quinta-feira, 7 de maio de 2015

Isto de andar sozinho - 1


Decidi que precisava de uns dias, sozinho. Decido isso muitas vezes. Não é que não goste de estar acompanhado, mas isto de andar sozinho tem algo especial que poucas pessoas compreendem.
E eu dou-me muito bem comigo próprio, se é que se pode assim dizer. Decidido assim, marquei de um dia para o outro aquilo a que chamei “Alentejo Road Trip”.
O Alentejo é a região que mais me seduz no nosso país, e havia uma parte dele que ainda não conhecia. Já tinha ido até Portalegre, Beja, Évora, Ponte de Sor, Marvão e a outros tantos sítios alentejanos, mas nunca tinha avançado até Estremoz ou Elvas, por isso procurei uma estadia barata e boa (e acreditem que mais barato era impossível). Fiz-me à estrada.


Tive que parar três vezes pelo caminho. Não por cansaço ou outro problema, mas porque a paisagem da planície me obrigou a isso. Fiquei alguns minutos num local à beira da estrada só a inspirar o ar quente e abafado que a terra para além do Tejo sempre nos traz. Mas lá cheguei a Elvas. Aqui estamos bem longe do mar e isso nota-se só ao respirar.




Ao chegar à minha estadia, deram-me um mapa turístico, mas deixei-o no quarto. Vim sem ele, sem qualquer guia, sozinho à descoberta. Encontrei logo sítios fantásticos (podem conferir pelas fotos que tirei). Não é difícil, já que Elvas, a cidade fortaleza, tem História em cada esquina.
Vim ao centro Histórico e ao estacionar o carro fiz logo uma amiga. Diz-me então a senhora velhota da janela da sua casa caiada de branco: “Ó filho na estacione aí, que se paga. Ponha aqui à ‘nha porta que na faz mal nenhum.”
Ficámos logo a conversar os dois e até fiquei a saber de um caso de polícia aqui da cidade, que “veio no jornal e tudo”. Mas que na tenha medo”, que ninguém me faz mal. Faz de conta que sou daqui. Lá me despedi da senhora. 


Mais tarde, dados alguns passos por ruas estreitas abaixo, entrei numa igreja magistral, assisti a umas obras de reconstrução e ao ensaio do coro (ao mesmo tempo). Porque quando se vem sem mapa, tudo parece acontecer mais naturalmente.




Agora estou numa esplanada aqui do centro a escrever. E a observar as vidas que aqui passam, a ouvir o sotaque que aqui se pronuncia. Porque é assim que se vivem os sítios.
Amanhã talvez traga o mapa. Ou talvez vá a Badajoz, já que está ali mesmo à vista e bem que que preciso de treinar o meu español.




1 comentário:

  1. Acabo de ler este teu texto sobre " Além Tejo " a incursão e visita detalhada a Elvas. Impressionante a tua descrição o teu sentir nessa visita !
    Parabéns por este magnífico texto

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