozinho e foi isso que ele quis mostrar-me. Quando não temi, quando senti que alguém estava a proteger-me de cair, consegui ir em frente sem qualquer dificuldade.
Anos mais tarde percebi que desse pequeno gesto podia tirar uma grande licção para a vida.
Tal como para aprender a andar de bicicleta temos que deixar o medo de lado, também noutras situações da vida temos que o fazer se quisemos seguir em frente. Para não hesitares, imagina que está alguém sempre ao teu lado a segurar-te. E continua a guiar em frente, pedala com mais força ou mais devagar conforme as subidas e descidas. Podes até atrever-te e fazer algumas acrobacias. E se em algum momento te desequilibrares, é normal, faz parte do percurso. Atenção às pedras na estrada, aos caminhos de terra e aos dias de calor intenso. Podem cansar-te. E deves cansar-te, tens esse direito.

Desde que voltes sempre a seguir em frente.

Desde que não tenhas medo.

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